Relapsus.

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A hispânica pressionava seus dedos trêmulos ao redor do vaso, colocando tudo para fora a não ser um líquido de gosto amargo.

Bile e suco gástrico. Pensou consigo.

Ela quase conseguia sentir as células sanguíneas serem quadruplicadas por milímetro cúbico, de tão fracos que estavam seus braços. Ela sentia um desconforto horrível no abdômen, se sentia exposta naquela região, como se alguém estivesse apontando mil facas para a sua barriga e a qualquer momento, pudesse de fato atingi-la. A sensação de vulnerabilidade nunca a agradou, não gostava de fraqueza.

Hipócrita.

Ela era a própria fraqueza em forma humana, um imã de riscos ambulante. Precisava trocar de tática, bancar a cientista durona e bêbada já estava se esvaindo de seu personagem há muito tempo.

- Você merece uma porrada. - Disse para si mesma, grogue.

Com o mesmo braço que estava esticado ao redor do vaso sanitário - e que tinha sua cabeça escorada, pois não tinha forças para erguê-la -, capturou com a mão alguns lenços que trouxera consigo. Limpou sua boca, fazendo uma careta de desaprovação.

Ela houvera escapado do corpo de Camila há alguns minutos. Acordou com náuseas no meio da noite, um efeito colateral da abstinência.

Mesmo jogada no chão do banheiro do quarto, ela estava praticamente insana, louca por um golinho de cerveja.

Seus olhos se fecharam.

- Feche os olhos, querida. - Pediu ele, próximo da cama.

- Eu tenho medo da tempestade, papai. - Respondeu. Os olhos verdes regados de lágrimas.

Mike sorriu de canto, e se sentou ao lado da filha.

A tempestade lá fora era feia, tanto que até ele estava assustado. Conseguia imaginar o nível de pavor que sua filha estava.

- Eu também tenho. - Comentou, puxando as cobertas para tapá-la. - Mas sabe o que é legal? Eu sempre imagino que eles estão jogando boliche lá no céu. E que os raios, são flashes de câmeras.

A pequena deu uma leve risada. Ela gostava de câmeras, e de fotografias.

- Quem está lá no céu? - Colocou as mãos na barra do edredom, fazendo uma careta quando um raio clareou o quarto.

- A vovó. - Afirmou, levando sua mão grossa até os cabelos negros da filha. - Consegue imaginar ela jogando boliche? - Indagou, acariciando sua cabeça. O trovão fez os dois pular de susto.

- Vovó é péssima! - Riu. Mas rapidamente seu sorriso se desmanchou. - Eu sinto falta da vovó.

- Eu sei, querida. - Comentou baixinho, suspirando. - Mas ela está bem lá em cima, com ele.

- Ele quem? Vovó tem um namorado? - Questionou, coçando os olhos que estavam agora levemente úmidos.

- Não. - Riu. - Deus. - Respondeu, virando o rosto para olhar a filha. - Ele está cuidando da vovó.

- Ele também cuida de nós? - Perguntou, quase ignorando os raios e trovões lá fora.

- Sim, anjo. Ele sempre cuida. Ele nós observa, e sempre nos dá força quando precisamos. - Os olhos verdes da pequena praticamente fechavam. Mike sorriu e cantarolou. - Fique tranquila, não precisa se alterar... Apenas respire que o medo irá passar...

Ele beijou a testa da filha, sussurrando um "eu te amo" assim que viu os olhos verdes descansarem em seu próprio exílio.

- Que o seu Deus vá se danar, Mike. - Soluçou a hispânica, levando a garrafa de cerveja até os lábios.

When The Devil Calls - Short Fic (Camren)Where stories live. Discover now