Frederick IV

36 3 8
                                    

Frederick ainda pensava no olhar distante da mãe enquanto seguia Sir Eularys por um corredor estreito e escuro. Desviando de pequenos blocos de pedra, percebeu que Eularys, vez ou outra, olhava rapidamente para trás. Imagino que não queira ninguém nos seguindo. Viraram algumas vezes; era impossível dizer ao certo qual direção seguiam. Pararam. Dando passadas curtas, entrou em uma sala iluminada por tochas fixadas nas paredes de pedra. Passou os dedos pelas paredes secas, sentindo a poeira penetrar em seus dedos. Sons estridentes por vezes faziam o lugar tremer de forma violenta. Pequenos pedregulhos de calcário caiam do teto sobre a cabeça de Frederick.

- Onde estamos? - perguntou, enquanto analisava estantes vazias empoeiradas. Pergaminhos amarelados caíram da prateleira quando o lugar estremeceu novamente. Aquele local era seco e infestado por traças. Aparentemente ninguém havia limpado o lugar há tempos. Um livro com o símbolo de uma árvore com folhas triangulares estampado na capa chamou sua atenção. Não reconhecia a origem do símbolo, embora não fosse totalmente estranho. Curioso, abriu-o, e conforme passava as páginas, ponderava sobre o dialeto estranho que as preenchiam. Não se assemelhava em nada com a língua dos homens, tampouco com a língua antiga. Por que um livro como esse está largado por aqui?

- Estamos embaixo das caldeiras que aquecem as termas imperiais. Só soube desse lugar após o regresso do jovem Tunks - admitiu Eularys -, mas o imperador fez questão de que eu o mostrasse somente ao senhor. Vamos, o escudeiro repousa mais abaixo.

Frederick olhou para a direção indicada por Eularys e viu algumas escadas que levavam para uma parte subterrânea. Por que Tunks está nesse lugar? Ainda sem respostas, Frederick guardou o livro sob as vestes e acompanhou o cavaleiro. Perguntaria depois para maltrier Issen sobre os símbolos e desenhos espalhados desordenadamente.

O calor aumentava à medida em que desciam. Frederick sentia a respiração ofegante passar pela boca. Estava ansioso. Faria dezenas de perguntas a Tunks; a primeira delas, claro, seria sobre Aleksander. Quando Eularys contou sobre o regresso do pequeno escudeiro, Frederick não conseguiu evitar que um sorriso invadisse a face. Se um garoto franzino sobrevivera, o príncipe certamente estava bem. Afinal, sempre quando saíam para caçar, Aleksander sabia lidar com a natureza como ninguém. Planejava as rotas, organizava os armamentos e não se importava em sujar as vestes reais. Nunca se sentia perdido ao seu lado.

Quando finalmente chegaram ao fim dos degraus, encontraram uma porta de madeira de pinho - com a parte inferior destroçada por cupins. Atrás dessa porta estão as respostas para minhas perguntas.

Eularys bateu duas vezes, em seguida, mais duas. Não demorou muito para que uma pequena abertura revelasse dois olhos azuis apreensivos empurrados por uma testa enrugada. Era Sir Bartios, um ex-mercenário de braços fortes e tranças castanhas que desciam até as costas.

- Oh! São vocês. - O barulho de cadeados e trancas abertos por Sir Bartios revelavam preocupação em proteger o pequeno escudeiro. Mesmo fazendo parte da guarda do imperador, não trajava armaduras ou roupas de cor azul. Usava uma camisa branca de gola aberta e o velho lenço vermelho de sempre. - Estão sozinhos?

- Sim - Frederick respondeu.

O ambiente era iluminado por alguns candelabros. No canto à esquerda, havia duas caixas lotadas de livros velhos, armaduras e outras coisas amontoadas pelo chão do lugar. Era difícil andar ali sem pisar em algo. Aparentemente, objetos sem serventia eram jogados ali. Sentiu-se como um fugitivo em uma expedição marítima tendo que se esconder no pior local do navio para não ser visto.

Dando um passo à frente, viu Gregory de pé ao lado da cama onde Tunks repousava. Fitando o corpo sobre a cama, Frederick ficou horrorizado. Havia se lembrado dele, era o garoto que Aleksander prometera transformar em um grande cavaleiro. Mas, agora, parecia uma criança frágil, como se tivesse regressado do pós-morte. O cabelo longo caia pelos ombros tensos e os braços e dedos se assemelhavam com ossos de galinha. Mas o pior eram os olhos, fundos e sem vida, que encaravam o vazio.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 27, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Herdeiros - O Último ComandoOnde histórias criam vida. Descubra agora