Prólogo

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    Escuridão.

    Era tudo o que viram após passarem pelos vagalumes, que queimavam como fogo e iluminavam a entrada do lugar. As árvores formavam uma trilha sombreada, deixando o caminho solitário. Suas folhas, quase negras devido a ausência de luz, balançavam em sincronia. Tunks jurava que estava vendo grandes olhos amarelos dentro do oco dos troncos e eles pareciam acompanhá-los durante todo o trajeto. Mas poderia ser apenas a sua mente criando paranoias.

    Sentiu o vento frio bater em seu rosto enquanto segurava firmemente as rédeas do cavalo. Perdeu completamente a noção do tempo e não tinha o sol para se orientar, uma vez que a floresta, tão fechada, parecia os engolir com suas árvores de troncos encurvados. Tinha a estranha sensação de estarem andando em círculos; mesmas pedras, mesmas árvores... Não importava o quanto andassem, não conseguiam sair dali.

    Ou talvez a Floresta Negra estivesse brincando com eles. O nome definitivamente fazia jus ao lugar amaldiçoado por todos. Viajantes costumavam dizer que, uma vez dentro da floresta, se tornava impossível sair. Os poucos que conseguiam tal feito recebiam o apelido de abençoados, pois eram vistos como pessoas que ainda possuíam um papel importante nessa vida.

    Uma grande ironia, já que a maioria deles voltava fora de si.

    Tunks conseguia ver o vapor saindo de seus lábios carnudos enquanto respirava pela boca. O ar frio entupiu suas narinas e fez seus pulmões arderem. Rangendo os dentes, percebeu o decair da temperatura. A fim de proteger suas orelhas, colocou o capuz carmesim sobre a cabeça e olhou para o lado, onde o Príncipe Aleksander cavalgava elegantemente. Ficou surpreso ao ver que ele não parecia se incomodar com o frio, visto que não havia colocado as luvas negras e o manto ainda estava estático nas costas. Ao contrário da graciosidade do príncipe, Sir Trehane e Sir Berthille já estavam usando as grossas peles de urso feitas pelos costureiros de Berkana. Mesmo assim, os cavaleiros davam tremeliques a cada rajada de vento.

    — Há quanto tempo estamos aqui? — perguntou Trehane, com a voz trêmula.

    — Quem sabe? É impossível saber de algo nessa escuridão. — Berthille franziu o rosto e puxou o casaco para frente. Suas bochechas gorduchas estavam começando a ficar vermelhas; demonstrava certo desconforto ao esfregar o traje peludo sobre os ombros.

    O grupo voltava de um encontro formal em Telwaz. Aleksander havia ido a pedido do pai vistoriar as minas de ouro negro do reino do leste e fiscalizar se estavam contribuindo corretamente com os impostos.

    Graças a paz que reinava no império, era possível que o príncipe viajasse com poucos soldados o escoltando. Mas, mesmo com a aparente tranquilidade, decidiram percorrer o caminho de barco para evitar ataques de mercenários pela estrada. Além disso, era uma viagem mais rápida, apesar das ondas provocarem ânsia de vômito em Sir Berthille. O barco possuía ótimos aposentos, especialmente por causa da presença de Aleksander. Conforto, refeições e descanso foram bem aproveitados pelos quatro viajantes. No caminho de volta, depois de cinco dias de estadia em Telwaz, voltaram para o mar. Graças a longa jornada marítima, já cansados, optaram por passar a noite hospedados em uma estalagem de Cadia, pequeno vilarejo do reino de Berkana, onde situava o porto principal do império. Infelizmente, dois dias após saírem de Cadia, começou a chover forte. O céu havia escurecido e as pesadas gotas que caiam sobre suas cabeças fizeram com que se desviassem da rota principal e seguissem por uma pequena trilha na direção oposta, o que acabou os levando direto para a Floresta Negra.

    — Devemos parar. Estamos cansando os cavalos sem propósito algum — disse Príncipe Aleksander, passando a mão nas crinas negras de seu cavalo, enquanto o animal bufava como se concordasse com as palavras de seu montador.

Herdeiros - O Último ComandoOnde histórias criam vida. Descubra agora