DEZ

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Eu nunca havia me sentido tão mal na minha vida, como estava naqueles últimos dias.

Minha aparência nunca me incomodara tanto quanto naqueles últimos dias.

Nunca me senti tão rejeitada como naqueles últimos dias.

Aqueles malditos dois últimos dias.

Dois dias que Daniel tinha dito que ficar comigo seria muito mau gosto, dois dias em que eu fiquei remoendo e me sentindo péssima. E a única coisa que poderia me animar um pouquinho, eu já fazia todos os dias.

Eu já me preocupava em me arrumar, em andar com os cabelos sempre limpos e bem cuidados, com as unhas bem feitas, com roupas em bom estado, raramente usava tênis e nunca saía de casa sem maquiagem. Nunca tive problemas com a minha aparência e tudo o que podia pensar naqueles últimos dois dias era que eu poderia ser um pouco mais alta, um pouco mais magra, meus cabelos poderiam ser um pouco mais claros, ou mais curtos, meu nariz podia ser um pouco mais fino, meus lábios um pouco mais cheios, meus seios um pouco menores.

E o que me irritava profundamente, era que todos esses pensamentos se apoiavam na opinião de Daniel.

Ok, ele era lindo, mas era só um garoto idiota e infantil que parecia ter estacionado na terceira série.

Ele era pegável, mas nada na minha vida iria mudar se eu nunca o beijasse. Seria só mais uma boca para beijar. Ainda que uma boca gostosa, seria só mais uma boca.

Rolei na cama pela vigésima vez e resolvi me levantar quando vi que não iria mais conseguir voltar a dormir. Ainda faltavam algumas horas para a escola e eu poderia aproveitar esse tempo para voltar a ficar em paz com a minha aparência.

Acendi a tela do celular, só para ter certeza que não iria tropeçar na cama de Angie. Meu quarto estava interditado após ter uma das paredes pintadas. A propósito, Angie tinha feito um excelente trabalho, a pintura havia ficado ótima e eu nem tinha precisado me sujar de tinta.

A casa estava silenciosa e andei apressadamente para o quarto, onde eu poderia ascender a luz. O cheiro da tinta já estava fraco e eu esperava dormir ali naquela noite. Não que não tivesse sido divertido ficar no quarto de Angie, mas eu odiava dormir no chão, tinha medo de baratas e ratos ou qualquer outro animal nojento que poderia surgir.

Separei minha roupa, peguei minha nécessaire e fui para o banheiro.

Abri a porta bruscamente e parei com a boca levemente aberta.

Daniel estava no banheiro só de toalha, em frente ao espelho mexendo nos cabelos molhados, ele olhou em minha direção e ergueu uma sobrancelha.

— Não sabe bater? — ele perguntou alto o suficiente para que eu escutasse.

— Não sabia que o banheiro estava ocupado — respondi e olhei rapidamente para o chão, tentando não olhar para seu tronco nu e úmido, só tentando.

From Prada To NadaWhere stories live. Discover now