elogio à sombra

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Escrever é arte ingrata

Que nos concede clarividência e depois nos amordaça.


Escrever é arte maldita

Que embrenha palavras em mandalas.


Escrever é jogo ganho

Nessa realidade dissimulada que te engole de uma só bocada.


Escrever é amar ideias vadias

Que te abandonam para depois voltar, sentar à mesa e pedir água e comida.


Escrever é agonia repartida

Entre coisas impossíveis de se nomear.


Escrever é carrasco

Que te exige vencer antes mesmo de começar.


Escrever é hastear desafio no sorriso

De quem tem a fé de ser o que um dia será.


A sina do poeta

É a de cantar sem ter quem o escutar.


Eu, também, rouca de gritar,

Escolho abraçar sombras.

Uma a uma, eu as reconforto.

Lavo suas roupas e as troco.

Acendo o fogo, lhes dou abrigo,

Batizo-as com nomes.


E depois as chamo para subirem comigo

O espiral de escadas da torre de marfim.

E na altura de meu tormento

Elas se inscrevem em mim.

Na Companhia da PoesiaWhere stories live. Discover now