Escrever é arte ingrata
Que nos concede clarividência e depois nos amordaça.
Escrever é arte maldita
Que embrenha palavras em mandalas.
Escrever é jogo ganho
Nessa realidade dissimulada que te engole de uma só bocada.
Escrever é amar ideias vadias
Que te abandonam para depois voltar, sentar à mesa e pedir água e comida.
Escrever é agonia repartida
Entre coisas impossíveis de se nomear.
Escrever é carrasco
Que te exige vencer antes mesmo de começar.
Escrever é hastear desafio no sorriso
De quem tem a fé de ser o que um dia será.
A sina do poeta
É a de cantar sem ter quem o escutar.
Eu, também, rouca de gritar,
Escolho abraçar sombras.
Uma a uma, eu as reconforto.
Lavo suas roupas e as troco.
Acendo o fogo, lhes dou abrigo,
Batizo-as com nomes.
E depois as chamo para subirem comigo
O espiral de escadas da torre de marfim.
E na altura de meu tormento
Elas se inscrevem em mim.
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Na Companhia da Poesia
PoetryPoemas sobre sonhos, sobre inquietações, sobre celebrar as pequenas alegrias, sobre se assombrar um pouco, sobre provocar um tanto. Principalmente, sobre se viver poesia. A imagem de capa é um detalhe da tela A Primavera, de Botticelli, c.1482. No d...