Wit beyond measure is man's greatest treasure

760 78 0
                                    



A primeira reação de Hermione foi virar-se para olhar o fantasma da Torre da Corvinal em uma tentativa de ver se ela sabia o que estava acontecendo. Helena, no entanto, alternava entre olhar a garota e o homem, não parecendo surpresa, mas curiosa. O mesmo brilho que a bruxa via nos olhos de Ollivander, aquele brilho cheio de fascínio e sede de conhecimento, iluminava os olhos claros de Ravenclaw.

"Acho que deviam aproveitar o pouco tempo que resta," disse Helena, lentamente. "Voldemort estipulou um prazo até a meia noite. Aproveitem esse tempo."

Lançando um último olhar cheio de expectativa na direção de Hermione, o fantasma flutuou ao longo do corredor, parando ao lado do homem por um momento e o encarando de tal forma que fazia parecer que uma conversa silenciosa era travada ali. Quando Helena Ravenclaw finalmente sumiu de vista, o bruxo ficou encarando o nada por um longo momento, antes de acenar para a garota e começar a andar.

Sem ter como responder, Granger apenas o seguiu. Apressando o passo para conseguir acompanhá-lo, a garota atravessou vários corredores e escadas, encontrando alunos de olhos arregalados sendo evacuados com a ajuda de professores ou monitores. Ela só notou aonde estavam indo quando entraram no corredor do segundo andar, mas não falou nada enquanto entrava no banheiro feminino e ouvia o homem murmurar um feitiço contra a porta.

"Quem é você?" perguntou Hermione, apertando a varinha entre os dedos e a erguendo, apontando-a diretamente para o rosto impassível do bruxo, que apenas arqueou uma sobrancelha.

"Abaixe a varinha, Hermione," ele falou, como se não estivesse sendo ameaçado, antes de se recostar contra uma das pias.

O banheiro estava, como sempre, vazio. Pela janela, o brilho dos feitiços protetores que estavam sendo colocados ao redor do castelo iluminava o aposento, fazendo as pedras do chão e a porcelana das pias brilharem em cores diferentes. O homem, encostado contra a pia e com o rosto abaixado, pensativo, tinha parte de suas feições escondidas na sombra, mas metade de seu rosto ainda era iluminada pelos feitiços do lado de fora: o nariz reto, a boca fina, a pele pálida com algumas sardas, as sobrancelhas escuras franzidas, as rugas ao redor dos olhos azuis claros.

"O que você quer?" a garota insistiu, ainda com a mão erguida. "Precisamos ir ajudar. Você ouviu Voldemort-"

"E você ouviu Helena, não?" O homem respirou fundo e deu as costas para ela, olhando o próprio reflexo no espelho.

Parada no meio do banheiro feminino do segundo andar, Hermione Granger observou aquele estranho por alguns longos minutos. Havia alguma coisa no silêncio que a fazia não deixar um feitiço sair de sua varinha e o atingir, alguma coisa na forma como os ombros do desconhecido se arqueavam enquanto ele se apoiava na louça da pia e como sua cabeça pendia, os cabelos escuros se desprendendo do penteado em alguns pontos. Ela viu, pelo reflexo, como ele respirou fundo e engoliu em seco, fechando os olhos e franzindo o cenho, como se estivesse se concentrando.

Onde ela já havia visto aquilo?

Outra noite escura, dentro de um quarto iluminado apenas pelo brilho amarelado das lamparinas de Londres, lhe veio à mente. Naquela ocasião, não havia pias nas quais se escorar, mas ela se lembrava dos ombros de um rapaz se arqueando da mesma forma, tensos, enquanto os olhos dele eram fechados com força como se ele tentasse esquecer alguma coisa. Ela se lembrava da forma como os nós das articulações dos dedos daquele garoto ficavam esbranquiçados enquanto ele apertava os próprios joelhos à medida que colocava para fora confissões e mais confissões, da mesma forma que as articulações daquele bruxo se destacavam quando ele segurava a borda da pia.

Kolybel'nayaOnde histórias criam vida. Descubra agora