Reticência... DEGUSTAÇÃO

Capítulo 11 DEGUSTAÇÃO - LIVRO COMPLETO NA AMAZON

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 Ricardo estava imóvel ao ver a cena de Bia chorando, sentada no sofá da sala. Ele nunca tinha lidado muito bom com estas situações. Geralmente quando a irmã chorava, Ricardo dava um jeito de conseguir o que ela queria de um modo ou de outro, ou então, quando não era relacionado a nada material, deixava que Fernanda assumisse a situação. Ela sempre fora mais diplomática e a mediadora entre os irmãos Chiarelli.

Mas ao ver Beatriz naquele estado o deixou em pânico. Realmente ele não tinha ideia nenhuma do que fazer, ou se devia se aproximar. Liana geralmente ameaçava jogar alguma coisa caso se aproximasse demais. E ela tinha uma mira excepcionalmente perfeita.

Bia limpou as lágrimas ao escutar que ele havia chegado e disse que estava tudo certo, porém Ricardo não acreditou na palavra dela.

Rompendo a barreira segura, que Liana sempre impusera, Ricardo se aproximou de Bia. Sentou ao seu lado no sofá e a abraçou de lado. Gostava de Beatriz, conhecia ela desde que nascera, por assim dizer. Se olhar nos antigos álbuns de fotos, da época em que eram pequenos, Bia sempre estava no meio, ou Ricardo e Liana nas fotos dela. Sem contar naquela icônica foto que ambas as famílias tinham com os três tomando banho de mangueira e pelados. Aquela foto era o motivo de vergonha dos três e sorrisos nostálgicos dos pais de Bia.

─ Está tudo bem, Bia. ─ Falou calmamente, assim como toda a sua família falava para ele.

Era clichê, mas altamente funcional em momentos de desespero como aquele. Toda a pessoa que está triste, por qualquer motivo que seja, se sente melhor ao ser abraçada e escutar que tudo estava bem. As palavras tinham um poder quase que instantâneo, e se não funcionasse na hora, abria um caminho melhor à frente.

─ Eu sei, ─ ela tentou se recompor e não conseguiu. ─ Eu sei. Só que às vezes... ─ Ela suspira e se escora no ombro de Ricardo.

Ok, isso não era nada assustador. Ricardo já tinha ficado encostado em Bia por um bom tempo nos ensaios do CTG. Mas aquilo era para dançar, ensaios e mais ensaios para terem uma apresentação perfeita e sem erro nenhum.

Só que essa situação era completamente diferente de todas. Não havia música envolvida, ou até mesmo a conversa, risos dos outros casais repetindo o mesmo passo. Era somente os dois, na penumbra da sala do apartamento com Beatriz em um estado de choro.

Realmente muito estranho para Ricardo entender.

─ Às vezes eu sinto como se tivesse perdido o rumo da minha própria vida. ─ Ela voltou a falar.

Ricardo estava parado, praticamente sendo um poste para que Bia se escorasse.

─ Há poucos dias eu estava com a minha vida com um rumo certo. Apesar do medo do casamento, sabia que iria me casar, teria a minha casa, começaria a minha família. Thiago decidia tudo por mim e na minha vida. E agora eu vejo que fui uma idiota em deixar ele me comandar dessa forma e ficar em segundo plano na minha própria vida. É como se eu não fosse realmente eu.

Ricardo, ainda se acostumando com a proximidade tão íntima de Bia, conseguiu esboçar um sorriso fraco.

Sim, ele entendia mais do que ninguém a expressão de não ser realmente ele. Sentia-se assim quase todos os dias. Como se vivesse uma vida artificial e programada.

Tudo no seu exato lugar, no minuto exato e sem margem para nada fora do programa. Por mais que gostasse do exímio compromisso por cada coisa, às vezes sentia como se fosse um programa de computador com outra pessoa o manipulando.