Capítulo 7

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− Beth... Beth, acorde. – Elizabeth ouviu Lia chamar, ela era a única pessoa que podia chamar Elizabeth de "Beth" sem ser queimada viva, era uma senhora de confiança e lealdade.

− O que foi, Lia? – ela perguntou, ainda sonolenta.

− Uma visita. Tá esperando pela senhora lá embaixo. – Lia disse, ainda sussurrando, já estava se sentindo mal por ter acordado a patroa, ela sabia que Elizabeth não estava se sentindo bem.

Quando Elizabeth chegou cedo em casa, a coisa mais reconfortante foi ver o sorriso da sua filha, e quando a mãe propôs assistirem a um filme juntas, o sorriso da menina se alargou mais ainda. Elas só não sabiam que cairiam no sono na metade do filme, o que foi até bom para Elizabeth. Levantando cuidadosamente para não acordar a filha que estava com um de seus braços sobre a cintura da mãe, ela prendeu seu robe de seda vermelho sobre o corpo, deslizou a mão sobre os cabelos e foi caminhando em direção à escada.

− Quem é a visita? – Ela perguntou, claramente aborrecida por ter sida tirada de seu descanso. Lia ficou em silêncio. Elizabeth parou e olhou para a senhora. – Lia, quem é a visita? – ela repetiu.

− Er... eu me esqueci de perguntar o nome... Ele é tão bonito, fiquei tão impressionada... – Lia respondeu, ficando levante corada.

Elizabeth revirou os olhos e começou a descer a escada e aí viu a sua visita de costas, olhando para um quadro em cima da lareira. “O que ele tá fazendo aqui?” Ela pensou. Ainda na escada, ela pigarreou para ele notar a sua presença, ele se virou e por um momento pareceu que ficou sem palavras, Elizabeth parecia uma visão com aquele vermelho, seu corpo esbelto, seus cabelos logo abaixo dos ombros, não tão arrumados como costuma estar na empresa, sua postura correta, superior, a figura de Elizabeth esbanjava sensualidade, mesmo que ela não tivesse a intenção. Ben não podia evitar que seus olhos percorressem por todo o corpo dela, até que ele enfim olhou para o rosto de Elizabeth, o rosto feminino estava livre de maquiagem e ainda assim ela estava linda, sensível, tão diferente do que ele costumava ver na empresa. E ela parecia mais saudável, diferente daquela pálida Elizabeth que demitiu Thomas. Ela arqueou as sobrancelhas, aguardando uma explicação da parte dele.

− Hmm... você tem uma bela casa. – ele disse, ainda estava impactado pela beleza de Elizabeth.

− Acredito que você não tenha vindo aqui para falar sobre a beleza da minha casa, Sr. Dane. – ela disse, ao descer o resto da escada.

− Você pode me chamar de Ben, não estamos no trabalho. – ele disse sorrindo.

− Exatamente, estamos na minha casa. – Ela disse se sentando no sofá, sem fazer nenhum gesto para que Ben se sentasse também, ela cruza as pernas, e Ben olha para o corpo dela outra vez, admirando aquelas pernas agora um pouco mais expostas pela posição que Elizabeth estava. Ela vê para onde ele está olhando e por um momento se sente despida, vem aquele arrepio de novo. Ela faz uma expressão séria e torce os lábios, não podia permitir que aquela audácia continuasse. − A que devo a sua inesperada e... audaciosa visita outra vez? – ela perguntou, seus olhos o desafiando.

− Eu precisava...

− É algo relacionado à empresa, Sr. Dane? – ela perguntou o interrompendo. – Se você veio aqui para interceder por Thomas e pedir que eu dê o emprego dele de volta, seus esforços serão inúteis. – ela disse séria enquanto brincava com o cinto do seu robe.

− Não, não é isso. Eu sei reconhecer falhas e ele falhou. Como você disse, era um simples investimento. – ele disse, um tom um pouco mais profissional, mais ainda assim sorrindo.

Elizabeth apenas assentiu com a cabeça, pela primeira vez concordando em alguma coisa com o Ben. Ele ainda não havia respondido o motivo da visita.

– Eu não gosto de ficar repetindo, Sr. Dane. – ela disse, agora um pouco mais impaciente.

− O quê? Ah sim... eu vim aqui porque... – ele começou, passou as mãos pelos cabelos, de repente estava nervoso, preocupado em abusar da sorte e acabar dizendo algo que fizesse a Elizabeth o desprezar. Todos diziam coisas horríveis sobre a empresária, e de fato, ela tinha aquela autoridade, aquele ar superior, as vezes até arrogante, a resposta na ponta da língua, mas Ben não pensava dessa forma, pelo contrário, as vezes ele até conseguia enxergar a Elizabeth como uma pessoa normal, mas sempre despejando sarcasmo, o que para ele chegava a ser fascinante, a inteligência de cada frase que saía daqueles lábios femininos. Ela parecia ser diferente com o Ben, ele já havia a desafiado, desrespeitou várias regras não oficiais como perguntar, dividir o elevador com ela, ir à casa dela, até tocá-la ele já tocou! E lá estava ele, ainda não havia sido demitido por tais heresias. Será que ela o trata diferente? Por isso ele queria ser cuidadoso com as palavras que ia dizer, não queria ser muito invasivo e quebrar essa invisível proteção que Elizabeth havia criado em volta dela. Sim, ele sabia que toda essa dureza dela era uma forma de
proteção, só não sabia do quê ela estava se protegendo.

– Eu vim aqui porque... eu precisava saber como você estava. – ele disse, ainda meio hesitante, mas ele estava realmente preocupado, desde que ele começou a trabalhar lá, nos dois primeiros dias na empresa, Elizabeth parecia bem, mas daí em diante, ele percebeu que ela parecia ficar cada vez mais pálida e mais cansada.

Elizabeth piscou ao perceber que Ben parecia realmente se importar. “Ele veio aqui só pra saber se eu estou bem? Por quê?” – Por quê? – ela verbalizou a sua dúvida.

Ele olhou nos olhos dela e viu que ela estava realmente interessada na resposta. – Eu não sei exatamente o porquê, mas tenho me preocupado... quando comecei a trabalhar na empresa, naquele primeiro dia, você parecia bem e depois, dia após dia, já tem mais de 1 mês e você tem ficado pior... as pessoas da empresa comentaram que uma vez você esteve extremamente doente e ainda assim você foi trabalhar todos os dias, como se estivesse bem, mas hoje... você cancelou seus compromissos e veio pra casa, você não faria isso se não estivesse tão mal, os empregados ficaram surpreendidos. – ele explicou, sentindo que havia falado demais.

Elizabeth parecia pensativa. – O que você disse? – ela perguntou.

− Eu disse que você tem piora...

− Não. Há quanto tempo você está na empresa? – ela perguntou, parecendo realmente pensativa.

− Há mais de 1 mês, para ser mais exato... 1 mês e meio.

Elizabeth franziu o cenho. Estranho. Elizabeth havia começado a se sentir mal nessa mesma época. Isso não fazia sentido, ela voltou a atenção para o homem na sua frente. – Bem, como você vê, Sr. Dane. Eu estou bem. – ela disse, se levantando, dando a deixa que já era a hora de Ben ir embora. – E se eu decido cancelar meus compromissos e vir para casa, não é da sua conta e nem das pessoas da empresa, que aparentemente ficam comentando sobre a minha vida ao invés de trabalhar. – ela continuou, seu tom sarcástico.

Ben adorava esse sarcasmo, ele apenas sorriu e se aproximou dela. “Aqui vou eu, quebrar uma regra novamente.” Ele pensou ao pegar a mão dela com uma das suas. Elizabeth arregalou os olhos. – Eu só quero que você saiba que se precisar de mim, eu estou à disposição. Para assuntos profissionais ou não. – ele falou antes de depositar um beijo na mão que segurava. Por um momento, Elizabeth olhou nos olhos dele e viu sinceridade, ela estava desconcertada, será que ela estava corando? Será que ele podia ver que ela estava corando? Ela não podia permitir isso.

− Lia! Sr. Dane está indo embora, o acompanhe até a porta. – ela ordenou ao retirar a mão que ele segurava e se virar de costas para ele. Lia apareceu e o acompanhou até a porta.

− Ah, se eu fosse mais jovem. – Lia suspirou assim que fechou a porta. Ela sempre assim meio brincalhona, até fazia Elizabeth sorrir às vezes.

Elizabeth permanecia no mesmo lugar, sua mão acariciando a outra mão que havia sido beijada. Depois ela se deu conta do que estava fazendo e parou. “O que tá acontecendo comigo?”

Águas Passadas (Part I)Onde histórias criam vida. Descubra agora