Capítulo 3: Yoongi

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    Queria não me preocupar tanto com o Tae mas eu não consigo parar de pensar em se ele está bem e em por que ele não apareceu. Ultimamente ele parece estar se afastando cada vez mais, não conversa mais direito comigo e não da satisfação nenhuma quando some. Não que ele me deva satisfação, mas ele sabe que eu me preocupo. Eu sei que a Wendy também se preocupa, mas provavelmente está contente por ter um tempo sozinha comigo, eu também fico feliz por poder passar mais tempo sozinho com ela porque ela sabe conversar sobre qualquer coisa. Embora eu saiba que ela odeia que eu fume perto dela, não consigo evitar. Não hoje. Não enquanto eu não souber onde o Tae está. Eu sei que ele saiu ontem à noite, ele não respondeu nenhuma das mensagens que mandei pra ele. E do jeito que ele está se comportando ultimamente, ele provavelmente não foi pra uma "festinha".

    Perguntei à Wendy se ela ficou sabendo de alguma rave na cidade, mas ela disse que não. Eu não sei se devo compartilhar minha preocupação com ela. Wendy costuma ser muito protetiva com seus amigos e eu não quero que ela se preocupe com isso, por mais que isso mereça preocupação. Eu sinto que não deveria encher ela tanto com meus problemas. Ela não costuma se abrir comigo e eu sempre me abro com ela, afinal ela é uma das únicas pessoas em quem confio. E eu sei que ela passa por muito. Ficaria contente se ela pudesse compartilhar suas preocupações comigo pois quero me sentir útil e ao menos tentar ajudar. Mas eu não sei insistir.

- Só estou pensando em onde o Tae pode ter ido ontem.

- Ele saiu? Não sei, ele não me disse nada...

- Ele também não me disse nada, eu só estou presumindo mesmo.

- Ah, relaxa. Garanto que logo ele aparece. Ele nem sempre vai cedo na praça.

- Sim. Wendy, você sabe que pode confiar em mim, né?

- Sei, e eu confio em você. De verdade. Só não falo coisas que acho desnecessárias.

    O que ela quer dizer com isso? Então tem coisa que ela não está me contando. Eu sabia. A mãe dela fez eu me encontrar com a psicóloga que estava cuidando do caso dela quando mandaram a Wendy para a clínica de reabilitação. Ela me disse que não era pra eu "forçar a barra" e que era melhor deixar ela confortável pra conversar comigo. Mas eu sei que pra ela é normal o que ela faz. Ela não acha que seja grande coisa pular refeições o tempo todo então provavelmente não vai falar sobre isso comigo. E eu não vou perguntar, não sou o pai dela. Eu sei que o método que usam com ela em casa não funciona, se funcionasse ela já estaria bem, mas pelo contrário, ela está cada vez pior, consigo ver isso fisicamente. Isso me dá raiva, honestamente. Eu queria que ela conseguisse olhar pra si mesma do mesmo modo que todos olham pra ela. Ela é linda. A Wendy é aquele tipo de menina que você não consegue nem acreditar que existe: é inteligente, é gentil, é bonita, é carinhosa...

***

    Já consigo ver os portões da faculdade. Uma faculdade pequena, com estrutura mais ou menos, com alunos medianos que não conseguiram vaga em nada melhor ou não têm dinheiro pra morar fora de Bishan. Menos a Wendy, que passou pra melhor faculdade do país e escolheu ficar aqui por não querer largar tudo pra trás. Eu entendo ela: ela precisa estar perto das suas raízes pra ter onde se apoiar caso ache que vai cair. Essas raízes são eu, Tae, sua gatinha e sua Tia, Lu. Não sei o que ela faria sem Lu. E nem sem a gente. Geralmente, as pessoas gostam de fazer novos amigos e ir morar em lugares novos. Mas Wendy não é esse tipo de pessoa, ela não consegue fazer amizade fácil. Depois de receber o laudo de superdotação ela finalmente aceitou que o problema não é nela, ela só não consegue conversar com a maioria das pessoas por uma condição natural dela. E está tudo bem nisso. As vezes é difícil de lidar com isso como seu namorado, mas eu estou aprendendo aos poucos.

- Tchau, Wendy. Tenho aula aqui hoje. Te vejo no intervalo do almoço?

- Sim, claro. Vou te esperar no refeitório.

- Na verdade, eu estava pensando em fazer algo diferente hoje. Me espera na frente da biblioteca.

- OK, então. Até lá.

    Ela se agarrou com tanta força nos meus ombros que eu jurei que não conseguiria me segurar em pé. Retribuí o carinho com um beijo em sua testa e fiquei observando ela ir até o prédio de sua aula. Ela é linda. Consigo perceber os olhares dos outros meninos quando ela passa e eu não tenho ciúmes, eu tenho raiva de mim mesmo por não conseguir sentir algo tão intenso quanto eu deveria sentir. Preciso correr até a sala de aula pra ter certeza de se o Tae está lá ou não, não me aguento mais de ansiedade.

***

    As escadas nunca terminam, eu não aguento mais caminhar, de verdade. Tem alguém sentado no final dela mas não consigo enxergar, lado ruim de ser míope e se recusar a usar óculos o dia todo.

- Ei, Yoongi!

- Oi? Jimin?

- Eu mesmo! Você ficou sabendo do Tae?

- Na verdade eu ia te perguntar a mesma coisa. Não faço ideia de onde ele esteja.

- Ah, então... ninguém faz. Ontem ele estava na festa que teve na beira do rio mas ele sumiu lá pelas duas e ninguém mais viu ele. Achei que tinha ido pra casa mas a mãe deve achou que ele tinha ido pra minha casa.

- E você só foi embora dormir?

- O que eu poderia fazer? Procurei ele e não achei.

- Que merda.

    Senhor. Eu não sei o que fazer. Pra onde ele foi? Que eu saiba ele não pode estar na casa de nenhum amigo e ele não tem namorada nem nada. Eu só sei de um lugar pra onde ele costuma ir, mas é improvável. Fica do outro lado da cidade, quase em outra província. Não custa tentar. Vou ligar pra ele e pegar o ônibus. Agora que já saí correndo do prédio não adianta mais tentar me acalmar nem acalmar ninguém. Todos ficaram preocupados mas não deixei ninguém me seguir, quero ir sozinho. Ele odiaria que eu estragasse nosso lugar por preocupação.

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⏰ Last updated: Dec 11, 2017 ⏰

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