Capítulo 38

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O professor de empreendedorismo citava várias maneiras de crescer no mercado enquanto meus pensamentos fugiam para outro lugar. Eu ainda sorria em lembrar da noite de ontem. Tudo começou a dar errado quando eu dei para trás, mas Luca acabou me surpreendendo no final. Realmente ele já não era o mesmo de um ano atrás.

Uma imagem distante se formou em minha cabeça. 

Eu tinha 12 anos e essa foi a única época em que eu gostei de praticar esportes. Um dia estávamos fazendo aula de educação física e uma partida de futsal estava prestes a começar. Geralmente Luca e eu éramos de times diferentes, nunca tivemos proximidade nessa fase.

Eu tentava evitá-lo ao máximo. Ele sempre fez o tipo popular que era bom em tudo. Nos esportes, dentro de sala, e com as pessoas. Eu sempre identifiquei um sorriso convencido em seu rosto e isso realmente me irritava. Enquanto eu era um garoto tímido que conversava com poucas pessoas, outros iguais a Luca sempre tiveram tudo de fácil alcance.

Começamos a partida de futsal como sempre. Nosso time estava em desvantagem e era uma luta manter o equilíbrio da partida. Luca driblava facilmente os oponentes, mas eu conseguia tirar a bola dele quando estava chegando perto do gol. Em uma dessas tentativas eu alcancei a bola um pouco à frente e disparei pela quadra. Um menino que não ia com a minha cara tentou retirar a bola de mim e nesse momento eu travei a perna com tanta força que ele desequilibrou e caiu rolando. Escutei ele dizer um xingamento mas dei de ombros, continuei correndo e consegui marcar um gol.

Meu time comemorou bastante por ser o primeiro da partida e nesse momento pude ver que o garoto que havia caído me olhava furioso. Luca sorria de uma maneira sacana do outro lado da quadra e eu sabia que agora seria muito mais difícil contê-lo. Reiniciamos o movimento e Luca já havia partido para cima de todos com a bola. Tentei impedir que ele passasse em um determinado momento mas acabei falhando. Ele desviou ligeiramente do meu corpo e consegui ver um sorriso no canto de sua boca. Eu tinha muita raiva dele. Logo em seguida ele chutou e a bola entrou direto no gol. O time dele comemorou ainda mais animado que o nosso. Luca corria pela quadra com sua cara esnobe.

Retomamos novamente e eu tentei me afastar de um grupo de adversários. Um garoto que eu não me lembro o nome tocou a bola em minha direção e com um passo para o lado eu consegui a dominar. Passei por uns três caras adiante e já podia sentir um gol próximo chegando. Nesse momento eu vi o garoto que havia caído se aproximando cada vez mais depressa. Eu ia o driblar e tocar pelo canto, mas algo mudou meus planos. Ele se jogou de ombros em cima de mim e eu perdi o equilíbrio total com a baixaria. A bola saltou para fora e meu corpo caiu de banda no chão duro. Senti o ombro esquerdo raspar e um pontada de dor me atingiu. Olhei para cima e confrontei os olhos do garoto que havia cometido a falta proposital. Ele me olhava venenoso com um sorriso sacana nos lábios.

– É aí que você deve ficar, seu otário. – Ele disparou.

De repente um movimento rápido apareceu do lado dele. Luca acertou um soco bem no lado esquerdo do seu rosto e eu pude ver ele caindo diretamente contra o chão. Um pequeno fio de sangue aparecia em sua boca e ele olhava para Luca indignado.

– Seu covarde nojento! – Luca gritou para o garoto caído.

Olhei totalmente confuso toda a situação. Me levantei com um movimento ágil e o encarei ainda duvidoso.

– Você não precisava. – Eu disse indicando o garoto no chão.

Luca por sua vez deu de ombros e se afastou quando o professor colocou ele para fora da quadra.

Desde esse dia me senti diferente em relação a ele. Uma coisa maior começou a crescer dentro de mim e eu não podia a reprimir. Um certo ódio moldado com admiração se aflorava e meu interesse pelo garoto de olhos profundos nunca mais foi embora.

Exclusivo [✓]Where stories live. Discover now