14º

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Um vento gélido batia de encontro ao meu rosto enquanto eu caminhava tão rápido que quase tropeça em meus próprios pés. Alcancei a maçaneta da grande porta de vidro da cafeteria e a empurrei. Sentei-me em uma cabine da última fileira, encarei o papel em meus dedos e só então notando como eu havia apertado o próprio. Em mãos eu tinha uma comum carta do meu pai. Um cara não presente na vida minha e do meu irmão, mas apesar dos pesares eu não o julgava. William era trabalhador e bem esforçado. Me lembro pouco mas ainda sim essa cena nunca haverá de sair da minha cabeça. Meu pai chorou, chorou por não poder ajudar minha mãe nas despesas chulas que havíamos em casa, ele chorou por não poder dizer a minha mãe para não largar tudo em Porto Alegre, minha cidade natal no Brasil. Ele queria muito poder ajudar ou pelo menos sustentar-nos enquanto minha mãe estava sem emprego mas ele não era capaz. Meu pai era mecânico, e na época sua loja ainda era muito pequena, mal podia banca-lo. Hoje em dia ele já está bem, tem uma mini empresa e é um coroa bem sucedido. Ele até arrisca se envolver com algumas mulheres, mas sempre que pode me manda cartas como essa que estou em mãos perguntando se minha mãe finalmente arrumou um namorado. Parte de mim se sente feliz em sempre poder dizer-lo que não! Mas parte também se entristece por saber que ambos não vão para frente. É triste dizer, mas talvez eles nunca mais se encontrem de novo.

Querida Maxine...
Oi filha, sei que tenho estado meio sumido e talvez tenha esquecido de mandar essas repetidas cartas, mas aqui estou. Sei que por você um email apenas ou uma mensagem no idiota daquele aplicativo facebook já estaria de bom tamanho, mas eu me sinto extremamente bem escrevendo, acho melhor e mais libertador. Eu queria perguntar como anda tudo por aí, mas pelas fotos que você sempre posta posso ver como todos estão bens e felizes. Infelizmente não posso dizer o mesmo mas fico mais aliviado de saber que meus filhos estão bem! Como anda sua mãe? Por favor não a diga que perguntei, mas você sabe que sempre me preocupa bastante o bem estar dela, não é? Bom querida espero que você esteja muita mais feliz do que suas fotos possam demostrar, sinto muito mais que sua falta e do seu irmão. Não tem um dia se quer que não penso em vocês. Fiquei sabendo que o Matthew entrou pro time do colégio, isso é o máximo! Dê a ele os meus parabéns. Preciso trabalhar meu bem, te amo muito.

ATENCIOSAMENTE DE UM PAI COM SAUDADES.

Respirei fundo algumas vezes antes de me deixar ceder as insistentes lágrimas que desciam pela minha bochecha. Eu amava suas cartas, e não preferiria um email nunca, eu o amava tanto e sentia sua falta mais que tudo. Queria tanto que ele viesse para cá que mal posso dizer.

(...)

Já era noite quando atravessei o pequeno jardim da minha casa. Minha mãe estava deitada no sofá dormindo meio desleixada enquanto tomy lambia os dedos de seu pé, eu sempre me perguntava como ela não acordava com as cócegas?!

Me deitei em minha cama tirando meu tênis com os próprios pés. Encarei o teto do meu quarto sentindo o peso de alguns pensamentos começarem a invadir minha cabeça.

Muita coisa havia acontecido comigo nos últimos anos. Eu mal podia pensar direito, em um instante eu me mudei para uma cidade no interior de Chicago e agora cá estou eu. Eu tinha amigos antes daqui, mas agora eu ao menos sei dizer o seus nomes. Construi uma nova vida para mim e agora tenho 17 anos, mas ainda lembro de quando coloquei meus pés nessa cidade, eu tinha apenas 10.

Deitada eu tentava refletir boa parte da minha vida, e em volta de todos os meus pensamentos eu pensei nele, exatamente nele e isso me fez questionar tudo. Justin Bieber!

Eu não sabia o quê pensar sobre ele, pois num instante eu estou pensando em toda reviravolta da minha vida e em outro literalmente estou pensando em um garoto qualquer que conheço a alguns meses... Justin tem sido um ótimo amigo e eu estava tentando apreciar o máximo disso, mas algo estava me fazendo pirar. Sua proximidade me fazia querer sair correndo por todo o pátio do colégio gritando por socorro.

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