DE VOLTA À ILHADUTA

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Naquela noite, ao voltar para Prietra percebi que, de todas as pessoas que eu conheci, havia uma que poderia realmente me ajudar, era o sr. 756, que, com todas as suas casas carros e riquezas, com certeza teria um vaso, não um vaso comum, um vaso gigante!

Desamarrei meu barco, liguei a ignição e parti em mais uma longa jornada à Ilhaduta. De fato, me pareceu peculiar o sonho de Luíza, afinal, conhecer o mundo não é uma coisa absurdamente espetacular, na verdade tem tanta coisa que nos chateiam, nos machucam e até as vezes nos fazem perder um pouco a vontade de viver, a inocência dela me intrigava muito. Mas sonhos, caro leitor, sonhos são importantes, não importa quais sejam, sonhos são o que movem o mundo da maneira de cada um, e o mundo deve girar!

Já era quase de tarde, quando cheguei à ilhaduta, minha barriga doía, mas dessa vez era uma dor que eu já estava carregando há muito tempo, afinal, é bem difícil encontrar humanos neste Planeta Terra.

- Ora ora, se não é o garoto Asher! – Disse o sr. 381 se aproximando com aquele famoso sorriso brilhante!

- Olá sr. 381, como estás? – Disse eu, me esforçando para descer do meu barquinho.

- Estou bem garoto Asher, olha só, veja isto, adquiri o posto de guarda principal da cidade! – Disse ele apontando para seu distintivo. – Estou cada vez mais perto de ser uma Dama!

Em pensamento eu disse "Aiai, essa história de Damas da Ilhaduta", mas minha única reação foi esboçar um sorriso de leve, até porque minha barriga já estava doendo muito por dentro, sorrir era um esforço gigante.

- Eu preciso falar com o sr. 756, será que você viu ele por ai?

- Claro! Ele está agora mesmo no coliseu ao topo do monte central apreciando a peça de teatro "Do pão ao Circo" é um clássico aqui, você vai amar assistir.

- Certo, talvez eu pare para dar uma olhadinha. Vou indo lá, preciso me apressar, eu tenho um lírio para cuidar! – Nem preciso explicar que a felicidade de dizer aquilo era imensa, maior ainda que toda a dor.

Chegando ao coliseu, pude ver o sr. 756, na cadeira mais bem posicionada que poderia ter naquele lugar. E por sinal, era uma peça muito bonita e emocionante, muitas histórias de amor, suspense e até um pouco de humor envolvido. Qualquer um ficaria deslumbrado, eu, por exemplo, me senti intrigado com aquela trama. A hora foi passando e a peça já chegara ao fim.

- Sr. 756, ei.. aqui! – Gritei eu lá de cima.

- Sr. 756, eu preciso falar com você! – Era impressionante o número de pessoas que o cercavam no final da peça, ele era a pessoa mais prestigiada que eu já vi.

- Olá garoto Asher, como vai?

- Intrigado! Será que você poderia me ajudar? – Disse eu como quem pede um doce aos pais. - Eu preciso muito da sua ajuda. A alguns dias, conheci um lírio, o lírio mais lindo que meus olhos já puderam ver. Ela precisa de mim, quer que eu a tire da colina, e a leve para a cidade. É o sonho dela!

- Uau, é um momento incrível da sua vida, garoto Asher. E por que não tirou ela da colina e a levou consigo mesmo?

- Não! Ela vai perecer! Plantas são efêmeras depois de colhidas. Eu preciso de um vaso, sr. 756, um vaso gigante! Você tem um?

- Olha... – Um olhar de suspeita ficou evidente no rosto dele.- Eu não vou te dar o meu dinheiro, se é isso que estás pensando. Mas posso te ajudar!

Eu já devia saber que pessoas como o sr. 756 vivem com esse medo de que alguém arranque deles o que têm de mais sagrado, o dinheiro, coluna de sustentação para seu exoesqueleto de Dama.

- Há uma ilha, em direção ao sudoeste daqui, a Ilha dos Escambos. Lá você com certeza vai encontrar o que precisa.

- Ok, muito obrigado sr. 756! Tudo de bom para você, adeus. – Fui me afastando, correndo ao cais.

- Nunca diga adeus... garoto Asher! – Disse ele com a voz já bem baixa por conta da distância.

Eu não podia acreditar, estava completamente entusiasmado para ir à Ilha dos Escambos e conseguir salvar Luíza. Eu estava me sentindo um cavaleiro daquelas histórias de romances medievais!


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