PRÓLOGO

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Não é a primeira vez que acordo na cama de uma estranha, deitado ao lado de uma mulher que não reconheço, em uma cidade da qual não me lembro. Ibiza? Paris? Londres? A única coisa que sei, com certeza, é que estou em algum lugar da Europa.  

Discretamente, saio da cama e procuro minha calça e camisa em algum lugar do chão.Olhando por cima do ombro, vejo a mesma cena ocorrida tantas vezes, sem diferença alguma: uma mulher linda, parcialmente coberta por um lençol, o cabelo perfeitamente desarrumado e o braço dobrado onde eu estava deitado esquentando o lugar. Eu poderia acordá-la e, de acordo com seu sotaque, identificar onde estou, mas teria que iniciar uma conversa e, nesse exato momento, prefiro fugir enquanto está amanhecendo.  

Como um amante medíocre, nunca vou saber quem ela é, nem ela vai saber de mim. É o tipo de coisa que funciona bem, apesar de tudo. Sem necessidade de despedidas embaraçosas,telefonemas indesejáveis ou promessas quebradas de futuros encontros  

Abro a porta do quarto, totalmente vestido, pronto para escapar na calada da noite, quando a mulher começa a se mexer. Tiro a mão da maçaneta bem devagar e, segurando a respiração, espero que ela se mova, virando de frente para a parede oposta e, com isso, me dando uma bela visão de sua bunda firme e arrebitada, lembrando-me do que me fez querer transar com ela,para começo de conversa.  

Quando estou do outro lado da porta, em segurança, paro no balcão da cozinha. Pego meu celular, digito uma mensagem para o meu motorista, informando as coordenadas do GPS, e peço para ele me buscar o mais rápido possível. A resposta é imediata. Encontro meu casaco e os sapatos perto do sofá, coloco-os e pego um cartão de visita do bolso interno.  

Só porque não quero ter nenhuma conversa embaraçosa sobre nosso "relacionamento", não significa que alguém não poderá conversar com ela. Meu método, que desenvolvi ao longo dos anos, funciona perfeitamente. Sou um insensível do caralho, mas elas sabem onde estão se metendo... Elas apenas acham que serão a mulher certa que me salvará das neuroses.  

Escrevo o número quatro na parte de trás do cartão, deixo-o no balcão e saio pela porta principal sem peso na consciência.  

Então, é assim que funciona. Uma morena desconhecida vai acordar em algumas horas de seu coma induzido por orgasmos e perceberá que não estou mais a seu lado. A primeira coisa que fará será me procurar no banheiro. Quando perceber que não estou lá, vai até a cozinha, tendo a  absoluta certeza de que me curou do que quer que seja que ela imagina que tenha de errado comigo e que estou preparando o seu café da manhã. Seus ombros irão se curvar e o sorriso,murchar quando chegar à conclusão de que já fui embora. Então, ela vai ver o cartão de visitas e toda a esperança será renovada.  

Ligará para o número fazendo aquela voz sexy, rouca e sonolenta. Quando meu serviço de atendimento automatizado atender, ela pedirá para falar comigo. Então, será informada de que estou no meu local de trabalho e não estou disponível para atender ligações no momento, e lhe será pedido para dar o número que está escrito no verso do cartão. Ela vai virar o cartão, ver o número 4 e dizer para a pessoa do outro lado da linha, que, por sua vez, fala o seguinte texto:   

Madame, primeiramente, gostaria de agradecer sua ligação. Dex ficará bastante ocupado nos próximos meses, viajando a negócios. — Essa parte não é mentira. Sendo um dos fotógrafos mais requisitados do mundo, passo a maior parte do tempo viajando. — Gostaríamos de agradecer em nome dele pela divertida noite e, se Dex voltar nessa parte do (cita o país, estado ou cidade aqui), ele entrará em contato com você. — Entretanto, para qualquer mulher classificada com um número inferior a sete, na verdade, não é coletada nenhuma informação para eu entrar em contato novamente. É mais para me manter a salvo das malucas, aquelas que pensam que só porque abriram as pernas para mim têm direito a um próximo encontro. Nesse caso, o sistema é uma maneira de acalmá-las para eu não ser perseguido ou assediado.

Essas mulheres, normalmente, ficam muito irritadas quando não conseguem falar diretamente comigo. Programei o serviço de chamadas para não ter problemas em terminar a ligação e bloquear o número para o qual nunca vou telefonar de novo.  

Naturalmente, devido à variedade de mulheres com quem me divirto, quase todas elas se sentem usadas por esse encontro sem sentimentos e acabam passando pelas fases normais do sofrimento. Haverá um monte de raiva, frustração, negação e, finalmente, aceitação de que ela foi diversão de uma só noite, que é quando ela vai seguir com sua vida. Claro que destruí sua crença em relacionamentos, mas a única coisa que eu queria era ter uma noite de sexo casual... e ela nem era tão boa nisso, então por que preciso entrar em contato no futuro?  

E, simples assim, vou para outro país, garota e potencial descarte. Agora, isso não quer dizer que, se a mulher for absolutamente fenomenal, não a verei novamente. Essa já é outra história,caso eu a classifique com sete ou mais. Essas mulheres, entre sete e dez, recebem um tratamento mais especial. O serviço de atendimento pegará todas as informações, irá catalogá-las num sistema, agrupadas por região, e as salvará na minha "agenda secreta". Se e quando eu estiver naquela região novamente, ligarei para ela para outra noitada, ou até três, no quarto.   

Acredito que possa haver maneiras melhores de se divertir por uma noite, mas assim funciona.Com a carreira e status que tenho, preciso ser discreto em relação a esses tipos de encontros.Quanto menos elas souberem sobre mim, melhor, motivo pelo qual as mantenho por uma noite apenas, a não ser que eu precise de uma boa trepada no caso de nunca mais voltar ao lugar. É insensível, eu sei, mas poderia ser pior, eu poderia humilhá-las fazendo com que assinassem algum contrato de confidencialidade em troca de passar uma noite comigo. Opto por deixá-las viver qualquer tipo de fantasia que tenham, antes de desiludi-las. Viu só? Eu sou um cavalheiro.   

Assim que saio pela porta do lobby — pelo sotaque do porteiro, presumo que estou em algum lugar da Itália —, meu carro encosta no meio-fio. Afundo no banco de trás enquanto ele avança para o meu hotel.  

 — Teve uma boa noite, senhor? — Nicholas pergunta enquanto dirige  

— Quatro — respondo sucintamente, massageando as têmporas, desejando me livrar da dor de cabeça e das dores musculares que sempre aparecem depois de uma noite de bebida em excesso e de acrobacias na cama.   

— Outra mordida no pau? — Ele dá risada e me olha através do espelho retrovisor.    

— Não. — Solto uma gargalhada. — Essa insistiu em me chamar de papai enquanto falava com uma voz irritante de criança. Se ela tivesse colocado meu pau na boca, poderia ter ganho até mesmo um sete, sem dúvida. Não entendo o que acontece com as mulheres de hoje em dia... Ninguém quer ouvi-las falar como se tivessem cinco anos de idade, especialmente quando eu estava tentando enfiar o pau na bunda dela. 

Nicholas enxuga suas lágrimas de riso e sobe o vidro. Balançando a cabeça, pego o frasco de aspirina que ele mantém guardado para mim e engulo duas a seco.  

Baixo uma fresta do vidro, mas não o suficiente para nossos olhos se encontrarem no espelho  

— Por quanto tempo ficaremos aqui?   

— De acordo com a sua agenda, ficaremos em Milão até o final desta semana, alguns dias em Paris e, então, voltaremos para casa.   

— Está certo, me acorde quando chegarmos ao hotel.   

Acomodo a cabeça no encosto aveludado e adormeço num cochilo tranquilo. Deus sabe que não tive nenhuma tranquilidade na noite anterior.  

Cartão de VisitaHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin