Capítulo 13 - Percepções tardias

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Melanie somente notou a seriedade da situação quando acordou e percebeu que estava sendo arrastada, seus braços estavam amarrados e esticados dolorosamente acima de sua cabeça, seus pés também amarrados eram arrastados junto com o resto do seu corpo, sentia a terra arranhar sua pele de uma forma lenta e angustiante, lhe causando agonia, olhou ao redor, percebeu que estava amarrada a um cavalo, estava sendo arrastada floresta adentro, em volta, homens pareciam escoltá-la.

Pânico tomou conta de seu ser, desde de que chegara Melanie estava fascinada por tudo, pelo castelo, pelos cavaleiros, pela magia, a ponto de esquecer-se em que tempo estava, esquecer-se do que sabia sobre aquela época, onde a morte esperava homens em pontas de espadas e em doenças que ainda não tinham cura.

O medo da morte também era um conceito novo para ela, nunca imaginara isso, nunca tivera, de fato, ter que sentir esse medo em toda a sua vida, mas agora estava apavorada, seu corpo era desfigurado à medida que sua mente era despedaçada em puro medo. Novamente olhou ao redor, aqueles homens a matariam, tinha certeza disso, a morte era um conceito diário válido para eles, algo simples de executar, Mel começou a chorar, chorou por ter sido tão ingênua, por não ter tido consciência de onde tinha se metido, em uma verdadeira guerra em uma época onde o conhecimento limitado tornava homens brutos, selvagens, onde se matavam defendendo honra, seitas e conceitos muitas vezes com seus ideais deturpados.

Algo se quebrou dentro de Melanie, como se a inocência que ainda restava tivesse sido despedaçada e substituída por uma nova visão do mundo, um mundo tenebroso e sombrio, onde homens abusavam do poder, violentavam mulheres e as tratavam como objetos, Mel sentiu-se enjoar percebendo quanta sorte tivera com Correl quando Arthur o impediu naquele dia, sentia que se Arthur não estivesse lá, Correl a arrastaria até seu quarto e a violentaria de forma bruta destruindo o que agora Melanie perdia de outra forma dentro de si.

Por um momento sentiu um novo medo, um medo tão absoluto daqueles homens que a fazia desejar a morte, desejar que já tivesse morrido com a pancada em sua cabeça ou que tivesse torcido o pescoço enquanto era arrastada, Melanie não queria passar pelo que imaginava que aqueles homens fariam, não queria perder isso também, nunca havia nem sentido em seus lábios o toque suave, a ternura e carinho de um beijo, nunca tinha sentido na pele a carícia de alguém que a desejava e a amava de uma forma pura e única, nunca.

Seu corpo relaxou por um momento, não por que tinha se acalmado, mas por que já havia desistido, a dor a entorpecia de uma forma que ela já não aguentava mais tentar forçar a cabeça a não arrastar na terra, simplesmente deixou-se ser arrastada.

A terra, seu olho esquerdo raspava no chão e ela não podia abri-lo, somente com o direito conseguia ver alguma coisa, queria usar a magia, invocar a terra para fazer um buraco a frente onde pudesse enterrar seu corpo para ele não ser tocado por nenhum deles, mas não conseguia, queria fazer o ar dobrar-se a sua vontade, queria incendiar a floresta, mas não adiantava, estava fraca, a única vez que usara seus poderes fora dos treinos foi naquele momento antes dos saxões os atacarem, aquela foi a primeira vez que Melanie via na prática como usar seus poderes, nunca precisara usar para se defender antes e ao perceber isso Mel só constatou o quão fraca e inútil ainda era, franca e impossibilitada de salvar alguém, finalmente Mel percebia que além do seu corpo, seu espírito também se dissolvia na terra, junto com sua consciência que a deixava mais uma vez naquele dia.

***

Acordou quando sentiu que pararam e seus braços eram soltos do cavalo, sentindo um alívio imediato ao vê-los caídos, ainda amarrados, na frente de seu corpo, permaneceu de olhos fechados enquanto era carregada para algum lugar, estreitando os olhos vislumbrou uma tenda para a qual era levada, a colocaram sentada com as costas apoiadas em algo rígido, deixou sua cabeça cair, não queria que soubessem que estava consciente.

Infelizmente se descuidou assim que sentiu suas mãos livres, teve de abrir os olhos para ver o que estava acontecendo e fora pega de surpresa encarando um rosto desconhecido que não gostou de vê-la acordada, o homem rapidamente pegou seus braços livres e os amarrou em suas costas, percebeu então que a superfície dura deveria ser uma tora enfincada na terra, pois ele amarrou seus braços ao redor dela.

"Por favor, não."

Sussurrou sem esperança alguma de ser atendida, assim que viu um pedaço de tecido na mão de outro homem que se aproximava e este a vendou, amarrando bem o tecido para ela não poder ver mais nada.

***

Na escuridão que se seguia, podia sentir tudo novamente, os cortes, os hematomas, a dor, sentia seu olhar em suas costas, se pudesse vê-lo, tinha certeza da expressão consternada que estaria estampada em sua face, respirou fundo para o que tinha de fazer, sabia que tempos difíceis estavam por vir e mesmo assim também sabia que não fraquejaria, sabia que nunca estaria sozinha, não quando estava cercada das pessoas que ama, não quando sabia que lutaria até o fim, os protegendo, sempre.

***

A escuridão nunca assustou Melanie, desde criança nunca tivera medo do escuro, mas naquela situação em que se encontrava, com a venda em seus olhos, Melanie tremia de pavor, não ver o que estava acontecendo, não ter ideia de quem a estava observando, a estava deixando louca, isso junto a movimentação de seus braços e pernas, que agora tinha cessado, mas antes Melanie não parava de tentar, quando percebeu que deveria estar sozinha, tentava em vão soltar as cordas o que de nada adiantou, somente a fez se machucar mais, sentia o líquido viscoso escorrer por suas mãos e pernas, se eles queriam matá-la de agonia, lenta e dolorosamente, estavam conseguindo.

A posição que estava era muito incomoda, o escorrer do sangue em suas mãos e pernas continuava sem cessar, a sensação a deixava agoniada, imaginava que uma poça de sangue já se formava abaixo dos seus braços e pernas, tentou ignorar o som do gotejar.

O cheiro metálico de seu sangue a enjoava e ela estava começando a perder a consciência novamente... passos de repente soaram ao seu lado a trazendo de volta quase imediatamente, alguém vinha em sua direção, parou e pareceu se abaixar perto dela, pois sentiu uma respiração a atingir na altura do pescoço, esperou talvez mais ansiosa do que de fato com medo, até ouvir um curto ruído de contentamento seguido de uma voz profunda que jamais esqueceria.

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