Uma idiota brilhante

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Callie Torres.

– Merda. – murmurei para mim mesma. Eu sabia no momento que eu acordei esta manhã que o meu dia seria uma porcaria. Sentada no meu carro, tentei dar uma olhada ao redor e focar minha atenção em outra coisa que não fosse o mesmo carro com adesivo de uma família feliz parado na minha frente, mas era impossível! Afinal, eu estava presa no mesmo local da rua durante 10 minutos intermináveis.

Em parte eu queria que aquela droga de tempo passasse logo, assim eu ficaria de uma vez livre daquele engarrafamento infernal, já por outro lado, só me restavam esses mesmos 10 minutos para chegar a Robbins Corp sem precisar lidar com a reprovação dela. Olhei para o relógio novamente. Droga. Já podia me considerar oficialmente atrasada.

Suspirei e olhei pela janela, os meus olhos se encontraram com o do motorista ao meu lado. O homem de 40 e alguma coisa piscou pra mim com um sorriso assustador e balbuciou a palavra “gostosa”, eca. Por que os homens têm que ser esses porcos? Eu inclinei minha cabeça para trás no banco e dei um longo suspiro, pensando em voltar ao fracasso que estava sendo o meu dia.

Eu tinha acordado com o som estridente de my hips don’t lie que tocava nos alto-falantes do meu despertador de cabeceira. Como eu não era lá muito matinal, limitei-me a gemer ainda com sono, enterrando a cabeça no meu travesseiro e tentando desligá-lo, sem necessariamente levantar da cama para pegar o controle. Mas o som não parou, ficou mais alto. Mais que inferno? Debrucei-me mais ainda para puxar de uma vez o cabo para fora da tomada, mas acabei caindo trazendo toda a mesa de cabeceira comigo.

Oh Deus! Meu Celular! Meu copo agora vazio de água estava ao lado do meu telefone ensopado. Pânico começou a se formar enquanto estava com o telefone pingando na minha mão. Eu estava morta. Minha vida inteira e a programação inteira de Mrs. Robbins estava naquela coisa. Eu respirei fundo, querendo me acalmar. Talvez fosse secar e ficar bom, eu disse a mim mesma. Tá certo. Porque água e aparelhos eletrônicos caros combinam bem juntos.

Agora eu precisava de um celular novo e muita, muita paciência para tentar explicar para minha chefe que eu não sabia como acessar sua agenda de reuniões sem meu telefone por perto.

Minha Chefe, Arizona Robbins, aquela semana inteira estava agindo de um modo particularmente desagradável, e passou a maior parte do seu tempo precioso latindo ordens e batendo sua porta. Normalmente, ela não era tão insuportável, na verdade nos seus bons dias ela falava desde com o porteiro até a estagiária da sala de cópias. Contudo, em seus dias ruins, ela era uma tremenda cuzona em tempo integral.

Já iriamos fazer nove meses desde o começo da sua gestão e apesar do seu pai ter sido o grande visionário que fundou a empresa, os números não mentiam ao mostrar que o trabalho daquela mulher era incrível. Ainda assim, sentia saudades de seu pai, ele era um bom homem, e havia sido quem me contratou em primeiro lugar, mesmo que eu ainda estivesse terminando minha faculdade e não fosse lá grande profissional.

Mas agora ele havia sido afastado e a presidência da Robbins Corp era comandada a pulso firme por ela. Geralmente isso não me incomodava, afinal eu não tinha conseguido chegar onde eu estava por ter a pele sensível. Especialmente naquele dia, não poderia deixar ela me abalar, afinal eu havia deixado meus cabelos soltos e usava um vestido Michael Kors, que Meredith havia me dado, então nada poderia destruir tanto assim o meu dia.

Oh, como eu gostaria de estar certa disso!

Suspirei quando eu percebi que eu teria que gastar o meu horário de almoço procurando um novo telefone. Ótimo. Mas antes eu precisava sair de casa se eu quisesse ter como explicar algo para Mrs. Robbins. Claro que a minha cafeteira acabou pifando, e minhas chaves acabaram caindo entre as almofadas do sofá, afinal não podia ser fácil. Contudo, mesmo com todo aquele dia de azar, de alguma forma, eu consegui chegar ao meu carro só alguns minutos fora do meu tempo normal. Eu ainda não estava atrasada.

Claro que isso foi até o acidente que agora paralisava toda a avenida e não me deixava chegar logo na companhia. E pelo tempo que eu normalmente fazia até o escritório, eu já estava oficialmente uma hora atrasada. Normalmente eu teria ligado para avisar, mas meu telefone ainda estava em casa, deitado em um monte de água e embebido em toalhas de papel no fundo do meu lixo do banheiro.

Eu sabia que seria infernizada por isso, mesmo que eu sempre tivesse ostentado meu horário perfeito de chegada, sempre quinze minutos adiantada, a idiota jamais deixaria algo assim passar. Não quando ela odiava tanto atrasos.

"Arizona Robbins” 

Revirei os olhos quando o nome passou através dos meus pensamentos, eu não podia suportar essa mulher. Ela tinha como slogan pessoal a maior postura de “seja obediente”, “trabalhe duro” que eu já conheci na minha vida. Ainda assim, não era exatamente isso que me irritava nela, mas como parecia que ela só tinha aquele olhar arrogante quando era direcionado a mim. Era normal a assistente sempre ficar com o páreo mais duro, contudo, já era ridículo a forma babaca que ela agia ao meu redor.

E apesar de tudo, era surreal como aquela mulher podia ser tão linda. Claro, eu jamais me interessaria por ela, por questões óbvias: 1. Ela era minha chefe; 2. Eu estava proibida por Meredith de me relacionar com mulheres cheias de si de novo; 3. Ela nunca se interessaria de volta.

Afinal, sejamos realistas, apesar do meu estilo ter evoluído bastante dos suéteres rosa e tranças que eu usava na faculdade para roupas sociais e óculos para leitura, Arizona Robbins ainda era a multibilionária dona de um império. Nada havia em mim que poderia interessá-la.

– Pois bem, Srta. Torres, a senhorita planejava chegar ainda no expediente de hoje? – perguntou em tom condescendente quando eu entrei no escritório.

Ela estava em pé na porta de seu escritório que era de frente pra mim, parecendo tão linda e arrogante como sempre. Ela tinha cerca de 1, 65, com pernas de dar inveja a qualquer mulher e seios que... bem, eu não posso comentar, já que evitava olhar para a direção deles a todo custo.

– Me desculpe, Mrs. Robbins. Houve um acidente na avenida, e eu cheguei aqui logo que pude. Não vai acontecer outra vez, senhora. – disse em um tom educado apenas batendo os dentes, mesmo que meus dedos estivessem se contraindo praticamente com o desejo de arrancar os olhos muito azuis dela. Seu tom debochado por algum motivo conseguia me tirar do meu estado normalmente pacifico.

– Você está certa, não vai. – respondeu ela com aquele sorriso arrogante que fez o meu estômago dar voltas e pulos ao mesmo tempo. Se ao menos ela mantivesse sua maldita boca fechada, ela seria perfeita. – E como quero garantir que outro incidente prejudique sua memória, quero os documentos que coloquei em sua mesa esta manhã preenchidos e finalizados ate às seis. E então você irá repor a hora que perdeu esta manhã fazendo sua apresentação na sala de conferências comigo.

Meus olhos se arregalaram quando sua voz me tirou de meus pensamentos há muito esquecidos, e eu vi quando ela se afastou sem dizer mais nada, batendo a porta da sala atrás dela. Mas. Que. Porra. Ela sabia muito bem que para organizar todos aqueles documentos de patente para uma apresentação não poderia ser feito em menos de um dia e uma noite de trabalho, ainda se eu pulasse o meu almoço.

Desgraçada!

Joguei minha bolsa na mesa e me sentei para ligar meu computador resmungando baixinho enquanto eu abri a pasta de arquivo na minha mesa. Bem, pelo menos eram patentes básicas de componentes eletrônicos. Eu sabia que elas faziam parte do novo projeto de nanotecnologia para eliminar células cancerígenas, que agora ela parecia tão interessada, e que parte importante na construção dos componentes eram essas patentes. Ainda assim, ela podia não ser uma completa grossa e usar aquilo como uma espécie de punição para mim.

É apenas incrível como Mrs. Robbins conseguiria ser brilhante e ao mesmo tempo uma completa idiota.

Mrs RobbinsWhere stories live. Discover now