A Cinderela Norueguesa

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"Oh, que formosa aparência tem a falsidade"

( Shakespeare)

— Era o que você imaginava? – perguntou Nicholas se sentando na beirada da cama, não evitando amassar o delicado tecido de um dos vestidos postos sobre o móvel. Naquele momento, eu deveria estar decidindo qual dos estilistas seria escolhido para desenhar o guarda roupa da "nova princesa". Parece loucura, não é? E realmente era. Ainda buscava algo que fizesse algum sentido naquela vida, na minha nova vida.

— O que? Ser uma princesa? Conhecer o pai até então inexistente? Descobrir que a sua mãe mentiu para você por toda a sua vida? – perguntei com a voz lotada de ironia. Nada era como eu imaginava. Durante toda a minha vida, nunca questionei as histórias da minha mãe, eu confiava nela — no pouco que conheci dela — acreditava quando ela se lamentava do abandono do meu pai, quando minha tia dizia sobre a sua irresponsabilidade.

Eu o odiei tanto durante minha infância. Não me conformava por não ter um pai do meu lado, por ele ter sido tão cruel com a minha mãe. E era tudo uma grande mentira. Meu pai nunca soube da minha existência, não me abandonou, foi vitima de fatos mal contados, assim como eu. Nós perdemos mais de vinte anos, duas décadas que poderíamos ter passados juntos, que ele poderia ter sido um pai e eu uma filha.

Meu pai poderia ter morrido naquele dia e eu nunca conheceria a história. Ou talvez, conhecesse quando fosse tarde demais.

Mas, isso era passado, o importante era o agora. Agora sabemos de toda a verdade, agora estamos próximos, agora somos uma família. Bem, na verdade, as coisas não eram tão fáceis assim... Axel não possuía somente o titulo de "meu pai", ele carregava também o pesado titulo monárquico, algo que mudava tudo.

Ele não descobriu somente que tinha uma filha, descobriu que tinha uma herdeira. Mesmo que fosse absurdo pensar, um dia eu teria que governar um país. Conhecem alguma menina que nunca sonhou em ser princesa? Essa sou eu! Eu nunca quis ser como Paloma, ter que seguir regras sem fundamentos, estar sempre com um sorriso no rosto, ter minhas amizades e paixões controladas por terceiros, pensar no bem de uma população inteira em primeiro lugar.

— Imagino como deve estar sendo difícil – Nicholas praticamente sussurrou com os olhos fixos na parede bege.

— Imagina? – duvidei. Nós nunca achamos que o outro sente uma dor tão profunda como a nossa. Sempre ficamos cegos pela nossa dor, pelo nosso mundo desabado. Não percebemos que quando um mundo desaba, faz mais de uma vítima.

— Esse peso que você está começando a carregar, eu carreguei por toda uma vida. – Ele disse se virando para mim pela primeira vez desde que entrou no quarto. Eu não estava preparada para encarrar aquela imensidão azul que era os seus olhos, por esse motivo, desviei o meu olhar para aquela parede que ele até então admirava – Luíza, desde que eu nasci, sofri a pressão de ser o futuro herdeiro da Dinamarca, depois da Suécia e por fim da Noruega. Eu nunca tive amigos com quem eu pudesse contar, nunca recebi um verdadeiro carinho familiar e nunca pude me apaixonar. Sabe, aquela vez com você na Espanha, foi a primeira vez que eu saí a noite? Que eu me senti como um cara normal que bebe uma cerveja com uma linda mulher?

Apenas sorri mudando o foco do olhar dessa vez para o chão, eu não queria que ele percebesse a vermelhidão que tomou conta do meu rosto.

— Luíza, olha para mim, se tem alguém que te entende, que pode te ajudar, sou eu. Me deixa ficar do seu lado! – E conforme ele dizia isso, se levantada da cama e começava a caminhar na minha direção. Tranquei a respiração, ele não poderia estar pensando em fazer isso! Ele não ia...Não ia...

Por trás de uma Rainha |DEGUSTAÇÃO|Onde as histórias ganham vida. Descobre agora