capítulo doze.

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— O que achou do verde?

O garoto indagou, o pincel amadeirado e rajado de um verde desbotado causando calos nos dedos que já tomavam certo volume.

Estavam ganhando espessura, assim como boa parte do corpo fazia ao longo de uma gestação saudável e era como Louis gostava de pensar nela. Uma gestação calma, de dezenove - quase vinte - semanas e cheia de telas paisagistas pintadas pelas mãos de seu garoto talentoso. Muito talentoso, ele descobriu eventualmente.

Os dias estavam longe de ser exatamente tranquilos como uma lagoa livre de inquietações, mas gostava de imaginar que era pouco menos agitado que um mar aberto e cheio de riscos. Era estranho, viam-se cada vez mais perto do dia numa velocidade grotesca, o grandioso dia, e ainda sim as tardes pareciam duradouras demais.

— Não, esqueça. Ficou mais que terrível. — Harry julgou com um suspiro decaído, seus ombros dobrados numa postura que não conhecia até alguns dias atrás e, então, a calça cinza e remendada estava ainda mais suja de tinta.

Como se ele fosse mesmo fazer algo menos que brilhante, Louis pensou consigo mesmo e um sorrisinho enfeitou seus lábios. Mas nada disse.

— Um desastre, foi isso que ficou. — O garoto, por fim, resmungou para si mesmo.

Aquilo normalmente acontecia em momentos de frustração e Harry nem mesmo se importava em usar a calça manchada, dizendo em insistência que aquilo era pelo puro espírito da coisa. E era mesmo. Não via um propósito em deixar sua marca nas telas e não se encharcar de toda a aquarela.

Não era pelo fato de Edward ficar contente em finalizar um quadro ou porque ele era os dois: a personificação da suavidade e doçura  e também sedutor a ponto de arrancar todo o seu pobre fôlego quando, por vezes, desorbitava e deixava que o pincel falasse por ele.

Obviamente não era isso que o fascinava mais sobre o ato. Não era.

Para ser sincero, recentemente lhe foi mostrado o quão libertadora era tal sensação, tinha que admitir. Haviam alguns quadros espalhados por seu quarto, alguns que arriscou cuspir o laranja vívido, apesar de quase nunca usá-lo para fins de sossego. Eles, ele e Harry, dormiam juntos. E que os Deuses do Fogo o ajudassem para que ninguém descobrisse isso, mas eles nunca fizeram mais do que dormir juntos.

Eles faziam – num dia de sorte — um casulo do quarto, cor de creme e não tão grande quanto ele esperava que fosse, de Harry, que também era meio ateliê artístico e carregava como mais bela aquisição uma janela grandiosa da mais límpida vidraça. Quase sempre acobertada por cortinas grossas, embora.

Aquilo funcionava muito bem para o quarto mês de gravidez, embora o pai de Harry fosse um pé de amarga desaprovação.

— Desastre? — Ele soou como se experimentasse a palavra pela centésima vez e então negou veemente, seu rosto sutilmente pressionado contra o travesseiro da cama quando decidiu: — Querido, esse, eu lhe dou minha palavra, deve ser o quadro mais complexo e cheio de vida que eu já vi.

— Oh, você acha? — O cacheado duvidou, seu cenho franzido de uma maneira bonita enquanto os olhos brilhavam vulneráveis. Ele era, Louis constatou em menos de três dias depois de seu retorno, tão sensível. Talvez os meses de gravidez tenham feito sua generosa parte em realçar aquilo. — Então, me diga, o que é?

Louis, parecendo analítico demais, embora fosse apenas um truque para liberá-lo de sua insegurança usando o divertimento, apertou os olhos para o bocado de tinta laranja e verde que parecia ter sido borrifada na tela.

Era, de fato, complexo.

Ele não fazia ideia de que figura exata poderia ser, parecia um tordo e também parecia bastante a silhueta de um sapo. Mas o ponto era que, sendo uma coisa ou outra, Harry tinha um dom quase irritante de torná-las poéticas.

light of mine • mpregDonde viven las historias. Descúbrelo ahora