Olhei para você, e vi, que anjos e demônios existiam. Você era metade de ambos...
| 15/03/2016
Não havia ganhado uma expulsão ou suspensão, por sua causa, Bernardo.
O que ganhei, tinha sido uma medida disciplinar de três semanas para auxiliar o treinador Pedro, no qual eu bati e atrapalhei o treino.
E a minha última semana tinha sido essa; estudar feito uma condenada, ir mais cedo para o trabalho, e no fim da tarde, ver você e seus amigos idiotas sorrindo para mim.
O treinador tinha me colocado como gandula oficial da faculdade. Você sabe, a que fica repondo a bola, segundo o treinador e você, Bernardo, o meu papel era muito importante. Eu tinha até um uniforme, já que participávamos do campeonato universitário.
O jogo em que estrearia como gandula do Ajax foi o evento futebolístico do ano.
— Vamos ver se você não demora viu, gatinha — murmurou um homem que nunca tinha visto ao meu lado, enquanto me alongava para começar a suar.
Estava na margem do campo, esperando o jogo começar, e meu trabalho também. Antes do time dele entrar no campo, ele bateu na minha bunda, e sorriu, como se eu estivesse esperando por isso. Eu o encarei, e soquei a cara dele.
— Puta merda, de novo, Ayla? — gritou o treinador Pedro, saindo da rodinha do nosso time e vindo para minha direção.
— Há um problema aí, Victor? — perguntou o treinador do time adversário.
Todos os jogadores do Ajax, time da minha faculdade, estavam atrás de mim. Você estava ao meu lado, e tinha uma cara zangada, Bernardo.
— Ele bateu na minha bunda! — vociferei. — Se alguém bate em mim, eu retribuo!
Os homens ao meu redor, riram. E eu quis bater em cada um. O treinador do outro time bateu na cabeça do homem que tinha me dado o tapa. Você continuou lá, encarando o homem.
— Trisca um dedo nela de novo, e será a última vez em que você levantará a sua mão. — Você ameaçou, e todo o time tinha escutado, junto do seu pai e o treinador.
O tal Victor sorriu, e mandou um beijo para mim, eu ergui o meu dedo do meio para ele.
— Mais uma semana. — murmurou o seu pai, quando peguei a bola no cesto do nosso lado da reserva. Concordei.
O jogo começou. Havia uma rixa visível entre os dois times. E quando eu achei que não teria que brigar mais, começou uma confusão no meio do campo. Eu vi quando o tal Victor bateu no seu rosto, e você montou encima dele batendo, enquanto Mateus tentava apaziguar a situação.
E eu corri.
Corri até estar perto o suficiente do Victor, içá-lo para o chão, colocar uma perna em sua caixa torácica e a outra no seu pescoço, a mão dele que tentava agarrar a minha blusa, eu a trouxe para perto do meu abdômen, e a flexionei. Eu escutei o grito dele, e os seus para mim. Mateus teve que largar você, Bernardo, para vocês dois tentarem tirar a minha imobilização dele.
— Solta ele! — pedia o treinador do outro time, tentando afrouxar o aperto dos meus braços na mão esticada dele.
Você sorria quando tentava me puxar dele, seu olhar beirava a loucura, o seu sorriso era predatório. Eu libertei o aperto dele, e me levantei, com a sua ajuda. Mateus e alguns outros olhavam para mim, horrorizados.
— Não mexa com o meu time, panaca! — resmunguei, arrumando minha camisa, ajeitando o meu cabelo e andando até a lateral do campo, onde todos me olhavam.
Novamente, eu era o centro da atenção. O meu time sorria para mim. A torcida gritava. O seu pai ergueu dois dedos, e eu revirei os olhos.
— Você é loucamente perigosa! — gritou Pedro, o treinador, mas ele tinha um sorriso contido.
— Alguém tinha que acabar com a marra daquele time — respondi, dando de ombros.
E quando o jogo recomeçou. Você fez um gol, Bernardo, e apontou para mim.
. . .
Nome da imobilização: Ude hishigi juji gatame. Demonstração:
"Nossas digitais não se apagam das vidas que tocamos."
Filme: Lembranças.
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O que Restou de Nós
RomanceHá uma música do Ed Sheeran que diz: "amar pode doer, às vezes". Talvez ele tenha composto essa música pensando em nós. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS | Copyright© 2018. PLÁGIO É CRIME. +18