| e p í l o g o

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| Eu não sei ao certo que dia é hoje, e nem que horas são.

O que eu sei é que o sol está quente lá fora. Que o vento sopra minhas cortinas para longe da janela. Que há um cachorro latindo insistentemente no quintal do meu vizinho. E que Laura está fazendo alguma coisa na cozinha pelo cheiro bom.

E que provavelmente, o céu está em seu esplendor diário com nuvens gigantes nele. E que em algum lugar dessa imensidão de azul e branco, está você.

Mas eu fiz uma promessa de que não me lembraria de você com o coração pesado, Bernardo. Porque tentar esquecer tudo que vivemos seria um tiro no pé e a pior escolha que eu faria. E se eu tentasse minimizar tudo que aconteceu, não surtiria efeito algum. A dor em meu peito não sumiria, e nem o fantasma de você iria embora.

Tem dias que a saudade me sufoca. Em alguns a raiva me faz querer entrar numa briga sem fim. E nos piores, eu tenho um remorso enorme por ter me envolvido com você. Mas assim como o sol se põe e se vai, todo o sentimento ruim é passageiro.

Porque eu não semeio mais coisas ruins e tóxicas dentro do meu peito. Eu tento cultivar amor. De todas às formas.

Amor por estar nesta casa vendo Berenice cada dia mais esperta, e de ver o amor nos olhos de Laura e Mateus. Amor pelo meu trabalho e pelas crianças que tornam meu dia em algo bonito, encantador e menos assombroso.

Amor por estar viva. Amor por ter aguentado tudo até aqui. Amor por mim.

Porque quando você partiu, Bernardo, eu tentei ir também. Não diretamente, mas eu me afundei um pouco. Eu tentava manter um último contato com você, pela bebida. Ela sempre foi nosso elo, assim como às tatuagens.

Mas a bebida veio para você como o demônio foi para o inferno. Ela arruinou você, Bernardo. O álcool não desfaz nossos problemas, ele cria outros. E o coração quebrado que você tinha, quando subiu naquela moto sem capacete, fez par com o traumatismo craniano que você conseguiu quando foi atingido por aquele carro.

A imagem sua naquele caixão ainda me assombra. Assim como o grito de Mateus quando ele soube do seu acidente que tirou a sua vida. Numa das reportagens sobre o acidente do prodígio da UFG, contaram sobre o condutor que dirigia o carro que atingiu você, Bernardo.

O homem levava a filha para casa depois de tê-la pego no shopping. Eles não sofreram nenhum arranhão, pois estavam usando cinto de segurança. Eu vi o homem na televisão, ele parecia arrasado, Bernardo. Seus olhos tinham bolsas, e ele parecia estar enfrentando o pior momento da vida dele.

O seu pai teve um encontro com ele. O homem que se chama Otávio pediu desculpas, Bernardo. Desculpas por não ter conseguido frear a tempo de não atingir você. O seu pai me contou que ele estava quase chorando. Mas Otávio não foi o culpado, e isso todos nos sabíamos.

O que Restou de NósWhere stories live. Discover now