+TWENTY_NINE+

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A estrada estava ficando irregular. O carro ganhava impulso suficiente para eu me agarrar ao cinto de segurança. A gravidade atuava na sua perícia.
Por entre pulos e apertos, mirava  Jungkook com curiosidade e precaução. Ele também se descolava do assento e, no entanto, mantinha uma postura respeitável e ereta. As sua pérolas negras fixavam na estrada mal planeada com uma concentração constante.

Recebo uma ligação.
- Yeoboseo?

- Onde estão? 
Uma voz grave pergunta ríspida. Olhei por um segundo apenas para Jungkook, me certificando que a sua audição não era tão apurada como eu temia.

- A-ah! Lee! À quanto tempo! Falamos por mensagem então.

- ... Oi?

- Beijos.

Encerrei a chamada olhei novamente para Jungkook, que permanecia ereto, e por momentos nos encontramos.

Ligo o gps.

"Me rastreia."
Uma mensagem simples e direta, suficiente para Taehyung entender.

Por momentos, pensei no estado dos meninos. Estará tudo bem?
O silêncio era inevitável, como se fosse o habitat natural de Jungkook. Os pneus batendo contra a árdua sola, o motor gemendo e o rádio lutando para ser ouvido.

- Jungkook... Sua consciência não pesa?

Ele continuava com os olhos na estrada.

- Consciência não pesa. É uma metáfora.

Ele dissera o óbvio.

- Não sente culpa pelo que fez aos meninos?
Reformulei.

- Eles estão bem. De qualquer forma, liguei para as urgências.

- E porque fez isso?
Cerrei os punhos, não por raiva mas por indignação.

- Eu tenho sempre um motivo. Mas eu já sabia que você ia trazer Taehyung. Era óbvio que lhe ia pedir ajuda. Eu só me antecipei.

- Com antecipar, você quer dizer, incapacitar.

Ele não respondeu.

🦌🦌🐺🐺

Era uma vez um cervo.
Um cervo majestoso, quem o visse imaginava as sementes que ele traria, as raízes que ele criaria. Que belo cervo!

Um dia, o cervo decidiu se aventurar na floresta. Acabou por descobrir o seu habitat. Não muito escuro, não muito claro. Ideal.
Ele ingeria ervas verdinhas da clareira mais próxima do pequeno rio, pensando que ficaria com cede. Que esperto cervo!

No entanto, toda aquela beldade, aquela esperteza calculada, aquele talento tinha preço.
Num dia, o cervo ia passeando pelos caminhos improvisados e traçados por outros animais no início da sua vida, quebrado se encontrou com um lobo.
O lobo rosnou e o cervo recuou, por instinto. Rosnaria ele por território? Por mal-crença? Inveja? Estaria ele esfomeado? Talvez não.
O lobo parecia perdido. Os seus olhos cerravam com raiva, mas pareciam tão vazios. O sangue nos seus dentes provava sua alteração de comportamento.
Ele se perdera faz muito tempo.

O cervo, sem virar costas, andou para trás, por respeito.
Foi nessa caminhada apressada que conheceu uma cerva, Panolia eldii.
Ele confiou nela, no segundo em que cruzaram. Que frágil cervo!

Corriam por entre árvores e raios de sol que por elas escapavam. Ela lhe apresentou a manada. Ele sentia-se em casa. 
Porém, o cervo nunca esquecera aquele lobo. Ele seguia o mesmo caminho todos os dias, procurando uma causa para a amargura do lobo.
Nessa manhã, o fez. Seguiu a trilha e se deparou com o lobo. Desta vez, o sangue era mais visível e o cervo recuou por medo. Mas apesar do medo, ele queria salvar o lobo. Que ingénuo cervo!

Um passo em falso e o lobo, olhos negros que nem os seus, rosnou raivosamente e andou em sua direção. O cervo não recuava, não tinha como. O lobo cravou os seus dentes afiados pela pele clara do cervo e este se contorceu. Mas não gemeu.
O lobo arrancou as presas da sua presa inesperadamente. E lá estava  Panolia, salvando o seu amigo. Se sacrificando por ele. O lobo não hesitou, claro. Devorou a cerva bem na frente do seu amigo.
Ele, incapaz de ajudar, procurou a manada. Quando a história foi ouvida, as orelhas baixaram de tristeza. Ao nascer do sol, o cervo acordou sozinho.

Agora o ódio o preenchia. Sem casa, sem proteção, sem esperança. O cervo refugiou-se na fera, na própria fera.
O período de caça começou, e o cervo enfrentou o lobo novamente.
Desta vez, o cervo estava maior. Elevou o peito, os cornos e bateu com os pés, a vingança o consumia como açúcar no sangue que lhe transmitia uma energia e força de vontade incríveis. O lobo apenas recebeu um corte no rosto, nada mais. O cervo, por outro lado, ficou de rastos. Mas não morto.
Foi a última vez que vira o lobo desde então, talvez considerando o pequeno morto.

Com o corpo fraquejado, sangrento, gemia a cada passo que dava. Apareceu um Rusa unicolor, macho aparentemente mais velho, simpatizou com ele. Também estava só. Que simpático cervo!
A Rusa via o ódio e falta de empatia no cervo, mas não o queria deixar como o deixaram a ele. Então com ele caminhou.

Pelo caminho encontrou outros amigos. Um Alce-gigante irlandês, que o ajudava nos estudos e o tirava de situações complicadas; um Cariacu sempre saltitante e um pouco medroso, que conhecera numa trevoada, quando este se refugiou na mesma árvore que ele; um lindo Gamo, o mais velho, confidente do Alce irlandês; um Veado vermelho, que se sentia rejeitado pela sua manada...

O carro parou e parei a minha escrita. Jungkook retirou as mãos do volante e, lentamente, me encarou.

- Chegamos.

_____
N/A:
A resposta era: 17.
A não ser que exista algum erro ou algo do tipo, nesse caso, a culpa é minha.

O número é importante para o rumo história.

E para quem ficou confusa, a história do cervo trata da vida de Jungkook. Será completada nos próximos capítulos.

Espero que tenham gostado do capítulo!

Espero que tenham gostado do capítulo!

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•Psycho• >> JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora