Os anjos não estavam aqui

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Minha vida privada nunca foi tão publica.

Agora eu sou um livro aberto, totalmente exposto para quem quiser me decifrar.

Eu falo da minha depressão como se fosse minha amiga. Trato minha ansiedade como uma colega de classe. A minha autoestima como um tapete velho. E eu me trato como o lixo que eu sou.

Nunca fui boa em nada, só sirvo pra dar trabalho.

Agora, porque eu continuo vivendo, ou melhor, sobrevivendo sendo que eu já tive e tenho chances para acabar com toda essa merda de uma vez?

Eu simplesmente não quero dar MAIS desgosto aos meus pais, ter uma filha suicida iria manchar a reputação de família perfeita com filhas prodígios que eles tanto se orgulham.

O fato é: eu posso ser a pior pessoa desse planeta, eu posso querer estar morta a cada milésimo do dia, eu posso me odiar, mas eu ainda amo meus pais. Apesar de todos os pesares eu tenho a consciência de que eles acham que estão me fazendo bem. Eu os amo.

Por isso ainda não desliguei minha maquina para o Game over definitivo.

Tenho que me desapegar dessa idéia de culpa.

Enquanto isso eu me mato aos poucos, estou destruindo minha mente de pouquinho em pouquinho, só esperando uma força maior me levar. Pois assim o peso da culpa não penderia para nenhum dos lados.

O ar parece não chegar em meus pulmões.

1,2,3,4,5,6,7,8,9...

Eu paro, penso, tento respirar e volto.

A depressão já foi minha inimiga, mas ela esta aqui a tanto tempo que eu já me acostumei com a sua presença. Em meio as crises eu criei um refúgio, a depressão me permite ficar reclusa dentro de mim, sozinha, apenas com meus outros eus.

Lá ninguém diz que eu Nao sou boa, nem o que eu devo fazer ou vestir, nem falam o quão mal agradecida eu sou por ter tudo e querer nada, muito menos me chamam de puta.

Eu sou a pura mais impura que já pisou nesse inferno terrestre.

Como pode uma virgem ser a mais puta da cidade? Oh meus amados, se ela não se encaixa nos padrões, critique-a até a mesma acreditar que é uma vagabunda.

Os anjos não estavam aqui, então desabafei com os demônios.

Eu tento respirar, as lagrimas caem, cansei de contar até 10.

Até o oxigênio machuca.

Tudo dói, nada me basta, eu não basto.

Essas palavras são minha anestesia, então, por enquanto, eu ainda estou aqui.

Isso não é um livro.Where stories live. Discover now