#1: "Contágio" (Primeira Temporada)

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Eu morava em Corssamar, uma cidade ao noroeste. No distrito de Palomino. Era um lugar bem pacífico antes do pesadelo todo ter começado... Á princípio, eu estava no escritório do meu trabalho. Enviando alguns relatórios que o meu chefe havia pedido. Eram muitas cores diferentes de folhas por ali, e seria necessário cautela para não mandar o arquivo errado. Tudo isso apenas para ganhar um salário bem razoável. Enquanto trabalhava, um companheiro de trabalho - que estava numa mesa ao meu lado - se inclinou até mim, sussurrando para que meu chefe não escutasse: "Ei, Lucas!" - Virei-me ao loiro e magro homem. Porém, de canto de olho, para que meu chefe não visse, perguntando: "Que foi, Ulisses?" - Ele respondeu, em igual tom: "Tá sabendo das últimas?" - Tornei a teclar no computador e disse, olhando a tela: "Não... Quais?" - Ele explicou, também voltando seu trabalho: "Foi no jornal da noite que eu vi... O jornalista não entrou muito nos detalhes, mas parece que tem uma epidemia surgindo!" - Não acreditei muito naquilo. Pois notícias falsas apareciam com muita frequência. Repliquei, descrente: "Tem certeza? Pode não ser verdade..." - E tomei uma xícara de meu café.

O homem replicou com seriedade, sussurrando: "É sério! Toma cuidado se ver algo estranho pela rua!" - Nosso chefe nos interrompeu, andando até nós dois: "Espero que a conversa seja sobre o trabalho..." - Ele havia nos ouvido conversar... Mas parece que, felizmente, não ouviu o conteúdo da conversa. Falei-lhe, ajeitando os papéis de minha mesa: "Er... Sim, senhor Ortiz. Estávamos falando sobre os relatórios!" - Ulisses concordou de imediato: "Exato, chefe. Não se preocupe..." - O careca e baixinho senhor Ortiz explicou, se apoiando numa das mesas: "Preciso que enviem esses relatórios até o fim do dia. Se puderem voltar às atividades, eu seria bastante grato!" - Limpei a garganta e garanti que enviaríamos tudo logo. Meu chefe concordou com a cabeça, sério. E tornou a passar por entre as outras mesas, com bastante pressa. Ulisses voltou-se rápido a mim, concluindo: "Cuidado por aí, hein." - Respondi, pegando dois relatórios da escrivaninha: "Pode deixar. Obrigado."

Voltei-me à tela do computador, e pensei comigo mesmo: "Ah... Nem deve ser tão sério assim!" - Porém, a palavra "Epidemia" insistia em passar por minha cabeça. Olhei várias vezes para o relógio, tenso. Passado alguns minutos, deu a hora do almoço. Todos pararam suas atividades naquela hora para comer. Levantei-me e fui até o elevador. Saindo do prédio, fui andando até o restaurante mais próximo. Quando entrei no local, um som de conversas aleatórias ressoou pelo local. Várias pessoas se assentavam nas mesas. O que me surpreendeu de certa forma, afinal não era normal que ali ficasse tão cheio numa quarta. Fui até a fila para fazer minha comida. Peguei uma bandeja, um prato e arrumei meu alimento. Depois de fazê-lo, sentei-me numa cadeira perto de uma das janelas. Me acomodei, e observei as flores brancas em cima da mesa em que estava. Elas se mexiam ao vento da janela aberta. Enquanto as observava, uma das televisões - que estava virada pra mim - mostrou uma notícia de última hora. Onde uma mulher sardenta e loira começou a falar informações: "Boa tarde... Sou Christine Fink..." - O som de sua voz, porém, era quase impossível de ser escutado. Pois as pessoas à minha volta falavam num volume mais alto do que o da TV (que já era bem baixo). Forcei a audição para tentar entender o que era dito. Porém, só entendi algumas poucas palavras: "Vírus... perigo... calamidade... governo..." - Após a notícia de última hora, pensei bastante naquilo. O temor começou a tomar conta de mim. Tentei com muita dificuldade ignorar aquilo. Depois de ter terminado o almoço, voltei ao meu local de trabalho.

Passado o término do expediente, desci até o andar da garagem para pegar meu Conversível. Alicia, uma amiga de trabalho, pegou seu Quatro por Quatro e falou, antes de entrar em seu veículo: "Tchau, Lucas! Até amanhã." - E acenou. Respondi, acenando também: "Tchau, Alicia! Toma cuidado aí pela rua, hein." - Este aviso fiz sem prestar atenção. Estava com as notícias em mente, e não queria que ninguém se machucasse. Entrei em meu carro e me dirigi até a saída, onde as ruas já estavam escuras e com pouco movimento. Pisei o pé no acelerador para voltar logo para casa, enfrentando um longo engarrafamento no caminho. Seguido por um festival de buzinas e xingamentos entre motoristas. Nada muito fora do normal. "Perfeito... Eu precisava mesmo disso!" - Bufei, com sarcasmo. Após o tráfego infernal, cheguei finalmente em meu lar. Depois de estacionar o carro, abri a porta de casa, exausto. Tomei um rápido banho e joguei-me em minha cama. Caí no sono sem grandes complicações.

Acordei às seis da manhã. Levantei-me, pus minha roupa e fui até a padaria para comprar alguns pães e um pouco de queijo. Saí pela porta, e meus vizinhos não estavam lavando suas plantas, nem o carteiro passou naquela hora. Não haviam carros nas ruas, e alguns postes estavam quebrados. Olhei para a calçada e observei um rastro de sangue pelo asfalto. Refleti, assustado: "Meu Deus... Mas o que...?" - Decidi ir até a padaria. Lá, poderia haver alguém que pudesse me explicar o que se passava. Andei em passos largos na direção do local, que também estava bastante destruído e acabado. Fazia um enorme calor por ali. "Olá?! Tem alguém aí?" - Questionei, em voz alta. Sem resposta. Perguntei novamente: "Olá?! Alguém está aí?" - Então, ouço uma voz logo atrás de mim. Porém, não era parecida com nada humano. Tinha um som mórbido e ameaçador. Um lamento perturbador. Aquilo foi o começo do pesadelo... Me virei lentamente até a fonte do som e, ao fazê-lo, recuei assustado.

Aquela coisa tinha o rosto totalmente desfigurado e putrefato, com algumas moscas passando em volta. Os lábios não mais existiam, o que fez seus dentes amarelos aparecerem. Isso além de sua roupa, rasgada e suja. Me afastei mais daquela visão, nauseado. A coisa veio caminhando desajeitadamente até mim. Corri daquilo, indo até a entrada de vidro da padaria. Porém, em minha fuga, tropecei na calçada. Indo ao chão. A criatura veio caminhando até onde eu estava. Me alcançou e caiu em cima de mim. Babando e grunhindo vorazmente, numa tentativa de me morder no rosto. Afastei a coisa com uma das mãos, e tateei em volta do chão com a outra, tentando achar algo que me ajudasse. Achei um cano feito de metal. Peguei-o com a mão direita e acertei aquela coisa bizarra, que foi ao chão com a arma branca presa na cabeça. Levantei-me com dificuldade e limpei minha roupa, olhando aquela horrível cena. O sangue escorria sem parar da testa do sujeito. "O que... O que é você?" - Balbuciei, perturbado. Peguei a arma de metal pela parte que não havia sido suja pelo sangue, e comecei a andar pelas ruas. Buscando achar alguém por ali. Alguém com feições humanas... Olhando ao meu redor, achei uma bicicleta prateada caída no outro lado da rua. O lado oposto ao da padaria. Fui até bicicleta, levantando-a e pondo o cano metálico na cestinha. Ao lado do transporte, havia um rádio preto que parecia funcionar. Agachei e peguei-o, e também o pus na pequena cesta. Então, com uma enorme pressa e sentimento de confusão, pedalei pelas ruas. Subitamente, ouço uma voz vindo do rádio: "Câmbio...!" - E sua fala foi coberta por chiados, que pararam logo após: "Câmbio! Tem alguém aí?" - Capturei o dispositivo com uma das mãos enquanto pedalava, e respondi: "Sim! Sim! Estou ouvindo. Câmbio..."

O estranho do outro lado pareceu se sentir mais calmo, falando: "Ah! Graças a Deus!! Pode me informar sua localização?" - Respondi, contornando uma rua: "Peraí... Quem é você?" - O desconhecido apenas argumentou: "Alguém que quer permanecer vivo tanto quanto você... Me fala onde você tá. Podemos nos ajudar..." - Pensei um pouco, e revelei: "Na Rua Riveros, perto de alguns prédios e um local de construção... Mas... O que tá acontecendo?" - E parei de pedalar, observando melhor o território à minha volta. O desconhecido replicou, ofegante: "Tá certo! Olha... Eu te explico depois. Estou na Avenida Boaquintas. Acha que pode chegar até aqui?" - Respondi, ainda parado na bicicleta: "Tá... Eu... Eu acho que sim. Mas não pode mesmo me dizer o que tá havendo? Porque as ruas tão vazias...?" - O homem cortou meus raciocínios, dizendo: "Escuta! Te falo tudo depois. Mas, me encontra nesse lugar... Ah, e cuidado com os..." - A última palavra, porém, foi coberta pelos chiados. E o estranho falou, por fim: "Boa sorte! Câmbio e desligo!" - Tentei questionar o que ele havia dito, mas o homem já havia desligado. A comunicação foi terminada. Falei baixinho, olhando o local de construção: "Obrigado... Vou precisar." - E atirei o dispositivo de volta na cesta da bicicleta. Tornei a pedalar, indo até o destino falado pelo homem do outro lado do rádio... Mal sabia eu que minha vida tomaria um rumo totalmente inesperado à partir daquele estranho dia.

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