#3: "Gasolina"

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De olhos fechados, aproveitei para me recostar um pouco e tentar recuperar meu sono perdido. Um forte vento adentrou a casa, fazendo com que a porta entreaberta do local se abrisse totalmente. Batendo bruscamente na parede, o que fez com que eu abrisse os olhos. Um papel quadrado voou da sala até meu colo. Parecia uma fotografia... Peguei a folha, virando a parte da frente para mim. Na foto, reconheci Tommy, porém estava sem barba e com o cabelo cortado. Junto dele, havia uma mulher loira de olhos verdes que abraçava-o. No fundo, uma montanha russa. Se encontravam num parque, e o dia estava ensolarado. Subitamente, ouvi a voz do sobrevivente, ecoando pela casa: "O que está fazendo?" - Respondi, botando o papel ao meu lado: "Nada demais..." - Ele foi até mim, não se convencendo. Ao pegar a foto e ver do que se tratava, uma leve lágrima passou pelo seu olho esquerdo, indo ao chão. O homem começou a falar, com o papel ainda em mãos: "É a minha esposa..." - E olhou novamente para a fotografia. Questionei depois de uns segundos, tomando o devido cuidado: "O que aconteceu com ela?" - Ele respirou fundo, sentou-se ao meu lado e explicou: "Depois de tomar conhecimento da epidemia, fugimos pelas ruas com um grupo de militares que vieram ajudar os moradores daqui. Eles iam nos pôr em um caminhão que nos levaria a um local seguro. Estávamos divididos em grupos. Porém, tudo saiu do controle. Os mortos nos emboscaram, e todos correram assustados. Os soldados não deram conta daquele número todo de pessoas, que andavam em direções opostas. E eu a perdi no meio da multidão de pessoas que fugia..." - Deu uma rápida pausa, então tomou a fala: "Eu... Eu fiquei desesperado tentando achar ela. Procurei por vários minutos naquele alvoroço. Mas, vendo que não conseguiria e que os mortos-vivos haviam dominado tudo, corri para dentro do único lugar que achei na hora. O tanque... Ele tava vazio, sabe?"

Consenti com a cabeça e pensando em suas palavras. Me encontrava calado e reflexivo. Tommy guardou a foto na mochila. Após isso, tomou em mãos as armas que veio buscar - uma escopeta KSG e uma pistola Colt .45 -, se levantou e foi andando até a porta. Deu uma última olhada no lugar e, relutantemente, disse: "Vamos? Temos trabalho a fazer." - Levantei-me, indo em direção à saída. Ao voltarmos para a rua, ele jogou a Colt .45 para mim, dizendo: "Pega aí!" - Capturei-a com a mão livre, a que não empunhava o cano de metal enferrujado. Vendo como segurei a arma de fogo ele perguntou, enquanto andávamos: "Sabe usar isso?" - Tomei a frente da caminhada, falando: "Sim... Eu tive treinamento com um parente meu." - Então, apontei com o dedo para uma casa esverdeada no fim da rua, dizendo: "É ali..." - Apertei o passo para ir mais rápido até minha habitação, no que Tommy me seguiu. Se movendo com dificuldade por causa da mochila. Ao entrar, observei meu lar. Ou melhor, o que um dia foi meu lar. Ficar naquela cidade seria bem perigoso... Falei para minha casa, com pesar: "Adeus... Foi bom enquanto durou." - Me movi até a porta, pondo a mão na mesma. Senti vontade de olhar novamente para minha casa. Porém, isso só me deixaria mais arrependido. Levei meus olhos à frente, decidido. Fora de casa, Tommy olhava a vizinhança de braços cruzados. Ao me ver, secou disfarçadamente algumas lágrimas, questionando: "Vamos?" - Repliquei, seriamente: "Vamos..." - Fui até a garagem, e peguei o controle para abri-la. O sobrevivente, ao ver o meu carro, falou surpreso: "Belo carro..." - Respondi, indo em direção ao veículo: "É... Foi difícil pagar por ele. Você vem?" - Tommy moveu-se rapidamente até o Conversível amarelo, analisando a carroceria.

"Esse aí é um Harvets, certo? É bem do estilo da empresa..." - Quis saber o homem. Questionei, abrindo a porta do carro com a chave: "Isso mesmo... Como sabe?" - Tommy dissertou, olhando o horizonte: "Eu trabalhava com carros. Era vendedor antes dessa merda toda..." - Uma caminhante cortou nossa conversa, cruzando a rua até nós. Me direcionei até a criatura, pronto para acertá-la com o cano enferrujado. Tom me interrompeu, dizendo: "Eu faço isso..." - E mirou com a pistola na morta. Falei de súbito: "Mas, o barulho não atrai eles?" - Ele apenas respondeu, esperando a caminhante se aproximar: "Que se dane... Quando eles vierem, estaremos bem longe!" - Ele então acertou um tiro certeiro na cabeça da criatura, que foi ao chão espirrando sangue da testa. Ao entrarmos em meu carro, falei: "Qual o destino?" - E liguei o motor, que ressoou como um ronco. O sobrevivente jogou as armas e sua mochila no chão. Na parte de trás do carro. E olhou-me, dizendo: "Pra qualquer lugar que ponha combustível..." - E apontou para o painel. Olhei os ponteiros, e percebi que a gasolina estava bem no final. Pelo estresse diário que passava no trabalho, botar combustível foi algo que nem havia me passado pela mente. Anunciei, dando partida: "Mas que droga... Olha, tem um posto de gasolina a alguns quilômetros daqui, no começo da Rota 47." - A resposta do homem foi: "Melhor irmos logo, caso não queiramos ficar parados no caminho. Depois, pensaremos num destino definitivo..." - Visualizei os ponteiros do painel novamente, e virei-me a ele, perguntando se estava pronto. Tom concordou com a cabeça que sim, e terminou: "Esse lugar já me causou dor de cabeça demais!" - Pisei o pé no acelerador, saindo da garagem. O homem abriu a janela e olhou para fora, dando uma última observada pela paisagem. Que desapareceu aos poucos conforme eu dirigia pelo caminho. Enquanto conduzia o veículo, senti fome repentinamente. Eu precisaria comer o quanto antes, se quisesse estar atento durante o dia. Um pão de queijo seria muito bem-vindo numa hora como aquela. Após sair da vizinhança, fiz minha trajetória até uma rotatória que me levaria à auto estrada. Retirei o rádio do bolso e pus em cima do painel. O dispositivo começou a chiar de súbito, e aquilo me alarmou. Olhei o objeto, com a esperança de que houvesse mais alguém tentando contato.

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