Capítulo 5

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Foi então que encontraram, no final de um corredor vindo em direção a eles, o primeiro curupira daquele andar. Mas diferente do andar superior, não havia nenhuma fresta ou sala vazia para se esconderem.

Precisavam pensar rápido.

– Vamos imobilizá-lo – cochichou Abi desesperada –. Se ele soar algum alarme, não teremos nenhuma chance!

– Calma, Abi! Não se precipite – Miguel a tranquilizou, colocando sua mãozinha de camundongo em cima da mãozinha da amiga –. Não teremos onde esconder o corpo dele e outro vai poder achá-lo. Apenas se camuflem, rápido!

O curupira já estava muito perto deles agora. A manobra que Miguel escolheu se provou ser a mais sensata e terminou dando certo. Os garotos ficaram imóveis e depois de alguns sofridos segundos, seus pequenos corpos adquiriram exatamente as mesmas cores da parede e do chão. A pouca iluminação que tinha ali facilitou bastante passarem despercebidos. Porém aquilo cansava muito e não havia mais nenhum ponto de descanso.

O curupira passou bem vagarosamente por eles, olhando para todos os cantos do corredor e, antes de virar numa bifurcação, olhou para trás. Os corações dos três batiam acelerados, mas precisavam se manter concentrados a qualquer custo. Os meninos só desfizeram a camuflagem quando não ouviram mais os sons dos passos do guarda.

– Se continuarmos assim, não vamos aguentar por muito tempo – Elisa arfava a plenos pulmões.

– Você tem razão. Precisamos achar logo esse tal carcereiro – completou Abi.

Eles ainda encontraram mais dois inimigos pelo caminho, antes de se depararem num corredor com uma pequenina sala aberta à esquerda. Antes de chegarem à porta, já era possível sentir um cheirinho bem gostoso de comida. Os estômagos dos garotos gritaram em protesto. Há dias eles não comiam nada decente.

Assim que despontaram no batente da porta, Abi espiou o que tinha dentro e foi logo seguida pelos seus dois amigos. Eles perceberam agora o que o prisioneiro queria dizer com não atacar diretamente o carcereiro. O homem era enorme, um tremendo brutamontes com cara de poucos amigos. Ele estava saboreando uma enorme coxa e sobrecoxa de galinha assada com arroz, caruru, vatapá e farofa.

O estômago de Abi deu um belo ronco novamente e sua boca encheu de água. Aquela visão era muito tentadora, mas eles precisavam mais do que nunca serem rápidos.

– Meu Deus! Quando aquele prisioneiro chamou o carcereiro de brutamontes, ele não estava brincando – cochichou Miguel tentando retirar os olhos da coxa de galinha que estava na mão do inimigo.

– Imagine levar uma surra desse cara. Não quero nem imaginar como deve ser a tortura por aqui – completou Elisa –. Mas como vamos imobilizar esse homem antes que ele soe qualquer alarme?

Eles ainda ficaram alguns segundos olhando o carcereiro devorar a sua comida, até que Abigail deu um pequeno sorriso e olhou para os amigos.

– Já sei! – Abi se voltou para a amiga e perguntou – Lisa, você pode tentar criar uma pequena distração para o carcereiro no corredor?

– Pode deixar, sem problemas – respondeu.

– Veja se consegue tirá-lo daqui por alguns segundos sem se denunciar, enquanto eu e Miguel preparamos uma armadilha – sugeriu Abi.

– Confia. Vou fazer isso com uma mão nas costas, aliás com um braço ferido mesmo – completou.

– Mas não precisa exagerar, viu? É só o tempo de eu deixar uma sobremesa bem gostosa para ele – enquanto Abi dizia isso, Elisa se afastava dos dois voltando pelo mesmo caminho que vieram.

Abigail e os Aliados Ocultos - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora