A paz são os outros

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Uma vez vi uma menina do outro lado da sala e não sei se foi a distância ou o modo como ela expressava suas dúvidas sem nenhum receio de ser julgada, mas eu quis ser igualzinha a ela.

Aí o tempo passou. E eu não fui igual a ela.

Nem ela foi igual a ela.

Ou melhor, a versão dela que eu criei na minha cabeça.

Sei disso porque depois que o tempo passou, curiosamente, nos tornamos amigas. E um dia, caminhando pelo Centro da Cidade, um tanto quanto ébrias, ébrias o suficiente para conversar em francês sem nenhuma razão específica eu falei:

Je suis fatiguée – estou cansada em francês, porque se tem uma coisa que eu sempre estou é cansada.

De tudo, em geral.

E na noite ébria andando no Centro da Cidade não foi diferente.

Então a menina falou:

— Queria ser assim, falar francês igual a você.

Tive que explicar que eu não falava francês coisa nenhuma, que só sabia frases pontuais, como expressar meu cansaço, que era algo que eu pretendia aprender a fazer em todas as línguas.

Também tive que explicar que eu também já quis ser igual a ela. E sentar do outro lado da sala. E me sentir segura ao expressar minhas dúvidas.

Ela riu e afirmou, cheia de ênfases, que era uma bagunça. Eu reforcei que ela parecia uma bagunça organizada. E assim a gente chegou a conclusão de que era muito mais fácil enxergar a paz nos outros.

Principalmente quando se olha à distância, como no outro lado da sala, ou na ponta oposta da calçada.

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O que vocês fazem quando estão com bloqueio criativo? 

Eu fiz esse textinho. 

E pra não estender minhas lamúrias nas notas de um texto tão pequeno, vou falar mais sobre esse período trevoso no meu grupo de leitores chamado: OLIVETES de Aimee Oliveira (nos vemos por lá?).

Beijos saudosos e estrelados <3  

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⏰ Last updated: Apr 06, 2018 ⏰

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