II -A escolha

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"A decisão é, frequentemente, a arte de ser cruel a tempo." -Henry Becque


[Sem Revisão]






[Isla]

O Café Social, um nome ridículo para uma cafeteria tão esnobe quanto o título, é o local onde trabalho como atendente de balcão, barra garçonete, barra faxineira, que é frequentado por clientes ainda mais ridículos e mesquinhos do que a mente humana pode suportar em um turno que dura entre dez a onze horas, isso quando não há horas extras a serem feitas, seis dias por semana.

É um verdadeiro teste de fé e sanidade ter que manter um sorriso ensaiado no rosto enquanto faço um malabarismo servindo tortas, café e chás gelado, para a nata da sociedade que pode pagar uma pequena fortuna nessas refeições e aproveitar o momento para tirar o pouco do meu sossego com seus dramas e chiliques.

-Saindo o pedido da mesa cinco! -Paris, o chefe da casa grita da cozinha, a sineta é tocada em seguida e sei que sou quem deve levar o pedido.

-Estou indo. -me apresso em pegar a bandeja com o pedido e no caminho observo o que a mesma contém.

As pessoas tem a mania dizer que você é o que você come, que o que você ingere mandando para dentro do próprio corpo diz um pouco sobre você.  Baseando-me nessas baboseiras sem sentido, gosto de pensar que conheço em parte o cliente a ser atendido simplesmente pelo fato de observar seu prato.

Olho para a que está em minhas mãos e checo: Torta de limão com raspas de chocolate, café preto, forte com pouco açúcar... uma escolha sóbria, sem frescuras e de sustância. Um homem talvez? Na casa dos trinta a quarenta anos de idade, provavelmente.

-Boa tarde, seu pedido, senhor. -anuncio minha presença aproximando-me pelas costas do cliente, que como eu supunha é um homem. 

Paro ao seu lado e começo a tarefa distribuir a refeição sobre a mesa sem fitar seu rosto, concentrada em não derrubar nada durante o processo.

-Boa tarde, mocinha. -ele responde.

Sua voz grave quase me faz perder o equilíbrio da xícara contendo o café, porém com uma agilidade impressionante, o homem me ajuda a evitar o desastre ao firmar minhas mãos vacilantes até que eu deposite a louça cara e refinada sobre a mesa em segurança.

-Desculpe, não quis assustá-la. -ele ri, contrariando minhas expectativas anteriores de que levaria uma bronca pelo deslize, e eu olho para seu rosto imediatamente tendo um sobressalto no mesmo instante.

-Professor Blake! -exclamo surpresa ao notar o professor de literatura em trajes tão atípicos como a jaqueta de couro preta que usa no momento, e a falta dos fiéis e inseparáveis óculos de grau de armação quadrada.

-Acho que está se dirigindo ao Blake errado, mocinha. -ele responde em um tom brincalhão e pisca um de seus olhos verdes para mim.

Fito-o confusa. Por que de repente o senhor Blake está agindo de forma tão estranha e me olhando desse jeito esquisito? Como se estivesse se divertindo com a situação ou talvez interessado em me constranger.

-Imagino que deve estar confusa. -ele prossegue, um meio sorriso nos lábios. -Muito prazer, sou Andrew Blake, irmão gêmeo e três minutos mais novo do professor Blake. Muitas pessoas costumam nos confundir, e Derek quase tem uma síncope toda vez que isso acontece. -ele ri. -Você  tem que ver um dia, mocinha, é hilário. -ele comenta de maneira displicente enquanto sorve um gole do líquido negro e corta uma fatia de torta ocupando temporariamente a boca.

Me Ame -DegustaçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora