IV -Em ação

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"Tudo que eu faço pra me suportar desde cedo
Tudo que eu passo em segredo
A lágrima oculta por trás do sorriso
Eu preciso lidar com meus medos

Dias passam, nada muda
Digo que tô bem, mas preciso de ajuda
Nado contra a dor, mas me afogo na culpa
Vocês me ouvem, mas ninguém me escuta

Eu tô bem -Luís Lins



[Theodoro]

Quando finalmente deixo que Isla Tibuco saia do meu carro sei que temos um acordo e que a garota, mesmo contrariada, não irá dar para trás com o plano agora. Tenho sua palavra e ela tem a minha, e sem ao menos saber o porquê, sei que isso basta.

Um pouco de culpa atinge minha consciência enquanto dirijo pelas ruas da cidade e aproximo-me cada vez mais do bairro em que moro. Sei que não é certo forçar uma pessoa que mal conheço a fazer parte de algo que não lhe agrada, porém o que posso fazer? Não planejava estar onde estava quando tudo aconteceu. O que sei é que quando me vi já estava avançando para cima daqueles babacas aproveitadores, não que eu me sinta muito diferente de algum deles nesse momento, porém, por mais imbecil e idiota que possa ser, jamais em toda minha vida fiz ou faria o que aqueles escrotos pretendiam com uma garota sozinha e indefesa.

Mas isso não isenta minha parcela de culpa pelo modo como estou agindo, abusando do senso de dívida de uma menina que mal conheço. Ah, dane-se essa droga de consciência que insiste em me apontar o dedo acusador. O que está feito, está feito e não tem como voltar atrás agora. No fim vai dar tudo certo e cada um seguirá com sua vida normalmente como se nada tivesse acontecido.

Estaciono de qualquer jeito sobre o gramado na entrada de casa pois estou com muita preguiça de percorrer mais alguns metros até a garagem que é o lugar ideal para estacionar o veículo. Deixo minha chave sobre o aparador após fechar a porta principal atrás de mim e sigo para meu quarto. Tomo uma ducha rápida e quente para tirar a sujeira da rua e assim que me deito sobre o colchão super macio da minha cama king-size, capoto adormecido de tanto cansaço. É, o dia de hoje realmente tinha sido bem longo e cansativo.

Acordo sentindo todos os meus músculos doloridos e pesados. Arrastando os pés como um condenado, me obrigo a vestir uma roupa minimamente decente e digna para o dia, e desço em direção a cozinha para fazer meu desjejum. Quem sabe assim essa enxaqueca dos infernos me deixe em paz e alguns minutos de exercícios na piscina alivie as dores musculares.

-Bom dia, bundão. -nem me assusto quando minha irmã diz do outro lado cozinha em um canto escondido, enquanto gira entre os dedos uma latinha de energético que provavelmente acabara de beber.

Stella me fita com os olhos felinos estreitos, lábios cerrados e o constante ar de deboche que sempre lhe acompanha.

-Péssimo dia, peste. - respondo ao abrir a geladeira e tirar o leite de dentro. -Cadê a mãe e o pai? -pergunto ainda sem olha-la.

Despejo o cereal até a borda da tigela que já está transbordando de leite e acabo fazendo uma enorme bagunça sobre a mesa. Mas não me importo. A empregada limpa tudo depois.

-Nossa mãe está em reunião com uns acionistas ou algo semelhante... Já o nosso querido papai viajou essa madrugada para Seattle para fechar uma conta das grandes. -ela dá de ombros fazendo pouco caso.

-Hum... como sempre. -estalo a língua em desaprovação e me sento ao redor da mesa para comer meu café da manhã.

Um silêncio pesado recai sobre a cozinha e nenhum de nós dois faz nada para mudar. Essa peste esquisita e mimada que chamo de irmã, apenas fica encarando-me com um olhar avaliativo e incômodo enquanto me alimento. Em poucas colheradas ansiosas termino de esvaziar por completo minha tigela de cereais e a jogo sobre a pia.

Me Ame -DegustaçãoWhere stories live. Discover now