A Sombra.

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Estava quase dormindo quando notei um estranho vulto ao pé de minha cama.
Deixei para lá, achando ser coisa de minha mente perto do sono criando coisas.
Resolvi por procurar sobre essas coisas no Google. Uma vastidão de vídeos e relatos. Achei algumas coisas bastante interessantes, mas nada era igual a experiência por mim vivida.
Logo a tarde fui ao encontro das outras meninas perto de casa, sentamos em um dos muitos bancos da praça, olhando o pequeno lago, conversamos por horas.
Quando resolvi falar sobre o que havia se passado na noite anterior.
Uma de minhas amigas sentiu calafrios só de imaginar tal sombra posta aos pés da cama.
- Nossa como isso pode acontecer?
- Mas não tinha uma forma, ou rosto que pudesse ser visto?
Desculpa mas não consegui ver nada, além de uma forma escura como uma fumaça.
Senti um arrepio na espinha, que fez meu coração gelar. Sabia que a presença junto comigo no quarto não era uma coisa boa.
Há um tempo atrás eu li sobre aparições, e de verdade sei que tudo que li é sério.
O cheiro descrito no livro era idêntico, como se minha mente me pregasse uma peça.
O frio assim como os lampejos de coisas e pessoas que nunca vi.
***
Senti uma coisa passar por cima das minhas costas. Pensei que fosse um de meus gatos, mas isso deslizou pelo cobertor, até sair da cama junto aos meus pés.
Na manhã seguinte, levantei e resolvi procurar meus gatos. Tive a surpresa ao ver que os quatro estavam espremidos no fundo de uma de minhas gavetas.
Tinham os olhos fixados, como se estivessem enxergando alguma coisa no fundo do quarto próximo a minha cama.
Me virei lentamente, sentindo um ar gélido soprar o meu pescoço, quando minha visão periférica notou o movimento de algo sumindo no canto da cama.
Fui de imediato falar com minha mãe, que por sua vez não acreditou em nada que eu falei.
Então terei de achar minhas próprias respostas.
Encontrei em uma busca no meu computador, uma loja afastada na cidade que vendia artigos de magia.
Fui rapidamente até a loja.
Ao entrar um estranho sino avisava a minha passada pela porta.
Coisas que nunca havia visto ou imaginado que existissem.
Uma senhora veio até o balcão com certa dificuldade.
- Boa tarde menina, o que veio procurar em minha loja?
Em meio aos vidros com líquidos e criaturas estranhas, também havia várias estantes com grandes livros.
Então ao terminar de vislumbrar os artefatos dispostos em suas prateleiras, contei sobre o acontecido.
A resposta dela foi apenas uma risada larga.
- O que você pode me dizer sobre os livros que tem em sua casa?
Com um olhar penetrante, parecia que podia enxergar minha alma.
- De fato tenho livros que falam sobre os espíritos, mas nada pude achar neles.
Busco resposta sobre o que está em meu quarto.
- Preciso saber onde mora!
Após dizer o endereço, a senhora se ausentou do balcão. Se dirigindo aos fundos da loja.
Fiquei me perguntando o que teria se passado para que aquilo estivesse na minha casa, não recordo de ter chamado nenhum espírito.
- Veja menina, esses jornais! Olha a data de quando tudo aconteceu!
Fiquei perplexa com as fotos, eram da minha casa, a casa que moro com minha família.
Primeira notícia do jornal local.
Nossa o que havia ocorrido era sério.
- Em 1926 esse era o morador da casa onde hoje vive sua família.
Esse senhor aqui de costas, nunca foi descoberto e essa foto era só uma hipótese na época.
Acharam ao todo 43 corpos enterrados no jardim, todas jovens mulheres da mesma idade, com as mesmas marcas aparentes. Todas foram mortas no mesmo horário em dias e meses diferentes.
- Diga menina o que mais deseja sobre sua casa ou aqui em minha loja?
- Desculpe senhora, mas de verdade não sei mais o que vim fazer aqui.
Sai com dúvidas e uma coisa atordoante aos ouvidos, como se alguém falasse comigo em uma língua que nunca ouvi.
Ao chegar em casa fui até o porão, havia coisas dos antigos moradores que minha família vinha guardando a anos. Pensei estar ali a resposta de tudo aquilo.
Roupas, fotos, móveis e mais uma infinidade de coisas inúteis, estavam diante de meus olhos naquele momento, quando notei algo mudar de posição pelo canto dos olhos.
Me virei com os olhos arregalados, minhas mãos tremiam, minha respiração ofegante e aquele maldito frio na espinha.
Pude notar que era apenas um de meus gatos, deitando em cima da velha cristaleira.
Fui até o pobre bichano para lhe fazer carinho. Notei pelo reflexo dos vidros uma sobra desigual pela posição da luz precária ali em baixo.
Desta vez não me virei, me controlei e esperei até que aquilo fosse embora.
Mas a sombra se movimentou indo ao encontro de uma espécie de criado mudo no canto da parede, tamanha foi a força ao abrir a gaveta, fazendo ela ser projetada atingindo a parede do outro lado do sótão.
Meu corpo com espasmo pelo pavor causado pela presença. Tentei sair o mais rápido, mas o pavor só crescia, não podia me mexer.
Aquilo estava jogando tudo ao chão, causando um terrível barulho lá em baixo, achei que alguém logo estaria ali para ver o que acontecia.
Parecia que horas se passavam e ninguém ouvia todos aqueles objetos sendo lançados ao chão.
- MÃE PELO AMOR DE DEUS ME AJUDA!
Seria isso que eu gritaria agora. Mas minha voz não saia, isso me causa mais pavor.
Tentei fazer barulho, me mexer, mas era em vão nada que eu pensava dava certo.
A estranha sombra ficou ainda mais escura tomando o tom negro, estava ganhando formas mais definidas. Se virando e parecendo que vinha ao meu encontro. Sentia como se mil agulhas estivessem sendo enfiadas pelo meu corpo todo.
O ambiente estava extremamente frio, podia ver minha respiração. Meu coração parecia ter parado. A sombra estava cada vez mais próximo.
Meu gato estava arrepiado, parecia ver a coisa a minha frente, por um momento ele permaneceu imóvel. Saiu emitindo um estranho miado longo e se jogando em tudo que havia pela frente.
Pronto agora era só eu e a sombra, ela parecia não se importar com nada ao redor, estiva destinada ao meu encontro. Novamente aquele cheiro repugnante, parecia algo podre com urina. Quase não podia respirar. Cada vez mais se aproxima a hora do meu encontro com aquilo que me assombra em minha própria casa.
- Saia enquanto pode! Uma voz rouca.
Sinto um enorme impacto em meu corpo. Estou no chão caída ao lado da minha cama.
Mas como se estava agora mesmo no sótão? será que sonhei com tudo isso?
Estou cada vez mais confusa.
Prefiro estar em silêncio, ninguém vai acreditar mesmo.
Voltando para minha cama, escuto algumas batidas a porta.
- Quem é?
Não sei ao certo que horas são agora. Ao abrir a porta não vejo ninguém, mas escuto barulhos as minhas costas.
Já estou cansada das pessoas não dar ouvidos, dizem que sou louca, que estou querendo chamar atenção.
Acho que o único que poderá acreditar é o Jim.
- Alô, Jim?
- Sim o próprio! Em que posso ajudar?
- Jim seu bobo o caso é Dário, preciso conversar com você, tem muitas coisas acontecendo aqui na minha casa!
- sim, então podemos marcar...
- AGORA! Venha de uma vez, o mais rápido que puder!
Jim desliga o telefone, pega o carro e anda poucas quadras ate a casa de Enny.
Ela está sentada na cadeira de sua varanda!
- Nossa Enny o que te atropelou?
- Sempre com essas piadas. Mas vamos direto ao que importa!
Enny conta sobre todos os fatos, tudo que está presenciando. Fala sobre como se sente.
- Você é o único que pode acreditar! Sei que você está sempre em buscas dessas coisas.
- Só demorou pra notar né? Sabia que se fosse antes muito poderia ser feito, e hoje é bem capaz que nada disso estivesse acontecendo a você.
Assim que ele acaba de falar isso, um terrível guinchado é ouvido, vindo do andar de cima da casa.
Ele prontamente se levanta de só pulo, e nota uma silhueta na janela do quarto de Enny.
Falando sobre as coisas estranhas e antigas que havia acontecido ali na casa de Enny.
Um globo é lançado em direção a Jim, fazendo um barulho ensurdecedor. Pedaços de vidro são lançados de forma que atingem os pés de Enny.
- ENTÃO VOCÊ SE ACHA FORTE?
VAMOS VER ATÉ QUANDO ESSES TRUQUES PODEM DURAR, DIFERENTE DELA EU NÃO TENHO MEDO!
Enny está tremendo, como se um frio súbito tivesse atingido apenas o lugar onde ela permanece sentada!
Jim nota uma estranha nuvem negra passar pela fresta da porta  e se aproximar de Enny.
Ele resolve por entrar, ir até o quarto onde viu a aparição.
Ao entrarem no quarto, o local fedia como um curtume, aqueles lugares onde se preparam o coro para ser vendido.
Um frio perto da cama, o resto do local mantinha a temperatura normal.
Alguma coisa parece se arrastar pelas paredes, quando de um só golpe a porta se fecha com tamanha violência, que solta a maçaneta.
Um riso ecoa pelo corredor superior da casa, acompanhado de passos pesados, como se o dono usasse botas de chumbo e estivesse pulando a cada pé colocado no chão.
- Enny, me escuta. É exatamente isso que ele quer. Cada vez mais seu medo cresce mais forte ele fica. Vamos pensa em qualquer outra coisa, tenta não escutar o que está acontecendo aqui.
- JIM ATRÁS DE VOCÊ!
uma estranha figura com asas parece surgir do canto da parede, com enormes chifres dobrados para os lados, uma calda enrolada em seu braço esquerdo. Derrepente o quarto passa a ter um calor insuportável, parecendo uma estufa, Enny e Jim mal podem respirar.
A criatura tem um brilho estranho um tom preto vivo, que faz contraste com o vermelho de seu corpo.
As janelas se abrem como se um furacão entrasse por elas acompanhado de gargalhadas e palavras insultando Cristo. Assim que os dois se viram para a criatura novamente, ela havia sumido. As vozes riem zombando dos dois no quarto, escritas aparecem nas paredes insultando o santo nome de Cristo. Palavras escritas em inúmeras línguas. A sorte que o Jim consegue ler em latim.
- Enny não se lembra de nada estranho que possa ter feito?
Será que por ventura não utilizou algo para obter respostas de espíritos?
- Você deve estar maluco, sempre soube o medo que tenho dessas coisas! Agora acha que eu iria estar falando com eles a troco de que?
As batidas se intensificam, as gargalhadas ecoam pelo corredor. Batidas na porta e paredes. Enny está cada vez mais assustada com relação do espírito.
- Jim, o que eles querem na maior parte das vezes?
- Possuir alguém! Sempre fazem a moléstia pra isso. Vão enfraquecer até a pessoa não aguentar mais, assim fica fácil a entrada para dominar o corpo.
- Quer dizer que isso quer se apoderar do meu corpo, viver como se fosse eu?
- Quase isso Enny, na verdade ele irá tentar te matar, mas para sua sorte eu estou acostumado com isso. Conheço as artimanhas do capeta, sei como esses diabos trabalham.
Uma estranha silhueta toma forma usando um lençol, parte correndo em direção aos dois!
Eles parecem estar sendo atingidos por uma fortíssima rajada de vento, assim que o lençol os atingi Enny é jogada do outro lado do quarto.
Jim corre para ver como ela está!
- Jim o que foi aquilo? Me ajuda por favor!
Uma voz estranha fala com Jim.
- Garoto se você for esperto irá sair agora! Volte de onde veio.

- O que te faz achar que é fácil? Vim até aqui para ajudar a Enny, então é isso que irei fazer!
Jim desce as escadas correndo, em busca de uma bíblia. Quando consegue uma com a mãe de Enny, tenta voltar o mais depressa ao quarto. Ao subir as escadas nota que algo o acompanha, um móvel de canto é lançado escada a baixo para que ele não suba!
- Sua tentativa é inútil! Irei chegar de qualquer forma.
A casa treme como se um gigante estivesse andando pelo seu telhado, os quadros são lançados em Jim, assim como outros objetos.
- ENNY ABRA ESSA MALDITA PORTA!
- Ela não está mais aqui seu idiota insolente! Agora vamos brincar com ela um pouco!
- Abra a porta para eu te ensinar uma brincadeira nova você vai  adorar!
A porta se abre devagar, Enny está no canto do quarto sentada ao lado da cama, hora ou outra levanta a cabeça para espiar. Suas feições são como um gorila raivoso, bufando e blasfemando.
- Cristo te chama idiota!
Uma risada estridente, com um rosnado. Um clarão com vários estampidos, o maldito tenta me atormentar.
- Jeremias é o seu nome! Eu sei que é seu nome. Vou te levar em breve assim como levamos essa menina. ELA NOS CHAMOU AQUI POR SUA CAUSA SEU IMBECIL. ESTAVA OCUPADO PARA NOTAR?
- cale essa maldita boca, nada que disser irá mudar minha visão. DEUS ESTA COMIGO, A TI ROGO PARA INTERCESSÃO DESTA ALMA, NAO VOS DEIXE NESTE MOMENTO DE AFLIÇÃO SENHOR!
- Deus não está aqui hoje seu idiota! Não iria notar se estivesse diante do seu focinho sujo!

Jim retira do bolso um frasco com água benta e lança em direção ao demônio, qua logo que fora atingido se contorce como se estivesse sendo queimado.
- EU ORDENO QUE ME DIGA SEU NOME DEMÔNIO!
Enny levita até ficar em cima da cama, seu corpo é arremessado diversas vezes ao teto.
- SEU NOME DEMÔNIO!
o corpo de Enny parece ser queimado de dentro pra fora, várias marcas e escoriações ficam visíveis em seu rosto pálido. A pela ressecada rasga como papel na altura das bochechas. Aquele terrível sorriso asqueroso não sai do seu rosto. Uma mistura de dor e deboche.
O corpo de Enny está parado no ar, um horrível cheiro de urina de gato com carne podre se espalha pelo quarto.
- AGARES, AGARES, AGARES!
- EU TE MANDO DE VOLTA DEMÔNIO SUJO E MENTIROSO, MANIPULA AS PESSOAS PARA SUAS BLASFEMIAS, DENEGRIR O NOME DO NOSSO SENHOR! VOLTA DEMÔNIO COM SUA LEGIÃO!
o corpo de Enny é largado sob a cama. As marcas somem imediatamente.
E

la recobra a consciência, pede que Jim se aproxime da cama.
- Eu fui uma completa tola, achando que um simples ritual iria juntar nossas vidas. Jim eu te amo, mas não sabia como falar pra você, estava sempre ocupado com seus estudos. Sinto que se havia alguma chanse entre nós, isso é um passado agora depois de tudo que fiz.
- Anny poderia ter morrido, quando deveria ao menos dizer o que sentia, eu sempre te olhei diferente, sempre te quis. Eu te amo sua louca!
O casal fica por horas entre olhares e carícias. Enny promete não buscar mais ajuda no óculto e queima os livros de rituais.
Jim continua seus estudos no campo dos demônios, agora com uma forte aliada!

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