1 - O Começo de Tudo

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Carolina

      Droga! Odeio dias chuvosos. Não compreendo como tanta gente gosta de dias cinzentos e frios como o de hoje. Eles são tediosos, demoram uma vida para passar. Gosto mesmo é de sol, céu azul e ar livre. Tem coisa melhor que pedalar no parque ecológico e depois jogar conversa fora com os amigos, comendo porcaria sob a sombra da minha árvore favorita? Se tem, eu desconheço.

― Carolzinha, olha o que eu trouxe para você. ― Gabriel me entrega um pacote.

Abro e sinto o cheiro de atum. Ele acha que vai me comprar com comida... Até parece.

― Biel, não faça isso. Não vai rolar. É sério.

― É apenas um sanduíche, não seja mal agradecida.

Sei. Como se eu não soubesse o quanto costuma sair caro essas demonstrações constantes de afeto. Gabriel foi meu namorado. Se é que podemos chamar aquilo de namoro... Tivemos uma historinha besta ano passado, mas a verdade é que nunca combino bem com caras da mesma idade que eu. Acho que preciso conhecer alguém mais velho, mais maduro, desses que sabem exatamente o que querem e não ficam por aí, fazendo mil besteiras e depois voltam, jurando amor eterno. Não tenho a menor paciência com esse tipo de comportamento. 

Gabriel fez a maior burrada que um homem pode fazer, na minha opinião. Ele tentou ficar com a minha melhor amiga numa festa que eu não pude ir. É óbvio que a Nanda me contou. Me ligou no mesmo minuto, estressadíssima, contando a babaquice do Gabriel. Ela não fala com ele até hoje.

Por falar nela, vem ela aí. Avista o Gabriel de longe e finge que vai vomitar, colocando o indicador na garganta. Ela se aproxima, ignorando a presença dele e se senta ao meu lado, me dando um beijo barulhento no rosto.

― Tudo bem?

― Tudo. Esse tempinho chuvoso é um tédio, mas eu precisava vir aqui hoje. Três dias sem vir ao parque é uma eternidade para mim. Precisava pedalar um pouco, me exercitar, dar umas paqueradas... ― brinco e Gabriel revira os olhos.

Deu uma estiada agora à tarde, então liguei para a Nanda e perguntei se ela não queria vir me encontrar. Veio toda encasacada, mas veio.

― Tô indo nessa. ― diz Gabriel, se afastando com seu jeans rasgado, caindo e mostrando quase toda a cueca.

― É sério que já namorei ele? ― Olhando agora, custo a acreditar.

― É sério, amiga. E o pior é que dei a maior força.

Rimos e ela se senta ao meu lado.

― Tudo bem? ― pergunta, me analisando.

― Tudo.

― Não parece...

― Meus pais estão reatando.

― Isso não é bom?

― Nem sei, Nanda. Só sei que os dois juntos eu não aguento. Eles estão pegando demais no meu pé, sabe? Implicam até com o tempo que passo fora de casa.

Ela suspira e dispara:

― Vi seu coroa saradão ontem.

Meu coração dispara. Faz meses que não vejo o Arthur.

― Onde?

― Na clínica. Fui com meu pai na consulta, lembra?

― Sim. Você o viu ontem e nem me ligou!?

Eu demorei um pouquinho para ter certeza de que era realmente ele. Está magro, abatido... Acho que está doente.

― Faz sentido... Se ele estava por lá, então está realmente doente, tadinho. Ele te viu?

Nosso Infinito (Completo na Amazon)Onde histórias criam vida. Descubra agora