3 - Trevo

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"Tu é trevo de quatro folhas, é manhã de domingo à toa

conversa rara e boa,

pedaço de sonho que faz meu querer acordar pra vida."

Carolina

Acho que perdi a noção da hora... Isso sempre acontece quando venho para a biblioteca da faculdade. É meu lugar favorito, junto com o Parque Ecológico. Por falar nisso... Droga, onde será que deixei meu pendrive com todo o conteúdo da minha pesquisa? Só pode ter caído debaixo da árvore, quando dei uma parada por lá, no fim da aula.

Corro para lá imediatamente, fazendo uma prece silenciosa para que eu o encontre. A pesquisa estava praticamente pronta.

Assim que saio das dependências da universidade, sinto os primeiros pingos violentos de chuva. Droga, lá se foi meu pendrive. Certamente ele não é a prova d'água.

Apresso meus passos, ignorando a chuva fria. Quando chego na minha árvore favorita, avisto meu pendrive cor-de-rosa, gotejado de chuva. Seco-o depressa na barra da minha blusa e jogo-o na mochila. Um trovão ensurdecedor me assusta, me fazendo encolher e raios furiosos iluminam o céu muito cinzento. Meu pai costumava nos dizer que Deus estava bravo com alguém, quando se formava uma tempestade assim.

Algo no píer me chama a atenção e quando olho, vejo um cadeirante subindo desajeitadamente no caminho de madeira. Não é possível. Será o Arthur, passeando no píer debaixo de raios e trovões? Ninguém nunca o avisou dos riscos que é?

A cadeira toma velocidade de repente.

― Droga! Não faça isso. Arthur!

Jogo minha mochila no chão, mas quando torno a olhar, só o vejo desaparecendo do meu campo de visão. Olho ao redor, procurando alguém que possa me ajudar. Não há ninguém por perto. Meu coração sacode desesperadamente sem que eu consiga raciocinar.

Corro até o píer, procurando por algum sinal dele. Nada! Será que foi imaginação minha? Foi tudo muito depressa.

O trilho por onde a roda molhada passou está desaparecendo sob as gotas insistentes. Não foi imaginação. Que merda!

Torno olhar ao redor, procurando alguém para me ajudar. A chuva se intensifica ainda mais. Não há opções. Tiro o casaco e salto nessa água verde e densa. Mergulho, tentando enxergar embaixo d'água, mas não dá. Meus pés tocam uma superfície dura. Parece metal. É a cadeira e está vazia. Merda. Merda. Merda!

Subo para pegar fôlego, olhando ao redor, em busca de algum indício dele. Vejo parte de uma jaqueta bege boiando e nado apressada até ela. E ele, já desacordado. Puxo seu rosto para cima, enquanto calculo por qual lado é mais fácil tirá-lo. Enlaço o corpo pesado de Arthur do jeito que dá para enlaçar e o reboco até a margem. Arrasto-o alguns metros e começo a massagear seu peito. Uma, duas, três vezes. Respiração boca a boca. Nada! Mais massagem cardíaca, mais respiração boca a boca. Só na quarta tentativa ele tosse, expelindo a água de seus pulmões.

― Graças a Deus! Arthur, fala comigo.

Ele tosse um pouco mais, esfregando o peito, tentando levantar-se, mas estou praticamente em cima de seu corpo. Então saio, puxando-o pela mão, mas me lembro de suas limitações e me coloco atrás de seu corpo, erguendo-o e apoiando suas costas.

―Você se jogou na lagoa? Ia se matar? Ficou louco? ― meu corpo inteiro treme, meu coração esmurra meu peito. ― Responda! Tentou se matar?

Saio de trás de seu corpo, ainda apoiando um de seus ombros. Não sei se ele consegue permanecer sentado sem apoio. Não conheço suas limitações.

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⏰ Última atualização: Mar 31, 2020 ⏰

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