2 - Decisão Errada

1.8K 229 55
                                    

Arthur

Não suporto mais tantas limitações. Já faz quase um mês que fiz a terceira cirurgia e a minha situação só piora. Me arrependi de não ter escutado a Milena. Por que eu fiz esse raio de cirurgia que terminou de ferrar com a minha vida?

― Quero voltar para o meu apartamento. ― digo à minha mãe que me olha assustada.

― Enlouqueceu? Não tem a menor condição de você morar sozinho, Arthur.

Respiro fundo. Estou muito acostumado com a minha independência. Moro sozinho desde os meus vinte e poucos anos e sinto a maior falta da minha casa, das minhas coisas, da minha solidão. Além do mais, está complicado fingir que estou bem, que não sinto dores excruciantes praticamente o dia todo. Não quero mais servir de cobaia médica. Toda vez que reclamo de dor ou de algum desconforto, sou levado a uma nova consulta, sou medicado, reavaliado, me prescrevem uma nova medicação, novos exercícios que não resolvem absolutamente nada. Cansei de tudo isso.

Passo a semana inteira repetindo para minha mãe que preciso voltar para casa. Acabo convencendo-a, mas tenho que concordar com várias condições. Uma delas é de ter uma espécie de enfermeiro comigo para me ajudar no dia a dia. Concordo, mas depois vou ter que me livrar dele. Meu plano não é ter alguém grudado em mim o tempo inteiro.

Volto para o apartamento no final de semana e logo que entro, já vejo as adaptações que minha família mandou fazer, tornando meu percurso e minhas necessidades diárias mais facilitadas.

Sei que devia me sentir feliz por eles sempre pensarem em cada detalhe, mas não me sinto. Me sinto derrotado, como se tudo isso fosse minha realidade nua e crua a partir de agora. Nunca vou ter minha vida de volta. Nunca mais vou correr pela manhã, antes de ir trabalhar. Todas as coisas que eu amava, se perderam naquele acidente. Minha vida está uma merda e não vejo possibilidade de melhorar um dia.

― Arthur, está tudo adaptado para você alcançar. A mamãe mandou instalar alças nos banheiros e outras coisas mais que você irá ver. ― diz Milena ― O enfermeiro vem amanhã cedo. São três, na realidade. Eles irão se revezar em plantões intermitentes.

― Não quero uma pessoa comigo em tempo integral. Não há necessidade disso! Posso muito bem ficar sozinho algumas horas.

― Bom, isso você resolve com a mamãe. Sabe que foi o combinado, não sabe?

― Sei. ― suspiro, disfarçando a dor aguda na base da minha espinha.

― Tá tudo bem?

― Só tô um pouco cansado...

― Ok, vamos para o banho? Prometi para ela que só iria embora quando você estivesse de pijama, quietinho na sua cama.

― Você não vai me dar banho, Milena. Onde já se viu uma coisa dessas? Minha irmã caçula me dando banho.

― Qual é o problema, Arthur?

― Eu me viro, Mi. Pode ir para casa.

Ela se senta no sofá, sem a menor pretensão de ir embora.

― Vá se virar então. Vou ficar aqui, para o caso de precisar de ajuda. Só vou embora quando você estiver no conforto da sua cama.

Já vi que são ordens superiores que ela não pode descumprir. Guio a cadeira para o meu quarto e abro o roupeiro. Encontro uma espécie de haste para que eu consiga tirar as roupas do cabide. Pego um pijama numa das gavetas e me direciono para o banheiro.

Não é fácil despir a parte de baixo com meu corpo tão limitado, mas tenho que aprender. Demoro um pouco, mas consigo. Tomo um banho demorado, me visto e volto a trocar a cadeira de banho pela cadeira de rodas eletrônica. Quando retorno à sala, Milena consulta o relógio.

Nosso Infinito (Completo na Amazon)Where stories live. Discover now