Capítulo 11 - Sobre o passado - Parte II

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- E você? – perguntou Gregory à Elliot – Conte-me como foram os seus dois anos. Acredito que aconteceram muitas coisas. Você está muito diferente!

Elliot sorriu bobo, suspirou e começou a falar:

- Depois que você foi embora... Eu fiquei aqui na árvore... Relembrando o nosso momento de alguns minutos atrás. Esperei que desse algum tempo, para que eu sem querer não corresse atrás de você e estragasse o plano.

Quando cheguei em casa. Coloquei o seu desenho em frente à minha cama. Para que todo dia que eu acordasse... Pudesse lembrar de você. Eu sabia onde você morava, nunca esqueci o dia em que fui lá e nós brigamos. Admito que várias vezes eu senti vontade de sair correndo pelas ruas de Riddley e bater na sua porta. Me imaginava várias vezes batendo lá... Você a abrindo... Nossos olhos se encontrando e... – riso – Você sabe.

O tempo foi passando... Fui me acostumando com a sua falta na minha vida. Aquele buraco dentro de mim continuava ali, mas aprendi a conviver com ele. E então eu simplesmente resolvi mudar... Sabe? Aquele menino triste, sentimental, depressivo, melancólico... Eu decidi que não valia a pena ficar demonstrando tanta infelicidade. Decidi simplesmente botar tudo para dentro, e mostrar o meu lado legal e menos assustador e que afastava as pessoas ao meu redor.

Passei a cuidar de mim. Da minha aparência. Deixei a preguiça e comecei a fazer exercício. E sabe? Isso me fez tão bem... Eu me sentia novamente vivo. Antes... Antes era como se eu estivesse vagando feito um espírito pela Terra. Ninguém me via, ninguém se importava com a minha presença... Ser invisível todo o tempo... Às vezes cansa.

Consegui algumas garotas. Passei a frequentar mais festas que era convidado... Fiz mais alguns amigos...

Aqueles três que ando, conheci no primeiro dia de aula na faculdade de Psicologia. Passei a acompanhá-los e percebi que aquele é o meu grupo certo. Sou meio que o pegador do grupo. Não que eu goste, mas... É meio o que eu virei. Passei a curtir mais a vida, ao invés de ficar preso a alguém, sabe?

E então... Ontem. Eu te vi no corredor da faculdade. A vontade de te gritar naquele momento foi quase incontrolável. Mas... A gente estava feliz. Sem causar o caos nas vidas das outras pessoas por nosso sentimento incontrolável, insano e proibido. E aqui estou eu. Na sua frente, contando minha humilde história de superação.

Gregory sorri e fala:

- Seus dois anos parecem que foram bem melhores e agitados que o meu.

- É... – assentiu – E eu ainda não acredito que você está namorando com aquela garota.

Gregory abaixou a cabeça e suspirou.

Aquele suspiro.

- Você não vai se separar dela por minha causa. Por favor.

- É...

- Não é justo com ela. Por mais que eu a odeie e queira esganar aquele pescoço... Ela não merece ter o coração partido.

Gregory dá um sorriso cínico.

- Eu...

- Você não vai, vai?

Parte de Elliot torcia para que sim... Mas a sua outra parte dizia que era um erro.

Suspiro.

- Tudo bem. Não precisa responder.

- É difícil de dizer. Não temos todo o tempo do mundo, sabe?

- O que? – Elliot não entendeu nada do que ele tinha acabado de falar.

- Nada...

Gregory estava tentado a dar um beijo em Elliot. Um único beijo... Só mais um para relembrar os velhos tempos... De quando eram só eles dois, e uma garota patricinha idiota que atrapalhava a relação deles.

Ele se inclinou um pouco em direção à Elliot... Elliot se inclinou um pouco em direção à Gregory. Olhos nos olhos. Se aproximam um pouco mais... As suas respirações ofegantes... Se aproximam um pouco mais... Suas testas... uma na outra... Se aproximam um pouco mais... Um nariz encostado no outro... Se aproximam um pouco mais... Seus lábios começam a ter um mínimo toque, os dois sorriem com o tão conhecido choque. Elliot se afasta depressa, Gregory ainda ficou esperando o beijo que não viera.

Ele toca os lábios que foram deixados em tentação e Elliot fala:

- Me desculpa... Não podemos. Lysa...

Gregory ainda aturdido apenas balança a cabeça concordando. Ele estava num mundo paralelo neste momento. Onde o beijo acontecia e podiam se tocar como faziam antes.

Era estranho para eles não poderem se tocar mais como antes... Amar e não poder beijar.

O tempo passou, e eles ficaram sentados naquela árvore de sempre. Olhando o lago de sempre. Até que o telefone de Gregory toca.

- Diga, amor. – ele tira o celular do rosto e sussurra para Elliot – É a Lysa.

Não me diga... Pensou Elliot em resposta e balançou a cabeça e ficou ouvindo a conversa.

- Ah... Onde você está? Certo. Tudo bem. Já estou indo. Não demoro.

Gregory se levanta e Elliot o acompanha.

- Já vai? - Elliot pergunta.

- Tenho que ir. Sabe como é...

- Hm...

Os dois ficam se olhando por alguns segundos.

- Tenho celular agora.

Elliot passou o número para Gregory e com um abraço longo e reconfortante os dois se despediram.

- Se encontrou com que menina dessa vez, Elliot? – perguntou Johanna.

- Foi um menino... Na verdade. – respondeu.

- Como assim... um menino? – falou Robert espantado.

- Está mudando de lado, Elliot? – perguntou Jacob – Quer dizer que sou o único hétero nesse grupo?

- Não é nada disso pessoal... – queria eu que fosse – É que eu reencontrei um amigo que não via há dois anos... E passei a tarde com ele.

- Que pena... - falou Robert – Estava começando a me imaginar ficando com você.

Elliot levantou uma das sobrancelhas, sorriu e falou:

- Bom. Continue imaginando. Só aí que você vai conseguir algo comigo.

Johanna e Jacob começaram a abusar Robert.

Uma mensagem.

Estou no hospital perto da lanchonete. Venha me ver. Tenho algo para dizer...

Tantas coisas ruins passaram pela cabeça de Elliot, tantas formas diferentes de doenças incuráveis, coisas fora do normal. E um único pensamento. Eu vou perdê-lo. E dessa vez será para sempre. Uma lágrima desceu dos seus olhos.

- Elliot? – Johanna percebeu – O que houve?

- Nada. – pegou sua jaqueta de couro, jogou no ombro e correu em direção ao hospital.

Johanna se levantou.

- Aonde vai? – perguntou Jacob.

- Vou atrás dele.

- Acho que se ele quisesse a companhia de alguém, ele chamava.

- Sempre fui uma penetra na vida dos outros. Não é hoje que deixarei de ser.

- Elliot! – gritou ela.

Ele parou de correr e olhou para trás.

Ela o alcançou e falou:

- Vou com você.

- Não precisa. Sério.

Ela o abraçou e falou:

- Mas eu quero.

Elliot a olha nos seus olhos castanhos.

- Juro. Se precisar de ajuda... Você será a primeira pessoa que ligarei.

Johanna o solta e pergunta.

- Jura pela vida da pessoa que você mais ama nesse mundo?

Elliot abaixa a cabeça, as lágrimas descem.

- Juro.

Pássaros EstranhosWhere stories live. Discover now