Capítulo 65 A inauguração

40 9 2
                                    


Estava tudo pronto para a inauguração. Até mesmo as compras de alimentos para o restaurante estavam feitas. Rafael havia contratado três ajudantes de cozinha e cinco garçons.

Apesar dos empreendimentos se ligarem e terem conexão entre si, na questão de negócios estavam separados. Como sócios da loja estavam apenas Lisa, Derek e Jonas, já com relação ao restaurante estavam apenas Derek e Rafael.

— Tudo pronto para hoje à noite, parceiro? — perguntou Rafael.

— Nem tudo, está faltando chegar o presunto de parma que compramos daquele revendedor amigo seu. Tem como dar uma ligada cobrando?

— Filho da mãe! A gente precisa do presunto pra salada de entrada.

— É verdade.

— A família da Lisa vai vir? — perguntou Rafael.

— Eu convidei, mas não sei, cara. Não sei.

— A Carolina tá trazendo toda a nossa família e amigos. Só a galera dela vai lotar isso aqui.

— Vamos repassar a noite, as pessoas pagaram um valor para provar todo o nosso cardápio, mas servido como finger food. Uma degustação geral de tudo. Quem vai recolher os ingressos?

— Contratei duas recepcionistas de uma agência pra cuidar da recepção. Estarão usando vestido preto e salto alto. Na estica.

— Perfeito. Você checou a temperatura do lambrusco?

— Tá tudo certo. E quero avisar que temos reserva pro próximo final de semana. Te falei que o release que a minha amiga assessora de imprensa enviou foi publicado em várias mídias? Nas redes sociais, tá bombando. Dei até entrevista para uma jornalista gata de um jornal local.

— Isso é bom.

— Ela queria te entrevistar, ficou encantada com a história do escocês que restaurou o sebo da namorada.

— Eu não vou expor minha vida e a da Lisa pra ninguém. Isso está fora de cogitação.

— Calma, tenha paciência que hoje vai ter jornalista aqui.

— Vou tentar me segurar para não ser grosseiro, caso perguntem coisas que não são da conta deles, mas não prometo nada. Não acho justo a gente inaugurar e a Lisa não estar fazendo parte. Me sinto traindo ela.

— Derek, depois a gente faz um tipo de reinauguração. A gente precisa trabalhar, parceiro. Investimos nosso capital nisso aqui, foram meses cuidando de cada detalhe. Agora é a hora!

— Tá, eu sei — concordou. — Rafael, mudando de assunto, eu não posso mais ficar com meu colchão aqui. Vou alugar um espaço pra mim, será que posso ficar na sua casa até arrumar um apartamento?

— Não precisa nem perguntar. Fique o tempo que precisar.

— Logo eu arrumo algum lugar. Agora que o visto está encaminhado, fica mais fácil fazer um contrato de aluguel.

— Demorou. Agora o que falta fazer?

— Vamos começar a fazer as sobremesas geladas, caso contrário, não vai dar tempo de gelar.

— Nós dois juntos de novo, como no bistrô de Paris. Vamos detonar! — disse Rafael.A inauguração do espaço foi bem-sucedida. Os pais, os irmãos de Lisa e o tio Paulo foram no evento, o que deixou Derek nervoso. Queria tentar impressioná-los, mas não sabia por onde começar.

---

Os presentes ficaram encantados com o local e o cardápio diferenciado. Jonas havia levado alguns artistas do musical que ele estrelava e todos ficaram de divulgar a casa, que aliava gastronomia, cultura e uma história de amor por trás de tudo.

Com a noite fresca, Derek estava encostado na parede na área externa que ficava nos fundos da cozinha. O local tinha entrada proibida para quem não era funcionário. Ele fugia do salão abarrotado de gente que o encarava.

— Tá difícil, né? Fazer isso tudo sem ela — disse Duda, o irmão de Lisa, aproximando-se.

— É perceptível que você é irmão da Lisa, entra em portas não autorizadas para quem não é funcionário — disse Derek, lembrando-se do dia em que ele perdeu a paciência com Lisa, após ela atrapalhar sua palestra.

— Não sei do que você está falando — disse Duda, com a boca cheia. — Só sei que ela deveria estar aqui.

— Todos os dias, eu acordava com foco nesse momento, quando terminaria tudo. E agora esse dia chegou e não sei o que vou fazer amanhã — confessou.

— Ouvi minha mãe dizer que a Lisa está indo embora. No começo, não queria aceitar, chorei dentro do meu quarto, mas, depois, eu pensei que pode ser que a Lisa queira ir, que sofra ficando presa naquela cama. Acho que temos que tentar entender que chegou a hora dela — disse Duda com o semblante triste.

O olhar de Derek para o garoto era de surpresa pela maturidade dele.

— Eu estou achando que não estou querendo aceitar o que talvez seja inevitável, que esse mundo ferrado, louco, insano, não é mais pra ela. Hoje eu ainda não estou preparado para isso, talvez amanhã eu esteja. Logo se vê que você é maduro, assim como sua irmã.

— Ela ficou muito infeliz quando terminou com você da primeira vez. Sei que meus pais te evitam para o bem dela, mas eu acho que eles deveriam te dar uma chance. Quando você está por perto, ela fica se olhando no espelho toda hora e até canta. Ela canta mal, mas não importa. A gente ama ela de qualquer jeito, né?

— Isso mesmo. De qualquer jeito — concordou Derek.

— Eu falei isso para meus pais e fiz greve de fome pra te convidarem para ir lá em casa.

— Não acredito nisso. Nunca mais faça greve de fome, é perigoso.

— Relaxa, eu só não almocei e jantei por um dia, mas comi biscoitos de chocolate, que estavam escondidos embaixo da minha cama.

— Ah! Aí, sim!

— Eles me pediram pra te convidar para um chá da tarde, no domingo, às 16h30 lá em casa. Aceita?

— Claro, ainda mais depois de saber o que fez, ou melhor, fingiu fazer.

— Então tá, a gente se vê no domingo. E, cara, esse lugar ficou maneiro. Curti.

— Obrigado. Também curti.

— Fui! Toca aqui, você é meu irmão agora — disse Duda, estendendo a mão fechada e batendo na mão também fechada de Derek. — Esse é o toque da irmandade — avisou o garoto.

— Agora já sei, obrigado por me avisar. 

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora