c a p í t u l o 14🌻

12.7K 871 33
                                    

Ana Clara

Às seis horas tomo um banho no pequeno banheiro de palha e depois ajudo minha vó com os afazeres de casa. Sigo até o mercadinho da outra vila e compro alguns ovos com o dinheiro que ganhei lavando as roupas de uma senhora.

Aproveito para passear por ali, observando as outras barracas e conversando com alguns conhecidos.

Não me demoro muito e volto para casa com o almoço. Por sorte tem farinha suficiente em casa, assim farei uma farofa deliciosa com alguns dos ovos que comprei.

Só peço comida na fazenda em caso de extrema necessidade, quando não consigo nenhum trabalho na outra vila, ou minha vó não consegue vender os seus artesanatos. Nesse caso, preciso ir mesmo à fazenda e correr o risco da Mariana ou dona Laura me pegarem por lá.

Chego em casa, encontrando minha vó deitada na rede do quintal. Ela gosta muita de ficar ali e eu me sinto bem sabendo que ela não está se matando de trabalhar.

Separo alguns ovos em cima da mesa e guardo os que sobraram para as nossas outras refeições.

— Oi, Aninha. — minha vó acena sorridente da rede.

Vejo-a pela janela da cozinha e aceno de volta.

— Estou passando o café, vó. — ponho a água para esquentar no nosso fogão de barro.

— Depois traga um pouco para mim, querida. — pede e volta a fazer seu crochê.

Assinto, pegando o pote de café e o açúcar no armário.

Amo a minha vó. Ela é a minha única referência desde que os meus pais me abandonaram com apenas cinco anos de idade. Parece que conseguiram um trabalho por aí e simplesmente sumiram. Desde então, vivo com a minha vozinha e agradeço a Deus por tê-la colocado na minha vida.

Não faço questão de rever os meus pais, já que parece que eles não dão a mínima para mim. Por isso, sou feliz com a minha única família: minha vó e em breve o meu Vinícius. Quando nos casarmos, vou pedir a ele para levar minha vozinha para a capital conosco. Não vou abandoná-la; isso está fora de cogitação.

Falando no meu príncipe, estou com muita saudade dele, embora o tenha visto ontem. Estou ansiosa para encontrá-lo hoje à noite.

Suspiro.

— O café, menina! — minha vó grita e eu me assusto.

Retiro o café fervente do fogo com cuidado e ela fica me olhando desconfiada.

— Desculpa, vó... me distraí.

— Você anda muito distraída ultimamente. O que está acontecendo, filha?

— Não é nada. — desconverso com o rosto vermelho e coo o café.

— Sei não... — balança a cabeça, entregando-me a garrafa vazia. — Você anda com a cabeça na lua esses dias.

— Prove o café. Acho que não está bom de açúcar. — coloco um pouco no copo e lhe entrego, mudando de assunto.

Ela prova. — Está bom. — murmura antes de voltar para a sua rede, resmungando.

Lavo as louças que sujei e pego uma cadeira de madeira, sentando-me ao lado dela lá fora.

Aspiro o ar fresco, sentindo a brisa contra meu rosto. Amo esse lugar. Aqui é muito calmo. O cheiro das árvores e o barulho dos pássaros me trazem uma paz inexplicável. Quando eu for embora com o Vinícius, vou sentir muita falta daqui.

Deito a cabeça no colo da vovó Mercedes e ela acaricia os meus cabelos.

— Sua mãe era muita parecida com você, meu anjo. — comenta com a voz distante.

A Redenção Do Bad BoyWhere stories live. Discover now