Não me leve a sério.

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Meu relacionamento com meu avô nunca foi dos melhores, ele sempre foi um homem trabalhador, cuidou de todos nós e sempre quer o nosso bem. As coisas não tem sido nada fáceis, a pouco tempo ele inaugurou um novo negócio e todos aqui em casa estão ajudando. Assim como eu, ele é um grande sonhador e também um visionário. Quando ele idealizou isso, não pensou em todos os passos, nem mesmo o mais simples, a paciência. Colocar todos os cavalos a frente do carro sempre manteve o transito parado, esperar as coisas acontecerem é bem complicado, é preciso ter fé.  Não sei se isso é bom, mas tenho me agarrado a isso, a fé e eu nem sei a que tanto me agarro. 

Tenho deixado as coisas acontecerem antes de tomar qualquer atitude e isso tem me ajudado, principalmente com meu avô. Percebo que ele não esta em si, de tanto tentar está enlouquecendo aos poucos. Deixou de tomar seus remédios, não quis ir ao médico e semanas atrás teve 3 passagens no hospital, eu que nunca tive fé em nada, pedi pra o infinito o bem dele.  Queria que ele me levasse em seu lugar, meu avô lutou tanto e até agora não houve um lampejo de sucesso. Mas o que é sucesso? Ter dinheiro, morar em um bairro bom? Ser um esnobe de nariz em pé? Sinto em ver que você esta se perdendo e se tornando a ganancia. Eu quero chegar em algum lugar, me ver aparecer e que minhas letras e palavras adentrem cada um. 

Gritamos, ele veio pra cima e  em momento algum pensei em devolver seus socos e tapas. Deixei você me bater para ver se isso sanava sua dor, para ver se ainda restava algo de ti aí. Você sempre me bateu, mas nunca como naquele domingo. Não me senti brigando com ele, meu avô me dava lições, aquele homem estava apenas desesperado, precisando de abrigo e nós oferecemos, mas ele preferiu sair para pescar, e agarrar todos esses raros peixes de papel. Ele gritou, e eu gritei de volta:

"O que você pensa que esta fazendo?"  Ele não percebeu, o facão que estava no balcão em sua mão. " Agora vai me esfaquear?" Continuei. Ele parou, olhou para o objeto em sua mão e em seguida pareceu compreender o que fazia. Ele tentou nos mandar embora, mas eu disse que não iria, que todo mundo estava ali por ele, espero que ele tenha entendido, ele tentou nos mandar embora e até a minha avó e ela estava ali por ele. Ela sonhou e projetou por anos a carreira dela, agora formada com as melhores notas e ela não precisou de incentivo, lutou, estudou e chegou lá, tudo com muita paciência, me arrependo de cada vez que fiz algo ruim pra ela, eu realmente vejo o quanto ela luta e sei que ela merece muito mais do que se rejeitar aos deveres de meu avô, mas ela não esta triste, muito menos com raiva dele. Ela o ama. Ela o presa e assim como eu, quer o seu bem.

Durante a briga eu gritei para que ele me batesse, eu clamei por isso. Tudo pra suprir a ilusão dele, para que ele voltasse a realidade. Ele também tem TDAH. Quem sabe, nunca perguntei. Eu sei a resposta, "Esse tipo de coisa não existe." Desculpe ter sido tão brusco ao me manter firme como você naquele momento, e se você percebeu, a coisas maiores que o dinheiro na vida. Minha família está se recompondo, espero que ele entenda, pois ele ainda não me disse uma palavra desde a hora que nos deixou lá.

 Após sua saída, minha avó me perguntou como poderia ela suportar aquilo, chorou e eu a abracei, como nunca antes. Eu só podia pedir desculpas por aquilo. Meu braço ainda esta doendo e tá tudo bem, isso não me incomoda. O que me irrita e não poder te ajudar.

Eu sei que tudo vai melhorar.

Depois de toda tempestade, existe um arco-íris.


TDAHWhere stories live. Discover now