Capítulo 21

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Estávamos de volta à outra margem do rio, havíamos feito uma pausa para comer e descansar, antes de voltarmos às atividades, que pela instrução dos guias provavelmente só teríamos tempo para mais uma das três atividades e assim podermos voltar para a sede do acampamento antes de anoitecer com segurança.

Nosso almoço não foi um banquete como o jantar do dia seguinte ou o café desta manhã, foi leve e repleto de proteína, como frutas, lanches naturais, suco e barrinhas nutritivas. Tudo minuciosamente pensado e organizado, cada um recebeu o mesmo tanto de suplementos em sacolas térmicas, práticas e fáceis de transportar.

Amanda e Daia já estavam na fila da próxima atividade, a tirolesa, junto com Pedro e Marcelo. Lucas estava sentado ao meu lado olhando para frente, sua mão segurava minha, seu polegar acariciava suavemente a parte externa de minha mão.

— Tudo bem? - Pergunto a ele, percebendo seu olhar distante. Ele olha para mim sorrindo suavemente.

— Desculpa. - Lucas diz com tom de voz baixo e perdido. Eu o olho sem entender.

— Pelo o que? - Pergunto expressando minha confusão em voz alta. Ele, por sua vez, não diz nada, apenas abaixa a cabeça soltando um sorriso irônico percebo que seus olhos focam rapidamente para meu joelho machucado, antes de soltar a minha mão e encostar-se à árvore atrás de nós.

— Não foi sua culpa - Digo me virando para olhar para ele que não está olhando para mim — Isso é algo que acontece quando decide escalar uma montanha. - Digo sorridente tentando tirá-lo da feição preocupada.

— Mia, quando te convidei para o acampamento nunca me passou pela cabeça que você poderia se machucar, mas você se machucou...

— Eu sei - Interrompo - o antes dele continuar o que parece chamar a sua atenção, assim que agora ele me olha — Não tinha como você prever que eu iria escorregar, não tinha como eu prever isso, mas mesmo assim eu aceitei escalar, da mesma forma que aceitei vir ao acampamento, sem pensar nos possíveis riscos, mas há riscos em qualquer lugar que vamos ou estamos. - Digo calmamente — Eu aceitei os riscos ao vir, foi minha escolha estar aqui independente de qualquer perigo que isso apresente. – Disse sabendo que eu não estava mais falando do acampamento e sim de nós.

— Eu não quero que você corra riscos, nunca em... – Ele diz ao olhar no profundo dos meus olhos, como se entendesse que isso não era mais sobre o acampamento. Ele passa as mãos pelo cabelo, sem terminar o pensamento em voz alta, desviando o olhar de mim, como se eu fosse capaz de lê-lo.

Fico em silêncio intrigada com o tamanho da sua preocupação, feliz por ela e confusa ao mesmo tempo, de como essa conversa havia tomado um rumo diferente, mas não queria me preocupar sobre "nós" não aqui e agora e não queria que ele se preocupasse também.

Coloco minha mão em sua mão que descansava sobre sua perna, e sussurro um "Está tudo bem" com um sorriso modesto, mas ele me olha com a mesma expressão de pavor que havia me olhado quando voltei para esta margem do rio ao ver meu machucado. Ele correu em minha direção assustado enquanto Amanda contava a ele detalhes por detalhes do que havia acontecido sem me deixar dizer uma palavra.

Nos entreolhamos, mudos, ele parece avaliar seus próprios pensamentos ao olhar para meu joelho franzindo o cenho, tenho vontade de dizer para ele não pensar mais nisso, mas em fração de segundo ele retira a mão debaixo da minha levando-a ao meu rosto e me beija, carinhosamente.

— Me desculpa - ele sussurra entre meus lábios e eu não consigo não sorrir, pois não sei ele está se desculpando por ter me beijado ou por eu estar machucada ou pela possibilidade de me machucar.

— Eu desculpo, se isso te faz sentir melhor - Digo ainda sorrindo e afastando a minha cabeça para encará-lo.

— Obrigado - Ele responde me beijando de novo.

Ele e Eu - By Nathalia FavaretoWhere stories live. Discover now