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;love for eva;

Cresci em um colégio interno após a morte misteriosa de meus pais em um acidente de carro, nunca vi nada além dos muros altos e dos portões pesados que ficam na entrada, não tenho nenhuma lembrança de antes do internato, nada. Até porque vivo aqui desde meus quatro anos, sendo sempre a guia para as novas alunas, vendo pessoas irem e virem como se fosse um castigo permanecer presa aqui, nem mesmo nos fins de semana, os únicos dias no qual podemos sair daqui, eu posso ir.

Eu sempre fui a aluna mais comportada e inteligente da turma, claro que por falta de opção afinal nunca tive amigas na qual pudesse fazer coisas, então só me restava me refugiar nos livros e nos estudos.

Até aquela segunda-feira, eu caminhava calmamente até a grande biblioteca para revisar as últimas aulas quando vejo nossa diretora caminhar apressadamente com um jovem a seu enlaço. A menina observava tudo como se procurasse algo que pudesse chamar sua atenção e fazê-la se esquecer de onde estava. Pena que aqui isso era praticamente impossível, nada era interessante, nada prendia nossas atenções por muito tempo.

E então seu olhar caiu sobre mim, um pequeno sorriso brotando em seus lábios e os olhos grandes brilhando cada vez mais. Sustentei seu olhar até ela entrar com a diretora em sua sala, fazendo com que me desse conta de onde estava e que tinha ido fazer.

Mas não parou por aí, apenas na encarada que trocamos, como eu era a única aluna sem uma colega de quarto, logo as malas grandes e pesadas da mais nova aluna estavam pousadas ao pé da cama vazia que jazia em meu dormitório.

-- Eu sou Ha Sooyoung, porém minhas amigas do outro colégio me chamam de Yves.

Sua mão estava estendida em minha direção, um sorriso doce pendia em seus lábios e seus olhos me analisavam da cabeça aos pés.

-- Kim Jiwoo, apenas Jiwoo.

Apertei fortemente sua mão e sorri de modo meigo, eu queria ter uma boa relação com alguém e ficaria feliz se fosse ao menos com a minha companheira de quarto. Era horrível viver ali e nunca ter tido uma colega para dividir as noites, desde meu terceiro ano aqui, nunca mais tive alguém nesse posto.

-- Ok Jiwoo, precisamos pensar em um apelido para você e antes que eu me esqueça, a chata da diretora pediu que você me apresentasse o colégio e essas coisas que novatas precisam saber.

A voz carregava um tom leve e rouco, o riso que deixou escapar após sua fala parecia o som de sinos sendo tocados pelo vento. Era tudo surreal demais.

-- Mostro sim claro e te passo as matérias dependendo do ano em que se encontra.

-- Para seu azar ou não seremos companheiras de turma, agradeceria se deixasse para depois as coisas relacionadas ao estudo, por agora me leve até onde você se diverte e como posso fazer para sair daqui sem que ninguém saiba.

Nesse momento eu percebi o tipo de pessoa que Sooyoung é, e mesmo sabendo dos riscos eu preferi investir em vez de desistir, eu não poderia viver presa e sozinha ali para sempre.

-- Creio que não serei útil para você então, afinal eu nunca saio daqui e nem ao menos sei como me diverti, viver aqui é como viver em uma prisão.

Ela nem se abalou, muito pelo contrário, seu sorriso aumentou, seus olhos brilharão mais e sua mão se entrelaçou com a minha.

-- Então precisamos mudar isso rápido Jiwoo, eu quero te mostrar a liberdade.

;love for eva;

Desde aquele dia tudo mudou, eu não ficava tanto tempo na biblioteca, não ficava trancada no meu quarto estudando e tinha passado a correr pelos jardins do internato. Sempre com Yves comigo, me mostrando as belezas escondidas nas pequenas coisas, aprendi mais com ela do que com qualquer professor que tenha passado por essa escola.

Isso era um fato.

Os meses se passavam com rapidez e nem notamos como o quão próximas e dependentes da outra estávamos. Na verdade, eu estava muito mais dependente dela do que o oposto. Deveria ser porque eu não estava acostumada a ficar tanto tempo perto de alguém, interagindo com essa pessoa, diferente dela.

Eu conheci bastante do mundo pelo o que Yves contava, sempre iniciando uma conversa no meio da noite com suas inúmeras aventuras pelo mundo afora, conhecendo pessoas diversas, vivenciando coisas inimagináveis.

Eu queria viver o que ela viveu, queria sentir o que ela sentiu, apenas isso. Sooyoung estava me mudando de modo drástico, me fazendo desejar coisas que eu nunca desejei antes e eu estava amando isso.

;love for eva;

O final de ano chegou, levando mais uma penca de veteranas e trazendo novas garotas, que nunca atraiam a minha atenção ou que me fizessem querer mostrar ou perguntar sobre o mundo para elas, mas apenas uma, após um incidente em aula que fez com que meus olhos e os de Yves a acompanhassem por onde a garota ia.

Park Chaewon era quieta e isolada, nem mesmo sua companheira de quarto conseguia se envolver com ela.

Segundo Yves, Chaewon parecia uma princesa esperando alguém salvá-la de alguma coisa e eu acredito que ela precisava ser salva de si mesma.

Foi fácil incluir a Park em nossa rotina agitada e desconhecida, a menina tinha um conhecimento básico sobre o mundo lá fora, disse viver sempre em uma rotina controlada pelos pais, quase não podia sair e sempre que o fazia era acompanhada por alguém, ela nunca entendeu porque esse medo entretanto nunca questionou seus genitores.

Nossos dias eram felizes, nunca ultrapassamos verdadeiramente o limite do que era permitido ou não e eu sabia que isso incomodava Sooyoung, que ela queria ir além. E decidida a dar um fim a incômodo que assolava minha preciosa unnie eu sugeri que fôssemos na floresta onde eu sabia que ela sempre ia durante a noite quando não conseguia dormir. Era muito arriscado e se nos descobrissem seria nosso fim, entretanto era por uma boa causa e com esse pensamento em mente que vagamos durante horas entre as árvores, provando dos frutos que encontramos e sentindo a brisa do vento, balançando nossos cabelos.

Aquele dia foi um dos melhores da minha vida, mas a recompensa que ganhei após voltarmos de lá foi ainda melhor. Não foi verdadeiramente um beijo, mas valeu cada segundo no qual nossos lábios ficaram colados, eu nem consigo descrever direito os sentimentos que afloraram dentro de mim. Eu nunca tinha os sentido até aquele dia, eu nem sabia de sua existência, nos livros que eu lia nenhum deles explicava o que significava as mãos suando, o coração acelerado, a reviravolta do estômago.

-- O que é isso que eu senti?

Minha voz soou tão baixa que temi que ela pudesse ter escutado.

-- É provavelmente o amor que eu sinto por você fluindo.

E tudo pareceu girar naquele momento, eu não sabia o que era amar, não tinha a mínima ideia do que a palavra amor significava, porém se tudo o que eu senti com aquele simples encostar de lábios for algo bom e for o que ela chama de amor, então eu queria provar daquilo mais vezes.

;love for eva;

Mais um ano se iniciava, mais saídas durante as aulas, mais voltas pela floresta, mais beijos escondidos rolaram, tudo estava intenso demais, Gowon -- apelido íntimo que dei a Chaewon -- dizia que se um dia nos descobrisse ela faria questão de dizer que havia avisado e isso não era mentira, afinal falta de aviso era o que não faltava de sua parte.

Confesso que éramos muito descuidadas e que só sabíamos viver o momento e isso poderia acabar nos prejudicando e infelizmente esse dia chegou.

Era uma quinta-feira e Yves foi chamada pela diretora a comparecer em sua sala, não fora adiantado o motivo pelo qual a mulher queria vê-la e eu torci para que não fosse pelas nossas escapadas.

Decidida a saber o que era escapei da aula de geometria, seguindo silenciosamente em direção a coordenação e me escondendo atrás da porta. Sooyoung levava uma bronca pelas meias sujas e era questionada pelo motivo de estarem tão imundas. Minha unnie apenas se mantinha calada, ouvindo os esporros da mulher mais velha.

No fim ela não passou nenhuma punição, apenas disse que ficaria de olho na unnie e eu sabia que ela faria isso, meu medo apenas aumentou.

Consegui voltar para a aula antes dela e sem que o professor tenha notado meu sumiço por tanto tempo, consegui tranquilizar Gowon e voltamos a prestar atenção na aula, apenas tentei porque alguém me olhava fixamente e isso incomodava, mas quem me olhava?

love for evaWhere stories live. Discover now