Capital IX

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O apito guinchava por todos os cantos da prisão. A abertura do portão 03 era sempre um motivo do espiar de olhos curiosos. Alguns pelo pátio observavam a entrada de um comboio que atravessava os blocos da zona leste levantando poeira. Os dias de chegada eram os preferidos entre os encarcerados, já que certamente muitos dos guardas estavam ocupados preparando celas e dividindo tarefas para a recepção dos novos moradores.

O caminhão parou no penúltimo bloco, e estacionou com a traseira voltada para a entrada lateral. Lá havia uma rampa metálica que seguia até um elevador largo e sem teto, como uma base que era pendida por quatro cabos de aço e servia para levar os presos até o andar de verificação.
Com um par de bodas de ponteira de cromo e um rifle jogado nas costas, o capitão das operações desembarcou e guiou, com uma fila de soldados, todos os presos até o elevador. Estavam todos algemados e com caixas pretas fixadas para cobrir os rostos.
Seguiram até o andar de destino e se colocaram enfileirados em um paredão de 5 metros de altura, de modo que foram todos inspecionados pelo 32DKr, uma máquina fina, 2 metros de altura por 1 metro e meio de largura, basicamente um escaneador de corpos.
- ÊÊ, quatro e nove, vocês tiveram sorte, vão pra fornalha! - Gritou a voz do capitão.
Os dois foram retirados da fila e seguiram para um corredor adiante.
O capitão apenas abriu um sorriso, gostava de apavorar os recém-chegados. Na verdade, os dois indicados por ele estavam se dirigindo para a ala médica para tratar de algum problema identificado pelo 32Dkr.
Os 23 que restaram na sala foram levados para a sala de entrevistas para se apresentarem ao chefe de toda aquela estrutura. Lehan Abron, 46 anos, barba longa com fios grisalhos e uma cicatriz que cortava o rosto na diagonal.
A tarefa foi exaustiva. Por muitas vezes o indivíduo que lhe aparecia era um assassino ou um assaltante comum, dificilmente tinha que tratar com um mestre do crime ou coisa do tipo. Faltavam apenas três capturados para entrarem em sua sala quando chamou aquele que se diferenciava dos demais.
- E seu nome, qual é?
O rapaz que entrava olhava a sala, impressionado.
- Rup.
A poltrona de couro e os quadros renascentistas fugiam completamente do ambiente metálico e cheio de terra que estava acostumado a ver. O chefe tinha até um chão de madeira na sala, garrafas de uísque e uma estante cheia de livros da época acima do solo.
- Que tipo de nome é esse? Não tem sobrenome não?
- Só Rup.
- Mostre-me o braço, rapaz.
Em seu braço direito, assim como normalmente era encontrado, havia uma marca com vários círculos pretos, formando uma espécie de código de leitura. Lehan passou um leitor e voltou a perguntar qual era seu nome.
- Já lhe disse. Rup.
Mentiroso.
- Em que estou mentindo? - Retrucou Rup.
- Albe Devor, este é seu nome. - Gritou o chefe das forças militares.
Os olhos escuros de Rup encararam Lehan com muita confusão.
- Sinto muito, mas este não é meu nome!

Lehan puxou para perto o leitor holográfico e começou a ler a fixa de Albe. O chefe puxava o lábio inferior para cima, fazendo uma careta que despertava o riso no prisioneiro.

- Está achando o que de graça? – Perguntou Lehan. – Vejo que é uma pessoa tola, não sei nem o que faz aqui.

- Foi um momento de descontrole.

- Ao tentar se matar, você atirou em uma enfermeira? Além de tudo é um retardado. Não vou perder meu tempo com você, senhor Albe.

- Rup!

Lehan girou a cadeira e deu risada.

- Teu nome não é esse, vaza daqui, estou interessado em pessoas para ir para fora.

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