39. Medo

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A janela da sala de meu apartamento estava embaçada por causa do extremo frio que estava fazendo do lado de fora. Eu estava aconchegada no sofá, com um grosso cobertor e havia ligado o aquecedor. Já havia desistido de ver TV, depois de zapear por vários canais e não escontrar nada que me agradasse.

Fiquei durante quase uma hora trocando mensagens com Mark pelo celular. Ele ainda estava atarefado com os serviços da gráfica e estava fazendo horas extras para não atrasar nenhuma entrega. Eu sabia o quanto a gráfica significava para ele, então não pressionei de forma alguma mas ele, ainda assim, ficava pedindo desculpas por não estar me dando tanta atenção nos últimos dias.

Eu não estava preocupada com a atenção de Mark, pois sabia que ele jamais me trocaria pelo trabalho, a não ser que fosse de extrema importância, como estava acontecendo agora.

Minha preocupação era com Jake. Eu não sabia se Ramon já havia tentado conversar com ele e, nos últimos três dias, eu estava andando ansiosa e um pouco tensa. Conhecendo o temperamento conturbado do meu ex-namorado, com certeza ele não ficaria quieto, a não ser que Ramon citasse a polícia, o que eu estava torcendo muito.

Eu estava incomodada com o fato de saber sobre o problema da transportadora e não ter contado para Mark, mas eu acreditava que ainda poderia me redimir. Disquei o número dele e esperei. O telefone chamou durante algumas vezes eu ouvi a voz que tanto desejava.

- Oi, querida - disse ele, e eu ouvi o ronco do Jeep no fundo.

- Oi amor, está dirigindo?

- Sim, estou.

- Eu ligo depois então...

- Não, não - interpôs Mark - não tem problema. Pode falar.

Eu sorri, um pouco nervosa e agradeci por não estar frente a frente com ele.

- Estou com saudades de você - eu disse tentando me acalmar.

- Eu também, linda, mas está sendo tão corrido esses dias. Eu prometo que...

- Eu sei, Mark - eu disse - não se preocupe com isso. Não precisa prometer. Quando isso acabar vai ser melhor.

Eu me levantei do sofá, esfregando meus braços, fui até a janela e passei a mão no vidro frio para conseguir ver o movimento da rua.

- Mark, tem uma coisa que eu preciso te falar - eu disse de repente, me arrependendo imediatamente.

Ele ficou em silêncio durante alguns segundos e eu ouvi sua respiração ficar ofegante.

- Pode falar, querida - disse ele parecendo calmo, mas eu notei uma seriedade em sua voz.

Eu respirei fundo. Agora não poderia voltar atrás.

- Mark, eu tentei resolver tudo sozinha. Fiquei com medo da sua reação. Desculpe-me, eu não confiei totalmente em você... eu... me desculpe Mark...

Nessa hora eu percebi o peso do que eu havia feito. Não contar para Mark tinha sido um erro e agora eu estava prestes a pagar o preço por isso. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu não consegui segurar o choro.

- Anne, anne, eu não estou entendendo. Porque você está chorando? - disse Mark com o tom nitidamente preocupado.

- Eu sou uma idiota mesmo...

- Anne, por favor, o que está acontecendo? Quer que eu vá aí?

Eu sequei meus olhos de forma precária e respirei pela boca, tentando fazer passar o choro.

- Mark, eu sei quem é o responsável pelos roubos.

Eu cobri minha boca com a mão, tentando evitar cair no choro novamente. Eu não sabia a reação dele, então deixei que a informação fosse digerida com calma.

- Anne, que história é essa de...

- A transportadora que você usa é do pai de Jake. O Sr. Müller é o pai dele, Mark.

A bomba estava lançada e agora eu estava esperando que explodisse. Seria uma tremenda sorte se ela não fizesse muitos estragos.

- Você está me dizendo que sabia desde o início? - indagou Mark com a voz um pouco alterada.

- Eu pensei que você ficaria furioso e fosse brigar com Jake...

- Anne, a polícia está investigando há dias e você já sabia de tudo...

- Eu estava tentando resolver...

- Resolver como, Anne? - disse ele quase gritando.

- Calma, querido, você está dirigindo...

- Eu não estou dirigindo mais - disse ele me interrompendo - Anne, eu não estou conseguindo nem dormir direito pensando nisso, com medo que aconteça novamente. Francamente...

Eu encostei minha testa na janela e fiquei ouvindo Mark. Ele tinha toda razão de estar bravo. Nós poucos segundos em que ele ficou em silêncio eu notei, pela janela fechada, uma pequena movimentação na entrada do prédio, mas não dei atenção.

- Tem mais alguma coisa que você esteja escondendo de mim? - perguntou Mark e eu senti a frieza na voz dele.

- Mark, me desculpe. Eu sei que eu fiz errado, mas o Jake é meio maluco. Eu temi por você...

- Ah, sim! Espero que seja por mim mesmo.

Notei um leve tom sarcástico na voz de Mark, mas eu nada podia fazer. Talvez ele estivesse pensando que eu ainda nutrisse algum sentimento bom por Jake e minha atitude levava sim a pensar isso, ainda que não fosse verdade.

- Você pode me perdoar? - indaguei.

- Eu não sei. Não sei o que pensar, Anne. Eu confiei tanto em você...

- Isso não vai acontecer...

Nesse momento meu coração pulou de susto. Num sobressalto, eu me virei para a porta. Alguém estava esmurrando-a com ferocidade.

- O que foi Anne? - perguntou Mark, notando o meu susto.

- Tem alguém socando a porta.

Todo o mal estar que estava entre eu e Mark foi dissolvido como sal em água e eu cheguei a esquecer o motivo pelo qual havia ligado para ele. Pelo que notei, ele tambem não se importou mais com o assunto.

- Anne, estou indo aí - disse Mark, e eu escutei novamente o ronco do Jeep e uma pequena derrapada de pneus.

- Anne, abre essa porta - gritou alguém lá fora.

Senti meu sangue parar de circular. Minhas pernas tremeram e eu fiquei estática, sem conseguir fazer movimento algum durante vários segundos. A voz que eu não queria ouvir, da pessoa que eu não queria ver.
E ele continuava a socar a porta. Eu jamais conseguiria escapar dali sozinha e mesmo se conseguisse, ele estaria logo atrás de mim.

A voz de Jake ecoou mais uma vez pelo meu apartamento e me tirou do meu transe. Eu teria que fazer alguma coisa. Ficar ali à mercê de um homem alterado estava totalmente fora de cogitação.

Eu tinha que sair dali e eu iria fazer isso nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

***
Oi queridos e queridas!

O que acharam desse capítulo?
O que será que Anne vai fazer?
Será que Mark dará outra surra em Jake?

Já já vamos descobrir!
Abraços ✌😋✌

Um inverno entre nós (CONCLUÍDO)Where stories live. Discover now