[15] no olho do furacão

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Acordo com minha porta sendo aberta, mas continuo com meus olhos fechados, querendo que a pessoa que entrou em meu quarto vá embora para que eu possa voltar a dormir. Mas isso não acontece. Escuto uma das janelas do meu quarto sendo aberta e um clarão aparece em meus olhos. Resmungo enquanto viro para o outro lado da cama me cobrindo até a cabeça com meu edredom.

Sinto um lado da cama afundar mostrando que alguém sentou e escuto a voz do meu pai me chamar: — Acorda, sweet Rafaela. — Sorrio ao ouvir ele me chamar como sempre me chamava quando era criança e abaixo a coberta até metade do rosto.

— Mais cinco minutos, por favor. — peço com voz de sono e ele rir para mim balançando a cabeça.

— Mas já passa do meio dia filha, vim te chamar para comer algo.

Já passava do meio dia? Eu dormi tanto assim? Se bem que quando chegamos em casa noite passada já passava das duas da manhã.

— Ah.

Foi a única coisa que meu subconsciente foi capaz de me fazer falar antes das lembranças boas da noite passada me atingir em cheio me fazendo sorrir involuntariamente.

— Tenho uma notícia não muito boa para te dar. — meu pai me fala fazendo meu sorriso morrer. E enquanto ele ficava um tempo calado, vejo o quanto nossas férias também fizeram bem para ele. Antes de virmos para cá, sua barba, agora inexistente, havia ido embora e sua expressão de cansaço parecia ter desaparecido e deu lugar para linhas de expressões felizes toda vez que ele dava um sorriso. O sorriso que minha mãe dizia odiar, já que o meu era igualzinho ao dele, assim como toda minha aparência. Todos diziam que eu era a sua cópia. — Não vou poder ir te levar naquela festa que você me pediu.

Olhei para ele por mais um tempo sem saber o que falar. Eu havia planejado com Sarah e Camila durante um tempo que eu iria sim e depois que meus pais falaram que eu só iria se aceitasse ir passar o mês em Búzios com ele, fiz meu pai prometer que ele iria me levar, mas agora... Eu nem queria ir tanto assim. Perder uma festa de aniversário da sua amiga não era tão grave assim não é? Fora que eu também não queria encontrar com Renan por lá.

— Você não parece muito triste, achei que você iria partir para cima de mim. — falou em um tom brincalhão me fazendo soltar um sorriso.

— Não... Tudo bem, eu posso explicar isso para as meninas. — Digo me colocando sobre meus cotovelos e logo depois sentando na cama.

— Meninas? Achei que você iria querer ir por causa do Renan também. Aconteceu alguma coisa?

Muitas coisas, pai. Tantas coisas que fazem meu coração bater descompassado.

Faço uma careta e meu pai rir: — A gente brigou, nada demais.

Ele se aproxima de mim e senta ao meu lado, coloca um braço sobre meu ombro e me puxa para si.

— E isso tem a ver com um garoto que eu conheço?

O olho assustada e pronta para negar. Mas não sou capaz.

— É complicado.

Ele fica alguns minutos em silencio antes de falar algo.

— Por que?

Respiro fundo e calmamente pensando se falo ou não sobre essas coisas com meu pai. Conversas desse tipo, sobre relacionamentos eram sempre acompanhadas de minha mãe que parecia sempre ter um caminho a me guiar.

Mas eu quero falar sobre isso com alguém e Sarah está longe demais de mim para eu poder ir a sua casa e passarmos a tarde conversando.

— Eu meio que estou ficando com Rafael e não faço a mínima ideia do que fazer em relação a isso. — digo baixinho.

— Mas você não namo-

Meu pai começa a falar, mas depois para no meio de sua frase. Coça seu queixo por um tempo e depois olha para mim. Sinto que meu rosto fica vermelho que nem uma pimenta e uma ansiedade invadindo meu estomago.

— E como você se sente em relação a isso?

— Essa é a pergunta de um milhão de dólares. — ri amargamente e sinto meu pai passar a mão sobre meus cabelos.

— Não posso dizer que eu sempre fui o fã número um do Renan, assim como sua mãe. Mas também não posso dizer com quem você deve ficar.

— Eu to' tão confusa, papai. — resmungo jogando minhas mãos por meu rosto o escondendo.

— É tão complicado assim? — me pergunta e eu apenas confirmo com a cabeça. Complicado não era nem a palavra certa para se usar. Eu não sabia o que eu queria fazer, o que eu estava sentindo, eu não estava entendendo nada o que estava acontecendo comigo...

Eu só queria ficar ao lado de Rafael, mas também não conseguia entender o que eu realmente sentia por Renan, já que eu passei quase um ano ao lado dele. Por que as coisas têm que ser tão confusas?

A vida não pode ser um conta-gotas na tua mão. Meu pai cantarola no ritmo de música e eu tiro as mãos sobre meu rosto — Uma chuva que não chove, um sol que não sai. A vida não pode ser medida com precisão, motor que não se move, nuvem que não sai. — Eu conhecia aquela música, meu pai costumava escutar enquanto fazia nosso almoço de domingo. Ela e toda a sua coletânea que ele costumava chamar de "As melhores músicas que já existiram". Mas o problema era que ele nunca foi bom de verdade em cantar, mamãe dizia que ele parecia um papagaio com derrame, mas enquanto ele cantarola a música, eu me senti bem.

Não vá perder a vida inteira, com a pessoa errada. Diga adeus, diga adeus...

Ou não diga nada. Termino de cantar e entendo o porquê que ele havia escolhido essa música. Eu precisava me encontrar e a música foi um gatilho para eu descobrir tal coisa.

— Se você quiser ir para a festa ainda, posso pedir Rafael para te levar.

Me fala depois de um tempo e penso a respeito.

— Não seria como colocar sua filha no olho do furacão?

— O olho do furacão é o lugar mais calmo, sweet

Rafael RafaelaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora