Capítulo 2 - A Verdade

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Eu tomava meu café da manhã quando ouvi carros parrando na proximidade, pouco depois batidas ecoaram na minha porta. Era madrugada ainda, cerca de cinco horas. Quem bateria à porta de alguém neste horário? Engoli a última mordida que havia dado no meu pão e fui a atender.

Emoldurados pelo batente, via sete homens de terno preto, três carros idênticos também pretos estacionados na frente de minha casa e o céu noturno pontilhado de estrelas. O condomínio em que morava tinha porteiro e permanecia de portão fechado, o que significava que aqueles homens tinham um bom motivo para terem entrado.

- Senhor Douglas Martins Flamming. - Começou o homem que estava a minha frente após tirar o seu chapéu, recebendo apenas um aceno de minha parte, ao que continuou dando a carteirada tão clichê que sempre vi em filmes. - Trabalhamos para o governo. Sou o agente Silva, e estes são os agentes Terrens, Godoy, Felício, Natalino, Joseff e Adam. Precisamos conversar com o senhor. Se não se importar, vamos entrar. - disse já entrando na minha sala.

Estava atônito demais para conseguir dizer algo. Não entendia a presença deles ali, não via motivos nenhum e foi por isso que concordei em ouvir o que eles tinham a me dizer. Apenas fechei a porta da sala e fui para a cozinha onde os sete se encontravam.

- Como o senhor já deve saber, as Fontes do Pó convergiram entre si colapsando-se de forma que a ruptura energética sofresse uma alteração significativa a ponto de mover todo o Pó presente na região, atraindo-o como limalha em direção ao imã. – disse o agente com o chapéu preto nas mãos.

- Não me recordo de terem falado nada sobre a ruptura interferir no Pó. Acho que não assisti ao jornal quando passou a matéria. - Informei, tentando ver aonde a conversa chegaria.

- O senhor sabe muito bem disso, e essa informação não foi passada à grande massa. – disse Silva fazendo um gesto para que eu não dissesse nada. Puxou uma cadeira, sentou-se e cruzou as pernas espanando com a mão uma poeira inexistente da barra de sua calça. - Sabemos que o senhor é um dos poucos que conseguem enxergar o Pó a olho nu, então não precisa se fazer de desentendido.

- Como? Como sabem de algo do tipo? Eu nunca disse isso a ninguém. - Perguntei sem entender como eles tinham tal informação.

- O teste de visão feito ano passado não era para analisar se o Pó causava danos nas retinas ou córneas, mas sim para descobrir quais indivíduos tinham a capacidade de enxergá-lo. E você, senhor Douglas, é um dos que passaram neste exame com resultado positivo. O que nos leva ao real motivo por estarmos aqui.

- Vou ser bem específico e quero que preste atenção. - Começou Joseff, o único agente que era careca dentre eles. Enquanto falava, ele andava lentamente dando a volta na mesa e se colocando atrás de mim. - Uma ameaça relacionada ao Pó foi registrada a alguns dias e nosso trabalho é organizar uma equipe pequena, discreta e capaz de enxergar o Pó para combater esta ameaça antes que ela comece a causar danos ou tumultos. - Ele segurou meus ombros e aproximando sua boca no meu ouvido prosseguiu. - E o senhor está sendo convocado neste exato momento para ser treinado para tal fim.

- Vocês não podem me obrigar a isso. Vivemos em um país democrático. - Intervi. A ideia de servir as forças armadas nunca me agradou quando mais novo e não seria agora, aos vinte e sete anos, que mudaria de ideia. Eu não seria cobaia para os testes e treinamentos do governo.

- E quem disse ao senhor que nós trabalhamos para o governo deste país? Se ilude ao pensar que o presidente é quem realmente manda em uma nação senhor Douglas. Existem cargos e instituições a qual nenhum cidadão sequer imagina existir. O 'governo' ao qual trabalhamos é o mesmo que interveio em Rosvel, capturou Hitler e Bin Laden e que forjou a morte da princesa Diana. - Disse Joseff andando novamente até ficar ao lado de Silva.

- Isso não pode ser possível. - E como poderia ser, afinal? Diana foi morta em transmissão ao vivo, enquanto Hitler e Bin Laden foram dados como mortos pelos próprios governos competentes.

- Não só pode como é melhor que seja assim. - Voltou a falar o agente Silva. - Imagina a histeria que teríamos ao dizer que Hitler e Bin Laden foram capturados para treinar agentes especiais, ou que a princesa gentil e delicada era a nossa maior desenvolvedora de armas tecnológicas na época? A ignorância da população sobre certos assuntos é uma dádiva a qual todos deveriam agradecer. Assim como o senhor agora.

- A sua capacidade de ver o Pó será usada para o bem não só de sua nação, mas como a de muitas outras. O senhor não receberá homenagens ou medalhas, e o fato de o senhor não ter parentes próximos é a brecha perfeita para que você não exista mais no mundo dos civis. - Continuou Joseff ao passo em que Silva se levantou acendendo um cigarro e olhou para a minha casa com curiosidade.

- Espero que não se importe senhor Douglas, mas existem certos momentos em nossa vida que é preciso que sejamos forçados a fazer aquilo que é necessário. - Ele colocou o seu chapéu e junto com o agente Joseff foi em direção a porta, abriu-a e antes de sair comunicou. - Destruam a casa, explodam-na de modo a parecer um vazamento de gás. Quero ele pronto as dez no quartel general. Sejam rápidos, como sempre.

Depois de ouvir as últimas palavras de Silva, o punho de Godoy me acertou em cheio. Tudo o que senti enquanto desmaiava caindo no chão, era o som da porta se fechando e o cheiro de gás que se espalhava pela casa.

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