Prólogo

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Era um dia como qualquer outro, o tempo estava nublado e frio, perfeito para ficar em casa tomando um chocolate quente, ver um filme qualquer ou até mesmo dormir. Mas eu tinha costume de comprar alguns doces e passar a tarde em um arvoredo, não muito distante da minha casa, já que eu não estudava, passava todo meu tempo no bosque.
  Minha mãe me ensinava tudo que eu precisava saber, as mesmas coisas que as crianças da minha idade aprendiam na escola, e o motivo pelo qual meus pais não deixavam eu ir a escola, era por precaução e cuidado.
  Eles diziam que eu ficaria protegida estudando em casa, eu sempre me fazia perguntas em relação a isso, não sabia exatamente o porquê de tanta preocupação.
Sei que os pais cuidam dos seus filhos, como se fossem seus maiores tesouros e assim os protegem. As vezes o cuidado passa dos limites, porém, sempre para o nosso bem, isso é certo e eu confiava nos meus pais, pois sabia que eles me amavam muito e tudo que faziam era para me ver bem .
  No meu tempo livre, aproveitava e ia em um paque aberto, não era exatamente um parque. Poucas pessoas sabiam desse local, ou já ouviram falar dele, era bem escondido, deveria ser por esse motivo que o lugar era pouco frequentado. E por alguma razão amava a idéia de que não havia tantas pessoas por perto, assim as plantas viveriam muito mais, sem o contato humano, assim que eu pensava. Lá era meu lugar favorito tinha plantas raras, de todas as cores possíveis. Incrivelmente lindo. Simplesmente me sentia bem passar o dia lá, já que não tinha nenhum amigos.

Até cheguei ter alguns, nos lugares onde morei, mas sempre tive que mudar de cidade, bairro e casa. Era um ciclo interminável.
  Vivíamos assim, sempre se mudando. Quanto a isso eu não me sentia tão bem. Todas as crianças tinham amigos, e se eu me apegasse a  eles, uma hora ou outra teria que partir e seria somente uma lembrança na memória de cada um.  Nesse caso ficar sozinha era a melhor opção.
  Quando a noite caia, eu corria para casa, meus pais tinham regras impostas a mim e uma delas era não andar sozinha a noite, até porque eu tinha apenas 12 anos. Bom, era hora de ir para casa, já estava escurecendo e era incrível como o céu estava lindo,  a escuridão que se aproximava deixava o céu ainda mais belo.

  Em direção a minha casa existia um caminho repleto de rosas chinensis vermelhas, que eu mesma tinha dado vida, isso era um talento que obtive desenvolvendo com o passar do tempo. Não era como plantar sementes. Eu as imaginava da forma que eu queria que fossem, fazia simples gestos com as mãos e lá estavam elas. Somente meus pais sabiam que eu era capaz de fazer tais coisas.
 Essas rosas chinensis vermelhas eram as minhas preferidas, aqui não era o habitate natural delas, porém, por ser um lugar com o clima frio, elas se adapitavam super bem.

 Mas nesse dia algo imprevisível aconteceu, enquanto eu caminhava para casa, senti um incomodo terrivel. Talvez um mal presentimento. Foi a primeira vez que senti aquilo, algo tinha acontecido, pensei. Meus dias eram normais nada de diferente acontecia, a não ser ter que deixar tudo e se mudar.
   De repente aquela agonia se misturando com um aperto no meu coraçao, fez com que todas as rosas simplesmente murchassem. Me senti mal por saber que meus sentimentos as atigiam. Vendo minhas rosas favoritas morrerem daquela forma, fiquei tão triste e sem entender o que estava acontecendo, que aquilo fez com que a sensação fosse ainda pior.

    Desesperada, sai correndo para casa, queria saber a razão daquele dia estranho.
    No meio do caminho tropecei em um tronco de árvore e cai sentindo uma dor enorme em toda minha perna direita.  Estava doendo com tanta intensidade, na qual tive que segurar um grito de dor. Mesmo na situação que me encontrava, apoiei minhas mãos no chão e tentei me levantar, foi bastante dificultoso.
   Por fim consegui me erguer e enquanto tentava andar, algo extraordinário aconteceu. A dor, o inchaço simplesmente sumiram e minha perna estava intacta. Fiquei por um tempo olhando minha perna e cheguei a pensar que estava tendo ilusões.
  Aquele mesmo episódio de quando eu era menor, se repetiu.
  Lembro bem como tudo ocorreu, havia cortado o dedo com um pedaço de vidro de um porta retrato, que deixei cair no chão, enquanto arrumava as mudanças na nova casa. Minha mãe preocupada, colocou as mãos em meu rosto erguendo o para que eu pudesse olhar nos olhos dela e logo ela disse: "Vai ficar tudo bem". Ela repetiu isso três vezes, até que eu parasse de chorar.
  Quando levei meu olhar de volta ao meu dedo, que outrora sangrava, o corte misteriosamente sumiu. Não restando nem se quer a cicatriz. Naquela ocasião eu não tinha entendido e perguntei: "Onde está o ferimento ?".
  Meus pais falaram que era apenas minha imaginação, mas sabia que não foi bem isso, e sim, que o feito sucedido era real. Entre tanto agora pude compreender, e entender que eu mesma tinha feito aquilo e sozinha.
  Como fiz? não faço a menor ideia, foi bem rápido.

 Assim que o hematoma e a dor sumiram, voltei a correr até minha casa. Queria contar para os meus pais a verdade, que o corte foi real e que eu possuía outro talento, ou o que fosse, queria também aproveitar para fazer algumas perguntas, talvez eles soubessem sobre algo. Provável que não queriam me contar. No momento só queria saber o que estava acontecendo. Afinal, tudo começou a ficar confuso, com todo o acontecido.

  Atravessei o jardim de flores, passei pelas duas únicas casas que eram próximas a minha. Era incomum o fato de apenas três casas serem separadas e longe das outras, porém , já estava acostumada morar em casas desse tipo, escondidas e totalmente esquisitas.  Essa não podia ser diferente das outras em que morei.
  Passei por elas e sai em disparada para entrada de casa.
  Foi então que o que eu menos esperava aconteceu e da pior forma possível, que alguém pudesse imaginar.

   Quando cheguei em casa, sem mesmo parar pra recompor o folego, por ter corrido tanto, empurrei a porta que já estava destrancada e meio aberta. Era exatamente a hora de chegar, estavam me esperando. Mas nunca deixavam a porta aberta, estranho. Em seguida entrei e me deparei com algumas pegadas no chão. Aparentavam ser de botas grandes. 
  Algo me fez olhar para cima, em direção a escada, quando vi o que tinha ali levei um susto, que cheguei dar dois passos para trás.
O que vi foi a coisa mais terrível e cruel que presenciei em toda minha vida.
  A única empregada que a gente tinha, se encontrava bem ali, pendurada pelo pescoço, amarrada no corrimão da escada no ponto mais alto.
  Naquele ápice senti uma presença assustadora e extremamente ruim, eu estava tremendo quando resolvi me aproximar dela, sua pele num tom roxo e frio. Em seu corpo pude ver que possuía marcas estranhas, como se o sangue tivesse sido sugado de seu corpo e as veias ao invés de estourarem apenas ficassem inchadas. Em seus olhos, um buraco negro profundo. Seus olhos tinham sido arrancados, aquilo me fez querer vomitar.
 Talvez ouvesse uma maneira ou  probabilidade de fazer algo por ela.
  O meu carinho por ela sempre foi enorme. Em todos esses anos de mudanças, ela que ajudava meus pais a cuidarem de mim, queria devolver tudo o que ela já tinha feito por mim.  Algum dia. Que agora nunca chegará.
  Era tarde demais, ela estava morta.
 Tampei a boca num grito sufocado e lentamente fui em direção a sala.  

Ouvi alguns murmúrios e logo me escondi atrás de uma estante.

A Descendência "Profecia das Sombras" (REVISANDO)Where stories live. Discover now