capítulo 9

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(2010- primeiro semestre)

O coral cantava uma musica animada naquela noite.
Toda a comunidade escolar foi convidada para a peça teatral da turma do segundo ano, cujo tema era o preconceito racial. Meninos e meninas cantando juntos, eles eram dezessete alunos com vozes absurdamente perfeitas que alcançavam tons que eu nem sabia que era possível fazer.

Enquanto eles cantavam no fundo do palco, três integrantes do grupo de dança bailavam ao som de suas vozes, as luzes focando cada um deles, fazendo as atenções se prenderem aos grandes astros daquela noite.
Eu não concordei com a canção, possuía uma bela melodia, mas não combinava muito bem com o cenário que imitava um deserto a noite. Parei de reclamar depois que o coordenador do evento pediu para eu ficar quieto e deixou bem clara que a escolha era unicamente dele.

-- Espero que tenhamos amarrado bem aquela lua. – Caio falou sentado ao meu lado.

A lua ficava alguns metros acima dos garotos do coral, se ela caísse seria um grande desastre, mas estava segura. Caio fazia piada o tempo todo sobre como eles estavam usando mal o cenário que fizemos e eu não discordei.

-- Nossos nomes não vão ser lembrados no fim da peça. – Ele disse enquanto comia batatas fritas. – Isso não é justo, fomos nós quem fez o trabalho pesado.
Apenas ri.

Em meio às dezessete vozes uma em especial se destacava.  Era uma voz feminina perfeita. Yara fazia mais do que cantar, ela era a musica, ela fazia com que sentíssemos a musica e isso era incrível, mas eu não conseguia prestar atenção ao espetáculo uma vez que Caio insistia em me perturbar.

Yara sempre teve cabelos curtos, sua pele era negra e seus olhos verdes, sem duvida uma bela garota que merecia o status de uma das mais desejadas do colégio. Os fotógrafos do jornal estudantil, em especial os meninos, focavam suas câmeras nela ignorando completamente os outros integrantes do grupo. Ela não precisou se esforçar muito para ser uma garota popular, era bonita e tinha talentos invejáveis, isso já lhe abria muitas portas.

A peça terminou sem nenhum imprevisto, Yara chorou muito, como sempre fazia depois de ser aclamada pelo publico. Os garotos assobiavam eufóricos e os fleches eram tantos que chegavam a confundir os olhos.

-- Vamos! – Caio falou já se levantando. – Ainda está cedo, podemos comer alguma coisa.

Assenti já levantando e saindo atrás dele.

Chegamos ao Cobalt preto estacionado do outro lado da rua, o carro era dos pais de Caio, mas ele usava o tempo todo. Houve uma época em que eu odiei aquele veiculo, Caio tinha como maior diversão fazer piadas sobre o meu nome, ele dizia que era a única pessoa que podia dizer que carregava um Cobalt dentro de um Cobalt, eu me irritava facilmente e as piadas sempre lhe rendiam belos socos no ombro e alguns palavrões, mas nunca passou disso.

Chegamos a lanchonete em menos de dez minutos e enquanto comíamos os nossos lanches, falávamos sobre como a peça tinha sido boa, o quanto o senário não combinava com a historia e outras coisas aleatórias. Breno então apareceu, ele vestia uma camisa rosa e calças brancas muito justas, o cabelo escondido debaixo de uma toca azul atrás dele Matheus veio sorridente.

-- Eu não sabia que os dois estavam juntos. – Caio falou olhando para eles, que sentaram numa mesa afastada da nossa.

-- Não estão juntos. – Falei achando graça. – Eles são amigos.

Quando olhei na direção dos rapazes, Breno acenou para mim e eu retribuí o gesto.

  -- Achei que as únicas amigas do Breno fossem aquelas duas animadoras de torcida.

Cafeína Where stories live. Discover now