capítulo 17

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(2021)

Eu estou no banheiro me escondendo da multidão, todas aquelas pessoas estão me sufocando. Respiro fundo enquanto lavo o rosto tentando me livrar da tensão.

Tudo parece tão errado.

Este lugar, estas pessoas. Há algo muito sinistro acontecendo, posso sentir o cheiro de encrenca crescendo e se misturando ao oxigênio. Talvez esta seja mais uma de minhas paranoias, talvez seja coisa da minha cabeça, mas... Tudo esta calmo demais, tranquilo demais, quieto demais.

Eu estou ficando louco. Não há nada de errado com esta festa, todos estão se divertindo e estão bem. Eu não posso deixar minhas loucuras dominar a situação. Não posso estragar as coisas agora.

Abro os olhos e vejo o meu reflexo, mas a minha atenção se volta para quem esta atrás de mim. Encostado na parede ele me olha com aquele sorriso de canto que eu tanto odeio. Ele sempre vem vestido em uma calça Jeans e camisa laranjada escondida debaixo de um moletom azul escuro.

-- Você sabe que não devia estar aqui. – fala zombando.

Ele se refere a festa, não concordou com a ideia de eu estar neste baile e insistiu para que eu não viesse.

-- Não. – Falei serio olhando-o através do espelho. – Você não deveria estar.

-- Mas, eu não estou de verdade.

Seu corpo desapareceu de onde estava e ressurgiu sentado sobre a pia próximo de mim.

-- você sabe disso também. – Ele concluiu.

-- Se não for pra ser útil, vá. – Falei serio.

-- Eu sempre sou útil.

Eu definitivamente o odeio. Ele gosta desses joguinhos, de me irritar. Nunca vai direto ao ponto.

A voz dele ainda era a mesma e seu físico também não mudou nada desde a ultima vez que eu o vi. Isso por que foi daquela ultima forma que minha memoria guardou a lembrança de Breno.

-- O que você quer?

-- Eu apenas vim ver como você esta se saindo?

-- Muito bem, agora vá.

Ele riu.

-- Alex, você não pode me enganar. – Respiro fundo, eu só preciso ignora-lo e ele irá embora como sempre. – Eu sei muito bem, quem e o que você é. E você não é essa pessoa que esta parecendo ser, você não quer estar aqui, não gosta deles.

Breno tem razão no que diz, eu realmente não quero estar aqui, não gosto dessas pessoas, se quer me recordo do rosto da maioria. Me mantive distante deles por muito tempo e agora estou tentando fingir ser alguém normal, que vai a encontros de turmas e bailes, mas convenhamos, eu não sou assim, mas eles precisam pensar que eu não sou alguém terrível, tenho que faze-los acreditar que sou apenas mais um, por que sei que se descobrirem quem e o que eu sou, todos sairiam correndo.

-- Nós dois sabemos o que acontece se eu mostrar a verdade. – Falo olhando para ele de forma desafiadora.

-- Você não precisa provar nada a ninguém. Você não precisa de ninguém.

Eu sou meu refugio e meu próprio confidente, mas tudo fica bem mais fácil quando não se sente sozinho, então eu o criei. Breno é a minha loucura mais sensata. Eu converso com ele quando não sei o que fazer e me sinto perdido e ele sempre tem algo bom a ser dito, mas eu sei que ele não está aqui, não de verdade, ele só é uma ilusão.

-- Eu dependo deles Breno. Dependo que acreditem em mim, ou tudo o que eu faço será arruinado.

A porta do banheiro se abriu.
Breno desapareceu.

*********

(2011-noite de segunda feira)

Eu tinha três deles para me preocupar e isso me deixou mais aliviado do que minuto antes. Seria mais fácil, agora, fugir, me esconder e pega-los de surpresa sabendo que estavam em um numero menor.

Ainda pelos corredores eu andava a passos cuidadosos, o medo se foi, eu me sentia pronto para qualquer coisa.
Eu estava caçando agora e era uma boa sensação. As imagens de Breno caído no chão coberto de sangue aos poucos iam se distanciando e dando espaço para as outras imagens, aquelas com as quais eu me preocupo hoje em dia. Eu ainda podia ouvir o barulho do aparelho celular ao se chocar contra a
a cabeça do Matheus, lembro do meu coração acelerado e da respiração incontrolável e por fim a satisfação. Sim. Eu fiquei muito satisfeito em saber que tinha eliminado o perigo. A adrenalina, a sensação de que nada podia me deter.
Respirei fundo.

Quero sentir aquilo novamente. É bom. É poderoso. Avassalador.
Poder decidir se ele morria ou vivia, ter todo aquele poder foi magnifico.
Balancei a cabeça tentando afastar os estranhos pensamentos que me vinham a mente. O que eu fiz foi errado, muito errado, eu devia estar em pânico, eu devia estar assustado.

Não.

Não havia medo, ou remorso, não havia nada além da vontade de repetir aquilo com os outros. Eu gostei do que fiz e queria fazer novamente.

Eu me tornei uma pessoa terrível.

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