capítulo 14

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(2021)

-- onde está a sua noiva? – Pergunto para Caio, quando paramos no sinal vermelho de um cruzamento movimentado.

-- Alicia esta nos esperando no baile. Ela decidiu ir na frente com o Calebe para dar um tempo a nós dois.

Franzo a testa.

-- Não precisamos de um tempo.

-- Só achamos que seria melhor ir com calma com a sua chegada. – Ele tem um semblante divertido, mas está falando serio. – Você ficou longe por dez anos e... Talvez não fosse muito bom um aglomerado de pessoas indo pegar você no hotel.

-- Vocês são apenas três pessoas, não devem se preocupar com algo assim, daqui a pouco eu realmente estarei cercado por um aglomerado de pessoas.

Ele fecha a cara e me olha preocupado.

-- Você esta bem com isso?

Eu rio.

Eu sei o motivo de sua preocupação. Depois de tudo o que aconteceu, eu não consegui seguir minha vida da forma normal, tive problemas com lidar com multidões, problemas com a família, problemas com todo tipo de pessoas. Todos que se aproximavam eu considerava ser perigoso. Ainda hoje eu vivo muito na defensiva, meus amigos me dizem que eu devia relaxar um pouco, mas não é tão simples. Foram inúmeras sessões de terapia até que eu aprendesse a conviver novamente. Contudo, agora eu estou bem, superei toda a parte difícil e me reconstruí.

-- Eu não vou tentar matar ninguém.

-- Mas vai se sentir confortável?

-- Sim. – Definitivamente não. – Vai ser bom rever todos os idiotas de Benjamin Hills.

********

(2011-noite de segunda feira)

Eles continuaram tentando quebrar a portas aos chutes enquanto eu corria de volta para onde estava o Caio. Com muita dificuldade eu o arrastei pelo corredor em direção ao anfiteatro. Não foi a coisa mais fácil de se fazer, Caio era pesado e eu quase não tinha forças para aguentar o seu peso, as batidas na porta ecoavam pelos corredores e servia como combustível para que fizesse aquilo depressa, quanto tempo mais aquela porta suportaria?

Cheguei ao anfiteatro em poucos minutos, mas a esta altura o barulho já havia sessado, o que poderiam estar tramando? Repentinamente um forte estrondo quebrou o silencio, um barulho de batida forte. A buzina do veiculo tocava frenética e imediatamente eu soube o que fizeram.

Arrombaram a porta com o carro.

-- Estão aqui dentro. – Falei para mim mesmo apressando meus passos.

Levei Caio até o camarim, e o deitei sobre papelões. O ferimento não sangrava como antes, mas ainda era um grande problema, ele continuava gelado, mas respirava e isso era um bom sinal. Cobri-o com um sobretudo empoeirado, que encontrei por ali, eu tinha de deixa-lo aquecido.

Andei de um lado ao outro tentando pensar em algo, agora eles estavam lá dentro e eu não tinha nada. Droga, droga, droga. Alguns minutos se passaram e nenhuma ideia me veio à mente, eu teria que improvisar e isso não seria difícil. Respirei fundo, tomei coragem e sai do camarim com cuidado e fechei a porta logo depois, eu não queria que nenhum deles encontrassem o Caio.

O camarim ficava atrás do palco, sendo assim eu tinha de passar pelas cortinas vermelhas para chegar as cadeiras e depois a porta de saída, mas não foi necessário eu andar muito para encontrar um deles. Assim que abri a cortina para sair do palco me deparei com Matheus segurando o seu celular enquanto filmava o local. Ele tinha essa péssima mania de querer documentar tudo e esta devia ser a sua experiência mais excitante então não perdeu tempo.

Ele me viu e seus olhos se arregalaram, sua surpresa foi tamanha que o celular quase caiu de sua mão. – Matheus era um tanto desastrado. – Ele se virou sem pensar duas vezes e começou a correr na direção da porta, eu sabia que iria chamar os outros e isso eu não podia o deixar fazer. O alcancei com facilidade e joguei todo o peso do meu corpo para derruba-lo. Caímos entre os bancos e eu tentei bater nele, mas ele me empurrou para longe com uma força que nem mesmo eu sabia que ele tinha. Bati as costas em uma das cadeiras, que eram fixas no chão, mas não doeu como eu pensei que doeria. Ele se levantou e se preparou para correr, mas antes de dar o primeiro passo desesperado eu chutei suas pernas e ele voltou para o chão. Tateei sem querer o seu celular que em algum momento caiu por ali e o segurei firme enquanto montava sobre o meu inimigo que tentava se livrar de mim.

Ele gritou por socorro uma vez e eu sabia que se eles ouvissem saberiam onde eu estava. Ele começou a gritar uma segunda vez, mas antes que terminasse a palavra – Soc... – Acertei a sua cabeça com a quina do celular. Ele se calou imediatamente, mas continuava se debatendo, continuava respirando, continuava vivo.

Bati uma segunda vez, e outra, e outra, e outra. O aparelho começou a se quebrar conforme desfigurava a sua carne e afundava em seu crânio. Parei de bater quando seu corpo ficou imóvel e os estilhaços rasgarem a pele da minha mão. Larguei o celular destruído ali próximo e vi o sangue se espalhando pelo chão. Ele ainda respirava. Sai de cima dele, minha mão sangrava, parte daquilo era meu sangue a outra era de Matheus. O machuquei muito, muito mesmo e poderia terminar de mata-lo ali mesmo, mas não tive coragem de continuar.

Não ainda.

Cafeína Where stories live. Discover now