Social Network [short] + hs

dois

Estamos todos hospedados no mesmo hotel, todos dormem, o dia foi exaustivo.

Minha barriga ronca e me irrito. Sério? Fome?

Eu poderia ligar para o serviço de quarto mas Sarah, Hélèna e Clare, dividem o quarto comigo e não quero acorda-las.

Visto meu roupão tentando fazer o menor barulho possível para não acordar elas e saio do quarto pisando leve.

Estou caminhando pelos corredores do hotel que é absurdamente grande e luxuoso.  Viro alguns corredores a procura do elevador. Será possível que eu esteja perdida? Chegamos tão fácil do elevador para o quarto. Me irrito comigo mesma por não ter prestado atenção no caminho quando chegamos aqui, mas estava interdita pensando no meu parceiro para o torneio.

Eu não conhecia ninguém nos futuros destinos da tour e não poderia ser ninguém de equipe, porque todos já tinham pares e graças a Sarah teria que ser algum desconhecido e que jogasse bem ping-pong.

– Aiiiiii – gemo de dor ao trombar com alguém nos corredores.

– Desculpa – um rapaz me olha aflito. – Eu te machuquei?

– Não – nego ajeitando o roupão. – Eu não estava prestando atenção por onde ia. Sou eu quem te deve desculpas.

– A gente pode dividir a culpa – ri.

Ele é alto. Quase tanto quanto o Harry. Seus cabelos meio loiros estão bagunçados mas formam um perfeito topete. Ele está usando apenas uma camiseta branca e uma samba canção azul clara. As pessoas podem andar assim por aí? Sua pele branca e olhos azuis brigam com as cores da sua roupa de forma perfeita. Ele é incrivelmente bonito. Pelas roupas e dada a hora suponho que ele também seja um hóspede.

–  Indo para a recepção? – pergunto.

– Voltando - ele sacode um saco de papel branco que aparenta ter bolinhos dentro, e que eu não havia notado até então que ele segurava.

– Achei que como forma de redenção você pudesse me levar até um dos elevadores. Eu estou meio que... – pigarreio. – Perdida.

– Se você está atrás de comida é melhor nem achar esse elevador.

– Como? Porque?

– Parece que há uma festa no salão de entrada, algum famoso ou algo do tipo e tudo que há além de bebida são esses bolinhos.

– Merda! Espero que não seja o meu famoso – resmungo.

– Seu? – ele franze as sobrancelhas em curiosidade. – Se você me explicar essa história eu divido meus saborosos bolinhos com você.

(...)

– Legal, então é só isso? – estamos sentados lado a lado no chão em frente à porta do meu quarto.

– Não é tão simples quanto parece. – digo desafiadora, tentando proteger minha profissão. – Dependendo do que está acontecendo lá agora, eu terei muito trabalho para esconder as coisas depois.

James ri e coloca mais um bolinho na boca. O acompanho comendo mais um dos bolinhos.

– Então, como você entrou nessa? Quando começou a fazer isso por dinheiro? – James pergunta.

– Comecei bem nova – termino de mastigar o bolinho e continuo. – Quando criança eu queria ser escritora, mas acho que escrever coisas grandes não era o meu dom, então abandonei os livros na adolescência e comecei a trabalhar para um blog de moda e vida adolescente – ele  me olha encantando, parece mesmo interessado. – Bem, não era um trabalho, era mais aprendizado. Eu não tinha salário ou algo do tipo mas eu adorava.

– É legal fazer o que gosta.

– Uhum – concordo. – Isso me abriu varias portas, sabe? Larguei esse trabalho por um emprego numa revista. Foi quando comecei a entrar nesse negócio de mídias sociais. Esse tipo de profissão não era muito comum e eu me especializei nisso. Faculdade de Marketing Digital e cursos relacionados. E foi assim que  eu conheci a Tess Ward num evento.

– Quem? – seu semblante é vazio, claramente ele não faz ideia de quem a Tess é.

– Você acabou de fazer parecer que meu trabalho não é bem feito. – solto um riso.

– Não – ele se apressa. – Não, espera... Você trabalhou para ela?

– Meio que sim – dou de ombros. – Ela é uma blogueira de culinária e seu blog estava crescendo. Eu só garanti que não houvessem postagens ruins. Sabe, as vezes as pessoas falam sem pensar e os seguidores distorcem um pouco as coisas. Tess morria de medo disso e eu ajudei.

– Ah, entendi. Realmente esse mundo parece loucura!

– Sim. Quando você tem milhões de seguidores e é daí que vem seu dinheiro, bem, você entende a importância do que eu faço.

– Desculpe se eu fiz parecer que não tinha nenhuma importância - ele se desculpa rápido e timidamente.

– Não fez – digo. – E eu comi a maior parte dos seus bolinhos, então relevaria se você tivesse – rimos.

– E então, como chegou ao Harry? – ele pergunta depois de um tempo que ficamos em silêncio apenas olhando a parede branca em nossa frente.

– Tess nos apresentou. Eles têm amigos em comum e ela meio que já não precisava de mim.

– Legal.

– Não muito – discordo. - Um dos meus primeiros trabalhos foi encobrir um boato de que os dois estavam namorando.

Ele ri e sua risada é tão gostosa que me faz rir junto com ele.

Ouço passos e risadas no corredor e nos viramos em direção ao som. Harry vem caminhando lentamente, seus olhos estão baixos e reconheço logo que ele bebeu um pouco.  A risada da loira que o acompanha é estridente e irritante. Harry remove o braço que envolvia o pescoço da garota assim que me vê.

– Hey, hey! – ele canta no ritmo de Olívia, ergo meu dedo do meio e ele mostra a língua como resposta.  Harry parece um pouco envergonhado, talvez ele não esperasse me encontrar ali. – Não está meio tarde?

– Lanche da noite – sorrio balançado o saco de bolinhos que agora estava vazio.

– Eu te acompanharia mas... – ele aponta com a cabeça para a loira ao seu lado e ela o puxa para perto dela.

– Sem problemas – sorrio. – Eu tenho companhia.

James acena para eles e Harry o olha intrigado por uns segundos e depois sorri.

– Bem... – Harry pigarreia e abre a porta do seu quarto. – Acho que até mais...

– Até... – James e eu respondemos juntos.

Harry adentra o quarto com a garota e eu e James nos encaramos.

Sinto raiva. Muita. Novamente. Mais uma garota estupidamente fútil.

– O que você vai fazer daqui há algumas semanas? – pergunto rápido.

– Sem planos. Estou viajando pelo país.

– Sabe jogar ping-pong?

– Sim – ele tem um olhar interrogativo.

– Que tal participar de um torneio comigo?