O Garoto no Esquife de Vidro

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Não poderia ser verdade. Era tudo um sonho. Um terrível e horripilante sonho. Um pesadelo o qual Lorenzo iria acordar a qualquer momento. Ele começou a se beliscar repetidas vezes na esperar de se encontrar ainda em sua cama e nada daquilo ter acontecido de fato, mas era verdade. Seu pai iria se casar com a rainha Millicent Nieves, a culpada pela morte de Blanche Nieves. Mesmo depois de revelar quem ela era, Ambrose insistiu em não acreditar no filho e agora iria se casar com ela.

      Aquilo não poderia estar acontecendo.

      Lorenzo estava atordoado demais para reagir, em meio a tantos aplausos e elogios de todos os presentes na mesa. Ambrose e Millicent ainda estavam de pé, agradecendo a recepção da corte à notícia. Como as pessoas poderiam celebrar algo tão terrível como aquilo, principalmente depois de ouvirem que Blanche Nieves estava morto? As pessoas eram tão insensíveis assim? Uma pessoa morrera, mas tudo o que queriam saber era do casamento entre seu rei e a rainha de Misthezan. Lorenzo estava paralisado, tentando processar tudo. Millicent seria sua madrasta em uma semana. Como seu pai pôde ser tão burro ao escolhê-la como esposa?

      Assim que os aplausos cessaram, os noivos se sentaram em suas cadeiras e Lorenzo pôde ver Millicent lhe encarando, com um sorriso gentil, mas ele conseguia sentir a malícia por trás daquela atuação de boa rainha. Ela estava tramando algo. Conseguia sentir dentro de si.

      Ambrose pareceu ter notado uma certa tensão no garoto, pois assim que se sentou, perguntou ao filho:

– Está tudo bem, Lorenzo? – Ele percebeu que o filho tinha o olhar cravado na rainha. – Eu sei que eu deveria ter falado contigo antes, mas certas situações demandam medidas drásticas.

– Saiba que não estou tentando ocupar o lugar de sua mãe. – Disse Millicent. – É tudo diplomacia, mas espero que possamos nos tornar uma família.

      Lorenzo ficou confuso. Como era tudo diplomacia?

– Veja – Murmurou Ambrose. –, foi anunciado um casamento entre dois reinos, mas ainda não tínhamos contado quem eram os noivos, queríamos ter a certeza da recepção das pessoas, mas quando recebemos as notícias sobre o príncipe Blanche, precisamos dar um jeito na situação.

– Se casar com ela?

– Meu filho, entenda o nosso lado, todos nos beneficiamos: nós garantimos uma união entre Misthezan e Gwindelth, evitando uma nova guerra e a rainha Millicent se torna finalmente a rainha de seu reino natal.

– Como assim?

– Vossa majestade apenas se tornou rainha de Misthezan provisoriamente porque o príncipe ainda era apenas um bebê quando seus pais morreram, mas ela só poderia se tornar rainha definitiva de seu reino, San Gynil, por meio de um casamento, mesmo sendo a próxima na linhagem real. Todos nós ganhamos.

– E-ela vai governar três reinos?

Nós iremos. – Corrigiu. – Com esse casamento, seremos reis de três reinos e se não conseguirmos gerar um novo herdeiro, você será o próximo rei de tudo.

      Lorenzo travou na cadeira. Ele finalmente conseguiu entender tudo. Era tudo pelo poder. Millicent queria dominar o máximo de terras que pudesse. O casamento com seu pai era apenas um meio de facilitar tudo.

      Um novo herdeiro.

      Aquelas palavras ecoaram na cabeça do príncipe. Ele era herdeiro do trono de Gwindelth que seria sua por direito, mas Misthezan e San Gynil seriam de um novo possível herdeiro. Mas, se, por acaso, Lorenzo morresse, Gwindelth passaria ao próximo na linha de sucessão, ou seja, o novo herdeiro. Millicent poderia matar o futuro enteado em ordem de conseguir ter poder absoluto sobre três reinos. O sangue de seu sangue garantiria o sucesso de seu plano. Primeiro, Blanche morreu, o que deixava Misthezan sem sucessores, exceto pela Rainha Má. Estava tudo bem debaixo do nariz de todo mundo. Millicent estava sedenta pelo poder.

Os Reinos Ligados pela Floresta: Blanche (Branca de Neve)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora