02. mensagens safadas

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Não consigo me lembrar de sequer um momento em que Adam Kane não estivesse presente em minha vida

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Não consigo me lembrar de sequer um momento em que Adam Kane não estivesse presente em minha vida. Fosse nos momentos mais simples como quando passávamos tardes um na casa do outro jogando videogames, até nos mais complicados, como quando meu pai resolveu que seria legal se candidatar a prefeito de Hanover e enlouquecer todo mundo dentro de casa. Essa foi a época em que eu passava mais tempo na casa dos Kane do que na minha própria, meu pai só requeria a minha presença quando era necessário para passar a imagem de família perfeita para a comunidade, e a minha mãe só faltava estrangulá-lo por conta da pressão que ele trouxe para casa com essa novidade.

Somos um para o outro os irmãos que nunca tivemos a oportunidade de ter, já que Adam é filho único e o meu único irmão mora na Califórnia com a mãe e só vem nos visitar no verão, quando está de férias na faculdade. Não vou negar de que é bem legal quando isso acontece e que sou muito grato por ter Theo, mas é Adam quem esteve comigo por todos esses anos.

E é por este motivo que mal consigo me olhar no espelho depois de espionar a namorada dele – pela qual estou inegavelmente apaixonado – por de trás da cortina do meu quarto todos os dias de manhã. Agora, por exemplo, ela está gritando com o irmão mais novo, Logan, porque o mesmo não se importou em ir ligar o carro para mantê-lo aquecido, e agora terão de ir o caminho todo até a escola no frio.

A expressão de Logan de quem está se importando muito com o monólogo nervoso da irmã é o gatilho que faltava para deixar a gargalhada que eu estava prendendo desde o segundo em que ela começou a gesticular, escapar de forma exagerada. E é o suficiente também para que Louise pare o que está fazendo para olhar para cima, mais precisamente para a minha janela.

Exibo um sorriso arrogante olhando para a garota com roupa de inverno parada no gramado parcialmente coberto de neve da casa ao lado, e vejo a sua expressão ultrajada se transformar em uma raivosa. Não fico surpreso ao constatar que Louise Scott está exibindo o seu dedo do meio com todo o orgulho para todo mundo que estiver disposto a ver. Minha gargalhada recomeça ao mesmo tempo em que ouço a porta do Honda velho bater e o barulho horrendo do motor reverberar pelo ambiente. Desconfio de que o carro velho de Louise é capaz de abrir um buraco de tamanho considerável na camada de ozônio apenas rodando por Hanover durante um dia. Aquela coisa solta mais fumaça do que doze usinas juntas.

Ainda rindo um pouco, trato de terminar de me arrumar o mais rápido possível para que dê tempo de tomar pelo menos um café e de comer alguma coisa decente com calma.

Com o fim da temporada de futebol, posso finalmente dormir até depois das cinco da manhã sem ter de levar sermões do treinador Cooper por estar atrasado para o treino só por ter parado por cinco minutos para tentar colocar algo no estômago antes de sair de casa. Não me leve a mal, eu adoro futebol e tenho muito orgulho da posição de respeito da qual eu ocupo, mas acordar antes do sol quase todos os dias para ganhar alguns hematomas antes que eu possa assimilar algo, não é nem de longe a coisa mais legal do mundo.

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