#5 O Ladrão de Galinhas

72 11 0
                                    

Araceli recuou e ele aproximou-se:

- Estive a pensar no que disseste antes... As galinhas são seres vivos, mas... as cenouras também. Para ser considerada ser vivo, tem de respirar, alimentar-se, reproduzir-se, crescer e morrer! Todas as opções acima são feitas pelas verduras e vegetais que comes.

A rapariga evitou sorrir e cruzou os braços:

- Tens razão.

- Ou seja, és uma assassina do mundo biológico tal como eu. - Sorriu ele com alguma diversão.

- Vieste apenas insultar-me ao meu quarto? Ou a tua visita tem mais algum propósito?

O rapaz pareceu corar um pouco e apresentou-se:

- Eu sou o 17. Queria apenas... deixar claro que não sou apenas um ladrão de galinhas.

Araceli sentiu o coração pular ao ouvir o número dele. As histórias que ouvia da sua infância recordavam-na do Amor inesquecível entre o Guerreiro e a Princesa de Mickri. Sem dar por si mesma, pegou no pulso dele e viu a tatuagem "17.17R"

- Que significa o R? - Perguntou ela de sobrolho franzido.

- O... R??? Consegues vê-lo? - Ele parecia surpreendido e levantou ligeiramente a sobrancelha com a novidade.

- Sim, está bem aqui. - Apontou ela.

O jovem 17 pareceu ficar hipnotizado por ela, o toque de Araceli acelerava os seus batimentos cardíacos e o olhar verde água dela penetravam-no como se procurasse todos os seus segredos mais obscuros.

- Estás a ouvir-me? - Ela continuava admirada com o olhar dele.

- Estou. Desculpa... Normalmente as pessoas só veem os números.

- Só os números? Isso significa que consegues ver mais alguma coisa além disso?

- Sim. Todos somos marcados com o número de família e número de nome. Depois temos o nome dito normal que só é revelado quando...

- Se tem a eterna confiança de alguém. Entendo! Então... isto significa que és da família 17.

- Sim.

- Porque tens o número de nome igual ao da família?

- Porque fui o 17º filho a nascer. - Sorriu ele ao encolher os ombros.

- E o R suponho que seja o teu nome "normal". Espera! O teu pai era Guerreiro de Oberon? E a tua mãe era... princesa de Mickri?

17 perdeu o sorriso e colocou as mãos nos bolsos com curiosidade:

- Como sabes disso?

- Eu... eu... - Araceli estava muito confusa e desconcentrada, a atração que sentia pelo jovem desconhecido era cada vez maior. Ele era fruto do amor que a enfeitiçava. - Tenho de descansar. Está a fazer-se tarde e... amanhã...

- Estás a tentar inventar uma desculpa para te livrares de mim? - A diversão voltava ao olhar dele.

- No meu planeta, não é bem visto um rapaz e uma miúda ficarem sozinhos tanto tempo no quarto dela. - Disse ela com um olhar cortante.

- E qual é o mal? Tens medo de não me resistir? - Piscou o olho.

Araceli revirou os olhos e empurrou-o com força, visto que ele estava quase sobre si.

- A tua irmã disse-me que és meio doido. Por isso, vai embora antes que tenha de apresentar uma queixa oficial ao teu rei. Um Guerreiro Oberiano não devia andar a namoriscar com qualquer miúda.

- Eu não estou a namoriscar qualquer miúda. Estou a namoriscar-te a ti...

Araceli ficou corada de novo e olhou para o chão embaraçada:

- Porque raio estás a dizer isso?

- Porque é a verdade. Sei que... não me é permitido escolher quem amarei o resto da vida, mas... hoje encontrei-te. Eu sinto que és a minha escolhida!

- Escolhida como... em Amor Mickritiano? Do género: para sempre? - Araceli parecia não conseguir respirar debaixo daquele olhar tão bonito e cativante.

- Se fizer um grande ato heroico... Vou buscar-te à Terra. Prometo!

17 aproximou-se dela, deu-lhe um demorado beijo na bochecha e ao afastar-se deu-lhe uma flor brilhante que começou a reluzir quando Araceli lhe tocou. O jovem entrou no seu transporte futurista e desapareceu.

- Como vou contar isto aos meus pais? - Pensou ela em voz alta. - Eles vão matar-me!

...

16 bateu à porta com um sorriso largo e bonito. Os seus olhos eram únicos! Junto à pupila eram quase rosa e a cor ficava quase roxa ao afastar-se do centro do seu olhar. Os seus cabelos platinados eram compridos quase até às ancas e usava tranças muito bem decoradas com flores que combinavam perfeitamente com as suas roupas elegantes.

Araceli abriu a porta e parecia desconfortável. 16 semicerrou os olhos e perguntou:

- Que bicho te mordeu?

- Não aconteceu nada!

- Não? Porque essa tua observação só me faz desconfiar mais. Tens noção que se vamos às compras, eu vou descobrir o que se passa, certo?

- Eu... recebi uma visita no quarto. - Suspirou ela.

- Uma visita? No quarto? Era uma visita aborrecida ou uma picante? - 16 piscou o olho.

- Nem uma nem outra... Parece que... o teu irmão está interessado na minha pessoa.

- O 17? Interessado em meninas? - Riu-se com uma gargalhada engraçada – Estava a ver que o dia não chegava! Deve ter batido com a cabeça, só pode! Normalmente o 17 só fica interessado por lutas, roubar coisas na cozinha e andar com o ignorante do amigo dele.

Araceli não respondeu e olhou para o pulso da amiga que gesticulava a história de como os dois rapazes tinham ficado amigos eternos. Sem controlar-se, murmurou:

- Vi o R.

- ... O que disseste? Não percebi.

- Vi o R no pulso do teu irmão, que significa isso?

16 não respondeu e pareceu ficar em sentido. Olhou para o chão muito pensativa e voltou a olhar para Araceli com um sorriso tímido:

- Parece que... vamos ser família!

- Co-como???

- Aqui vai: o meu nome é Tonya, sou a 16ª filha de...

Araceli calou a amiga:

- Estás doida? Só nos conhecemos hoje! Como posso ter a tua confiança eterna?

*****

Estes Oberianos são malucos!

17.17 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora