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Vicente

Kassandra. Ela estava de volta. Mais velha, madura e mais bonita. Dizer que eu não fiquei com raiva dela naquela época seria uma mentira.

Ela e eu éramos inseparáveis. Desde crianças fugíamos do sítio quando ninguém estava vendo e íamos brincar no campo, no estábulo, no balanço que meu pai tinha feito para Debh.

Nos beijamos pela primeira vez na piscina de casa, aos quinze anos. Naquela mesma noite pedi para ela namorar comigo e juramos ficar para sempre juntos.

Para a família tinha sido um susto. Claro! Éramos primos. E cinco anos depois casados, dois anos mais tarde estávamos quase, eu disse quase, sendo pais.

E então eu descubro da pior forma que minha mulher estava me traindo com o seu estagiário. Um funcionário da empresa, da minha empresa.

Naquele dia eu não tive reação ao vê-la entubada.

"Senhor, infelizmente o bebê que sua esposa estava esperando não resistiu."

O meu mundo foi destruído ali. Eu achei que não poderia ser pior.

O que eu diria para Kassandra? Esperávamos tanto por Filipe. O nosso menino.

- Kassandra, por favor, por favor! Nós podemos tentar outra vez, podemos ter outro bebê! Não vamos esquecer nunca do nosso filhinho.

- Cadê o André? Onde está o André!? - Ela ainda não me olhava nos olhos.

- Ele... ele morreu. - Kassandra balançava a cabeça negativamente e recuava quando eu tentava abraçá-la. - Sinto muito, meu amor.

- Não, não, não! Ele não pode me deixar, eu preciso do André! Eu quero ver o André! ANDRÉ!

Naquela noite, após Kassandra surtar, eu descobri toda a verdade. Então sem esperar nada, entrei na casa da minha avó, o sítio do meu avô, peguei tudo o que cabia no meu carro e fui embora.

Na época, minha mãe e meu pai também estavam se separando, porque o mesmo preferia o trabalho. Demorei alguns meses para dar notícias por completo.

Mas quando me estabilizei em São Paulo, decidi dar continuidade na minha vida. Trabalhei duro, eu pretendia ter o meu próprio negócio, começar do zero.

Só não esperava que meu pai entregasse sua maior empresa nas minhas mãos, sete anos depois. Demorei para aceitar, sim. Eu era um covarde.

No começo achei que eu iria falir a empresa, mas daí minha irmãzinha Débora chegou do Canadá e me salvou. Ela me ajudou a reerguer a empresa e triplicar a nossa fortuna, já que nosso pai largou tudo para ir casar com uma mulher vinte anos mais nova, em Roma.

Hoje, Débora é modelo e tem parte da empresa, enquanto mantive todos os funcionários do meu pai, eles eram de confiança. Meu pai só ordenou, isso mesmo, ele ordenou que eu não ousasse demitir a sua secretária pessoal (agora minha) sem falar primeiramente com ele.

Eu logicamente quis saber o por quê. Ele apenas me disse que sabia da sua história e ela apesar de não ser do mesmo sangue, era a filhinha dele.

Quando coloquei meus olhos em Samantha, algo dentro de mim aqueceu. Ela com o seu jeito meigo e desastrado me conquistava cada vez mais.

Dois anos depois, eu ainda não tinha nem sequer virado amigo dela, porque amigo seria a última coisa que eu queria ser de Samantha. E claro, ela ainda era a protegida do meu pai.

Só que eu estava cansado de ser refém dos meus próprios medos.

****

Depois da volta de Kassandra, eu tive muito medo, tinha medo de ainda sentir algo por ela.

E depois daquele beijo. Aquele maldito beijo.

A única coisa que eu estava sentindo por Kassandra era raiva. A raiva que eu não senti. A raiva por vê-la tentar me afastar da mulher que eu amo.

Mandei que ela procurasse outro lugar pra ficar, pelo menos até Samantha e eu irmos para casa.

No momento que ela me puxou para o beijo, Samantha estava na varanda. Eu queria correr e abraçá-la, mas nós dois tínhamos que ter o nosso tempo. Então peguei o alazão e comecei a correr em direção ao lago, onde nós nos beijamos, e onde eu também descobri que ela sentia algo por mim.

Fiquei por lá até anoitecer. Até ver um táxi chegar na porta de casa. Imaginei que Kassandra estivesse saindo de lá.

Então eu iria contar a verdade para Samantha, eu iria dizer que eu a amo. Só não contava que quem estava partindo era ela.

Samantha. A minha Samantha.

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CEO- O ACORDO (Concluído) Sem RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora